Completando vinte anos em 2020, Persépolis segue outro fato histórico: a Revolução Islâmica de 1979 que marcou a saída do Xá Reza Pahlevi e implantou um Estado religioso islâmico no Irã. Marjane Satrapi, que tinha apenas dez anos na época, vivenciou as mudanças do país nestes anos, tendo que colocar o véu, esconder seus interesses ocidentais e, mais tarde, ir para a Europa para terminar os estudos.
Por meio de quadrinhos de poucos detalhes, a autora demonstra suas perdas, suas escolhas e, o mais interessante, seus questionamentos sobre a moral e a ética em meio às mudanças do islã. É possível compreender os motivos que a levaram a fugir de seu país de origem e as dores
dessa decisão.
De alma e coração rebeldes, Marjane retrata seu trauma e memória. Segundo a ilustradora Débora Santos, esse é um dos pontos mais relevantes da obra. "Memória em si também é narrativa, então acho que essa ressignificação vem da maneira como a própria autora viu, em retrospecto, o que viveu. Para mim, esse quadrinho continua sendo uma história bem contada sobre, inclusive, o crescimento", explica. Quadrinista e fã da obra, Débora ressalta que Persépolis também é um exemplo de narrativa pelo encaixe das imagens e dos textos de forma única, utilizando todos os recursos, como balões e caixas a
seu favor.
Vivendo em Paris desde quando saiu pela última vez do Irã, Marjane escreveu dois spin offs de Persépolis, que também abordam suas memórias: Frango com ameixas, sobre histórias do seu avô, e Bordados, com relatos de das figuras femininas que passaram por sua vida.