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Livro quer contar histórias da linha Papicu-Antônio Bezerra
Vida & Arte

Livro quer contar histórias da linha Papicu-Antônio Bezerra

Uma linha de ônibus da Capital é o ponto de partida de um relato que costura histórias de motoristas, cobradores, passageiros, vendedores e da própria Cidade
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Autor propõe novos ângulos e interpretações para as vivências compartilhadas em um transporte coletivo (Foto: fotos Alexandre Valério)
Foto: fotos Alexandre Valério Autor propõe novos ângulos e interpretações para as vivências compartilhadas em um transporte coletivo

O deslocamento entre os terminais de ônibus do Papicu e do Antônio Bezerra revela as particularidades de uma Cidade em constante movimento. Pelo lado de fora da janela, centros comerciais, escolas, universidades, residências. Pelo lado de dentro, muitas histórias a serem contadas. Assim como para os milhares de passageiros que utilizam diariamente a linha de ônibus que liga os dois importantes terminais, a vida do jornalista Alexandre Valério em Fortaleza criou raízes pelo caminho desta rota. De sua autoria, 028: Antônio Bezerra, Papicu e outras histórias retrata vidas e narrativas que embarcam em uma linha de ônibus que acompanha a sua rotina há pelo menos 20 anos.

A ideia de escrever sobre a linha 028 surgiu em 2012, quando Alexandre decidiu criar o blog Janela Ambulante, em que passou a compartilhar suas vivências em Fortaleza e a experiência de trafegar em um transporte coletivo. "Quando cheguei ao fim do curso de Jornalismo na UFC, minha ideia era produzir um conteúdo humanizado e que contasse a vida de pessoas comuns. O que me chama a atenção em um ônibus é que ele reúne muitas histórias de diferentes pessoas que se cruzam por alguns minutos", analisa Alexandre. O jornalista é usuário da linha desde 1999 - seja para ir ao dentista, visitar familiares, ir ao shopping ou à universidade.

Reportagens, relatos de viagem, perfis, crônicas, contos e ensaios são o resultado de um trabalho que lhe custou muitas entrevistas e horas de viagens entre os dois terminais de integração, distantes cerca de 20 quilômetros um do outro. "Eu passei a trafegar nesse ônibus de forma mais intensa e a partir de maio de 2018 e minha principal fonte de dados foi a observação. Conversei com muitas pessoas, conheci muita gente, prestei atenção no comportamento dos passageiros nas viagens. Houve dias que fiz duas viagens completas entre os dois terminais, eram cerca de quatro horas dentro do ônibus", recorda. Todo o trabalho foi finalizado em junho de 2019, quando foi apresentado como trabalho de conclusão de curso de Jornalismo na UFC.

Enquanto realizava a pesquisa sobre a linha de ônibus, o jornalista também passou a conhecer de perto quem trabalha cotidianamente transportando os passageiros. "Comecei a acompanhar a rotina dos motoristas e a procurá-los nos intervalos dos lanches. Eu tinha 15 minutos para explicar meu trabalho e conseguir os seus relatos", lembra. O trabalho de pesquisa, para Alexandre, o fez encarar de forma diferente a própria dinâmica da Cidade. "Muitas vezes a nossa existência dentro de um ônibus é meio robótica, mas com a pesquisa eu passei a observar essas movimentações nos terminais de integração de forma mais atenta, perceber esses deslocamentos entre a periferia e o bairro "nobre", a diária busca pelo emprego e os encontros", narra.

Dividida em três sessões, a obra aborda o ônibus enquanto serviço, mas também o aspecto humano do transporte coletivo a partir das vivências cotidianas de seus passageiros - as conversas interrompidas pelas chegadas e partidas, os diálogos entrecortados pelas vozes de vendedores ambulantes e as pequenas crônicas do cotidiano. O livro-reportagem traz histórias de como motoristas escolheram sua profissão e suas rotinas; explica como a linha 028 surgiu e ainda discorre sobre a psicologia social desse aglomerado de pessoas que aguardam os coletivos todo dia.

Fotografias e ilustrações, inclusive um mapa de Fortaleza e dos terminais feitos à mão pelo autor compõem o resultado final de 028: Antônio Bezerra Papicu e outras histórias. Todo o design também foi planejado e desenvolvido pelo autor e é inspirado nas antigas placas de itinerário de ônibus, em amarelo e preto. "Esse livro me marcou pessoalmente, é a conclusão de uma fase da minha vida", resume Alexandre Valério. "Cada um de nós carrega uma angústia, dificuldade, sonho. Eu olhava para as pessoas no coletivo e pensava: quais seus sonhos, seus medos, incertezas? Será que estão felizes? Tudo isso me inquietava muito", descreve.

A fim de obter recursos e imprimir o livro, o autor optou por iniciar um financiamento coletivo na plataforma catarse.me. As doações podem ser feitas a partir de R$25, e, se a meta não for atingida, o dinheiro será devolvido integralmente para os apoiadores. A campanha segue até o dia 5 de abril, e é similar a uma pré-venda.

 

028: Antonio Bezerra Papicu e Outras Histórias, de Alexandre Valério
028: Antonio Bezerra Papicu e Outras Histórias, de Alexandre Valério

028: Antonio Bezerra Papicu e Outras Histórias

de Alexandre Valério

financiamento coletivo pelo link

www.catarse.me/linha028/ até 5 de abril

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