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Artistas visuais cearenses seguem em produção e se adaptam ao novo momento
Vida & Arte

Artistas visuais cearenses seguem em produção e se adaptam ao novo momento

Redes sociais e mostras virtuais se tornaram as novas vitrines para uma produção que é contínua e que conta, mais do que nunca, com a sensibilidade do mercado para a valorização da arte
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Isolamento Social dá nome à obra de Silvano Tomaz
 (Foto: Reprodução/Silvano Tomaz)
Foto: Reprodução/Silvano Tomaz Isolamento Social dá nome à obra de Silvano Tomaz

O Vida&Arte conversou com os artistas Adriano Paz, Bia Soares, Nil Roque, Silvano Tomaz, Azuhli e Juca Máximo sobre o impacto do atual momento de isolamento em suas criações, os novos formatos de apresentação para clientes e a importância da valorização da arte como forma de conforto e enfrentamento da realidade.

Azuhli tem produzido uma série nova de pinturas sobre viver em distanciamento social
Azuhli tem produzido uma série nova de pinturas sobre viver em distanciamento social

Azuhli

Em meio à pandemia, Azuhli, de 25, agiu diferente: "Disponibilizei a minha última exposição individual por fotos, que abriu uma semana antes de entrarmos em quarentena". Foi uma maneira de mostrar-se, como outros artistas, aberta ao novo tempo. "Vejo muito artista fazendo live pintando em seus ateliês, exposições online e cursos de artes virtuais e gratuitos", destaca Azuhli. "Eu tenho me reinventado nessa quarentena. Montei um catálogo de obras disponíveis com alguns o preços promocionais e possibilidade de parcelamento, com entrega após a pandemia". E tem dado certo: "As pessoas estão mais sensíveis agora e notando mais o que tem no interior de sua casa, querendo aquecer o ambiente com arte", atribui à nova visão. Atualmente ela produz uma série nova de pinturas sobre viver em distanciamento social, com a observação: "minha pintura é sempre sobre o amor e as relações". "Meu olhar se relaciona com o feminino da forma mais genuína de querer representar a realidade nas relações entre todas as mulheres, as que nasceram e as que se tornaram". Oficialmente pintora, escultora, gravurista, ceramista e desenhista, nas artes visuais, "tudo é possibilidade", pontua Azuhli. Da tinta óleo ao plástico derretido em cima da tela. O que será daqui para frente? De modo geral: "Uma nova arte vai surgir", anima-se com a ideia de futuro. A quem interessar: Seus trabalhos variam de R$ 250 a R$ 6.500, todos com moldura e certificado de autenticidade.

Auto retrato
Auto retrato

Beatriz Soares

A autora da pintura ao lado tem 19 anos. Pinta "desde que tenho recordação da vida", diz, apesar de datar seus 15 anos como entrada oficial às artes, quando, pela primeira vez, alcançou divulgação. De lá para cá, aperfeiçoa-se. Atualmente em mobilidade acadêmica na Faculdade de Belas Artes de Granada, na Espanha, a artista divide-se entre futura designer de moda e sua paixão pela arte. Esta última, em período de pandemia, com ressalvas. "Meu processo criativo acabou se moldando a este momento tão inesperado", conta. "Já tive o prazer de participar de algumas iniciativas", lista algumas entre elas o “Circuito Arte UFC online” com a live “SOS Criatividade: Pintando a Quarentena, com Bia Soares”. Beatriz, que tem ampliado sua atuação artística no Instagram, onde expõe seus trabalhos, redobra criatividade, com uma série autorretratos inspirados em grandes obras, como uma de Vermeer, com destaque não ao brinco, mas à máscara posta nela mesma, Beatriz, que reflete o momento atual com auxílio da tecnologia. "Acredito que seja importante entender a gravidade da situação, assim como buscar meios que nos facilitem passar por ela que forma mais leve, na medida do possível", pensa a artista, seguindo com estudos à distância. A pintora ainda expõe em outros dois movimentos, por conta da Covid-19, uma exposição virtual no MAUC e na campanha que tem a mesma participação de Adriano Paz, "Apreciar sem tocar". Beatriz diz que já vendeu quadros, mas compreende que não é a realidade para todos os artistas, especialmente em função da pandemia, que, para a artista, que continua a vender - via site, Instagram, e conhecidos -, sobre venda na arte de um modo geral, trará transformações. Até lá: "O momento demanda empatia, calma e solidariedade". E é o que faz, com suas postagens na rede: "Apesar do nosso corpo estar preso, nossa alma é livre para escapar pela janela e respirar um pouco de ar puro através da arte", reforça o motivo. "Seria muito bom ver artistas locais valorizados, por meio da divulgação de suas obras, para presentear as mães. Não faltarão belas obras, sensíveis e que as cativarão. O mesmo vale para outros dias", estende o convite.

