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Elis: a coragem de ser
Vida & Arte

Elis: a coragem de ser

Edição Impressa
Tipo Notícia

O ato de cantar é um ato de coragem. Cantar é a exposição extrema de si mesmo, que exige generosidade e determinação. O mergulho público nos significados de uma canção revela, ao mesmo tempo, essas três qualidades do sujeito: coragem, generosidade e determinação. Elis Regina esbanja tais qualidades em sua obra e por isso sua música tornou-se um referencial, um paradigma.

Elis, saindo da adolescência, tornou-se repentinamente a maior personalidade da televisão nacional comandando o (programa) O Fino da Bossa. É necessário entender que naquela época os programas de auditório, gravados com a presença de plateias, bem como os festivais de música, se assemelhavam aos chamados "shows de realidade" que hoje existem na televisão brasileira.

Elis teve a coragem de assumir o comando: de um programa de televisão, de sua própria carreira e de sua própria vida. Não se curvou diante das pesquisas mercadológicas das gravadoras, não cedeu às tentações do sucesso fácil. Tal postura talvez nos leve a entender as razões que fazem da obra dessa mulher algo tão presente na vida brasileira. Nos momentos menos esperados surge, sempre, a pertinência de seu canto, sua força.

Elis, a impertinente. Sua pertinência, sua entrega inconformada, pode ser percebida em suas interpretações. Doce ao cantar a doçura, cortante ao enunciar a revolta. Verdadeira em sorrisos e lágrimas expostas na televisão, Elis Regina simplesmente é, verdadeiramente, Elis Regina.

Elvis de Azevedo Matos é professor de Música da Universidade Federal do Ceará

 

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