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Humanidade demasiada em "Má Educação", novo filme da HBO com Hugh Jackman
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

Humanidade demasiada em "Má Educação", novo filme da HBO com Hugh Jackman

|V&A Viu| "Má Educação", novo filme original da HBO, traz Hugh Jackman como protagonista de uma trama que fala de vaidade, poder, dinheiro e jornalismo a partir de um escândalo financeiro
Tipo Análise
Má Educação
Foto: divulgação / HBO Má Educação" parte de escândalo financeiro no sistema educacional norte-americano para falar de questões humanas

Assistir à Má Educação sabendo o mínimo de informações possível é uma experiência rica. Não exatamente pelo fato do filme ser pautado em grandes reviravoltas de trama ou surpresas arrasadoras - apesar de haver algumas dessas -, mas sim por conta de ser uma possibilidade mais plena de ter acesso a uma narrativa que vai se desvelando de modo envolvente, inteligente e bem construído. Em linhas gerais, porém, vale explicar que o filme dirigido por Cory Finley, escrito por Mike Makowsky e baseado em uma história real, mostra o desenrolar de um escândalo financeiro que se abateu em um distrito escolar de Nova York em 2002.

Logo de partida, o filme vai dando pistas de por onde caminhará, muito por conta do tom adotado. Há, logo na sequência inicial, um ar de grandiosidade marcado por ironia, artificialidade, subversão. O longa abre com uma comemoração do distrito escolar de Roslyn por ter conseguido alcançar o quarto lugar no ranking de resultados geral. O nome do momento, responsável pela marca, é o do superintendente Frank Tassone (Hugh Jackman em interpretação respeitosa e complexa). Retratado como um homem extremamente vaidoso, socialmente hábil, de muita lábia, sorrisos, apertos de mão e conexões, Frank sonha alto - tanto para o distrito, quanto para si.

Ao seu lado, a vice-superintendente Pam Gluckin (Allison Janney, "roubando" diversas cenas para si), também colocada como poderosa e bastante íntima de Frank. Em cenas específicas, vemos a dupla "treinando" em conjunto para memorizar nomes, sobrenomes, ocupações e hobbies de figuras importantes para afinar os contatos sociais. Em paralelo, a estudante de ensino médio Rachel Bhargava (Geraldine Viswanathan), membro do clube de jornalismo do distrito, precisa fazer uma matéria de bajulação sobre a obra de uma passarela que ligará pontos da escola, mas acaba descobrindo detalhes escusos e nem tão bem escondidos assim nos registros financeiros da instituição. Está posto o contexto.

A partir daí, o roteiro dá conta de ir se desenvolvendo quase como um "filme coral" - tipo de obra na qual acompanha-se múltiplas narrativas. Não é exatamente o caso de Má Educação, mas, de dada maneira, ele traz uma estrutura que vai "variando" protagonismos, em um ritmo bem próprio, dedicando algumas cenas - às vezes pequenas, mas significativas - para uma boa variedade de personagens, defendidos por ótimos intérpretes no geral. O longa estabelece, assim, uma rota particular, bem construída e recheada de pequenas surpresas a partir do desenrolar daquela situação inicial.

O longa da HBO tem uma essência que lembra alguns filmes do diretor Adam McKay que tiveram boa inserção no Oscar, como A Grande Aposta (2015), que valeu ao cineasta o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado, e Vice (2018). É uma aproximação mais nas intenções em optar por retratar um assunto sério, geralmente um escândalo americano, com alguma subversão do que no resultado final, ressalte-se. Apesar da relação, vale explicar que Má Educação não deve disputar premiações de cinema, mas sim de televisão, justamente por ser um filme original do canal HBO.

Em repercussões e comentários sobre o longa, é possível vê-lo ora descrito como sendo um filme mais de investigação jornalística, ora como um exemplo de questões educacionais, ora como um catalisador de reflexões sobre corrupção. Ele traz tudo isso em si, sim, mas todos os pontos surgem e se encerram na abordagem que Má Educação faz do caráter essencialmente contraditório e complexo do humano. A obra filma seus personagens com sarcasmo, humor, crítica, mas também humanidade. Não é um modo de justificar ações, comportamentos ou faltas dos personagens, mas de compreender que cada uma delas revela muito de processos e questões de viver em sociedade, equilibrando - ou não -responsabilidades sociais e individuais.

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Má Educação

Exibições dia 1º, às 12h40min (HBO 2); dia 2, às 17h50min (HBO); e dia 3, às 11h45min (HBO 2)

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