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Moraes Moreira e Fausto Nilo dividiram canções e amizade
Vida & Arte

Moraes Moreira e Fausto Nilo dividiram canções e amizade

A afinidade por terem nascido em cidades do interior fez Fausto Nilo e Moreira dividirem mais do que grandes canções. Eles também partilharam uma amizade que durou muitas décadas
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Fausto e Moraes, uma amizade com mais de 40 anos de amor  (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Fausto e Moraes, uma amizade com mais de 40 anos de amor

Aos olhos de uma fã de longa data, entrevistar Fausto Nilo e Moraes Moreira, juntos, na terra natal do cearense, Quixeramobim, foi um marco bonito. Em meio à emoção de estar ali presenciando uma amizade tão sincera que já levava mais de 40 anos, não tive a lembrança de pedir uma foto. Mas guardo cada momento. A entrevista aconteceu pouco antes de a dupla de parceiros subir ao palco na praça principal da Cidade, durante a primeira edição da Mostra Sesc de Culturas no Sertão Central do Ceará, em julho de 2019.

Visivelmente emocionados, Moraes e Fausto fizeram um show daqueles. E, mesmo com mais de quatro décadas de amor e tantas músicas depois, eles nunca haviam feito um show todo juntos. Dias depois, foi a vez de a apresentação acontecer no palco do Cineteatro São Luiz em Fortaleza. 

Em 2014, o poeta Fausto Nilo, grande parceiro e amigo querido de Moraes, fez um bate-papo com o companheiro, publicado pelo O POVO. Fausto perguntou: "O que você mais aprecia na música popular do Brasil?", ao que o amigo respondeu: "Cara... A característica de cada lugar ter uma música. A Bahia tem a sua, Recife tem a sua, o Ceará tem a sua. Tem samba em todo lugar. Eu admiro essa integração maravilhosa. É uma diversidade muito grande".

A dupla compôs clássicos do cancioneiro brasileiro, como Pão e Poesia, Bloco do Prazer, Chão da Praça, Meninas do Brasil, Coisa Acesa, De noite e de dia, Eu também quero beijar (ao lado de Pepeu Gomes)... Músicas menos conhecidas, mas igualmente poderosas, são algumas como Eurídice, Pedaço de Canção, Que Papo é Esse (em parceria com Capinan), 1978 (Revolta) e a lista segue, para nossa sorte. Uma amizade longa, sincera e produtiva para música brasileira. Só agradecemos.

Na conversa com O POVO, na cidade de Quixeramobim, eles não souberam precisar, mas desconfiam que foi entre 1977 e 1978 quando conceberam a primeira música juntos, Prosando com Maria. "Ele ia gravar um disco na Som Livre e teve a ideia de fazer outra música. E esse disco acabou sendo a inauguração da nossa parceria", narrou Fausto. "Se não me engano, do total das músicas, tem umas seis que são minhas com ele. E, entre essas, fizemos Alto Falante, fruto dessas conversas comuns, de lembranças sertanejas - de cidade, não é rural. Das nossas conversas surgiu o Alto Falante, que é uma letra que usa expressões que, aqui (em Quixeramobim), pelo menos, eram muito usuais", conta o poeta. O letrista e arquiteto Fausto Nilo e o músico e ex-Novo Baiano Moraes Moreira ficaram amigos desde então.

"Eu saí dos Novos Baianos, onde eu tinha tudo arrumado já. Tava tudo arrumado na minha vida e, de repente, eu resolvi partir para o mundo, para uma vida individual. Aquela vontade que você tem, vindo de uma vida coletiva por muito tempo, tem hora que é preciso saber 'quem sou eu sozinho'. E nesse querer saber, eu encontrei esse amigo aqui, que virou um dos principais parceiros meus depois dos Novos Baianos", contou Moraes. 

Durante a entrevista no Quixeramobim, pode-se perceber a forma, digamos, complementar com que fluía o diálogo entre Fausto e Moraes. Eles puxaram na memória o primeiro encontro, quando Fausto já conhecia o trabalho dos Novos Baianos, mas não o Moraes pessoalmente, um dos fundadores e compositores do grupo. O encontro ocorreu numa noite em Botafogo, Rio de Janeiro, na casa do médico e ex-jogador de futebol Afonsinho (o Afonso Celso Garcia Reis), no fim dos anos 1970. "Craque revolucionário, que se revelou contra as malvadezas do futebol com os jogadores", define Fausto. Enquanto a dupla de futuros amigos conversava, deu um estalo quando descobriram que ambos nasceram em cidadezinhas do interior nordestino, sendo Fausto em Quixeramobim e Moraes em Ituaçu (na Bahia).

Moraes nos deixa, assim, com tudo cá cá cá na fé fé fé. Mas nada de acabou chorare. É sorrir e agradecer por tanta música bonita que o mestre nos presenteou. 

 

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