Elis nunca foi uma. Também nunca foi duas, apesar do Regina. Foi a Elis de várias, como o alcance de sua voz, de alta frequência, longe de abrigar-se em si. Explodia, dificilmente despercebida. Elis marcou, viveu na história. E ao contrário do que se possa imaginar, em pouco tempo de vida (os injustos 36 anos que a levou embora), deu carga a todas que era, ou ainda é. Para quem a descobre, no meu caso, última quarta, quando soube que precisaria mergulhar em seu universo, não a esquece jamais. Todas as fases de Elis, em flor, muito mais que em carne.

Antes ou depois das músicas, vai depender da ordem dos encontros, alegrou-me saber: era moda. Foi o próprio estilo, Elis por Elis, que gostava de trocar de roupa - e cabelo - como trocava de alma - viveu muitas em uma só. "Elis Regina gostava de moda. Foi moda. Era filha de uma costureira", conta Ricardo Bessa, professor de História da Moda, mestre em Moda, Cultura e Artes. Os primeiros anos, segundo ele, vestiu-se segundo o gosto de sua mãe: muitas rendas, babados e rendas. "Eram os costumes da época nas tradicionais famílias", completa.

Ora com cílios tudo, ora com sobrancelha nada, Elis seguia as tendências, como também ia de um extremo ao outro. Ricardo diz ainda: "Seu estilo começa a ser marcante não só pelo alcance vocal e a coreografia de braços pulsantes, mas pela maneira de vestir-se e pentear-se: vestido tubinho e cabelo beehive (colmeia)", famoso na época. Quando conheceu Dener Pamplona de Abreu, em 1967, veio a virada de página, com vestido de noiva e figurino assinado pelo estilista - autointitulado precursor da "alta costura" brasileira. "Com a consagração de sua carreira, Elis fica conhecida como 'Pimentinha' e seu estilo é marcado novamente pelos cabelos curtos", atribui às mudanças. Para Bessa, Elis ainda repercute. "Como um diamante, é eterna".