Intense
Intense

Juca Máximo

No mundo das artes há seis anos, Juca, hoje com 36, refaz o exercício que o convocou, por causalidade, às linguagens artísticas. "Tem uma frase que coloquei no meu studio, para que eu possa sempre lembrar do grande objetivo da minha missão, que diz assim: 'é preciso se conectar consigo mesmo'", atribui às várias possibilidade e entendimentos que ele mesmo pinta, esculpe ou intervém. E ao expressar: "Que as pessoas possam sentir ou se conectarem com o seu eu com mais intensidade, intimidade e propriedade", acolhe à sua arte, em uma espécie de sincronia de tempos, nem sempre fáceis, desafiadores: "Tendo em vista que nosso segmento foi o primeiro a fechar as portas, venho observando vários movimentos artísticos no mundo todo, vi exposições online, artistas fazendo lives, criando obras ao vivo e vendendo por meio de leilões na própria plataforma, mas desde o início decidi aproveitar o momento para, primeiro, lançar obras que estavam apenas nas ideias ou esboços, como os bustos que venho lançando nas últimas semanas", dentre outras saídas encontradas pelo artista, que vê o momento como um espaço à novas descobertas, incluindo técnicas. "Entendendo mais de química e estudando mais o que minhas obras expressam, que são as atuações do consciente, do inconsciente, as questões intrínsecas das crenças espirituais, dos sentimentos construídos pelas nossas experiencias de vida ou injetados pela sociedade", sintetiza o artista enquanto, em paralelo, reavalia estes "mesmos" "ser" e "sentir" frente a uma cena pandêmica, lá fora: "O grande desafio disso é fazer tudo de uma nova forma", encara mais que uma pesquisa. "São junções de técnicas experimentais, algumas delas foram feitas por acaso, com misturas de materiais, além da forma clássica que é pintar sobre tela, ou esculpir em clay", refere-se às composições - e forma de inovar -, com temas, inclusive, femininos - sugestão a presente. "Hoje com essa pandemia, o que mais sai são as encomendas em pintura, e as infogravuras", diz o artista conectado a três continentes, onde mantém suas vendas, além das encomendas no momento. Valores: de R$ 3.000 a R$ 60.000.

Relevo Tonal sobre retrato de Caetano Veloso (Foto de Bob Wolfenson)
Relevo Tonal sobre retrato de Caetano Veloso (Foto de Bob Wolfenson)

Nil Roque

Após concluir o ensino médio, com a idade de 17 anos, Nil Roque hoje com 34, não quis saber de outra coisa. É das artes, e ela, dele. Uma união que atravessa o tempo, independente de como ele seja, ou esteja. "Aqui no Ceará, tanto faz com pandemia ou sem pandemia, o artista local não tem valor. 'Como o artista deve fazer para vender suas obras onde não existe mercado?'", questiona enquanto percebe ocorrer diferente por aí. "Onde existe mercado de arte, em época de pandemia, os artistas não estão com tantas dificuldades para vender suas obras, como está acontecendo aqui no Ceará. Devido a uma herança cultural das artes visuais muito pobre, o nosso povo não tem autonomia intelectual para diferenciar arte de entretenimento, por isso não sabem reconhecer a importância de valorizar o artista local. Por causa dessa falta de instrução do cearense, em tempos de pandemia, os artistas estão passando por um momento crítico, quase parando", alerta o artista, em jejum de uma obra vendida há oito meses, sem perder a entrega à arte. É apaixonado, por ela, como pela materialização do que tem afinidade: "Gosto de retratar pessoas", uma forma, por Nil, de interpretar o mundo que cada pessoa abriga utilizando-se de sensibilidade, como de técnica, a de colagem, em retratos de 60 x 60 cm. "Onde existe arte, existe liberdade", defende o artista, que cita o holandês Maurice Escher - "Não se pode compreender a humanidade sem ver" - para falar da importância da arte visual principalmente hoje. Para ele, essencial.

Isolamento Social. Técnica monotipia expandida - Dimensões 25 x 35 cm (Ano 2020)
Isolamento Social. Técnica monotipia expandida - Dimensões 25 x 35 cm (Ano 2020)

Silvano Tomaz

Silvano, 47, acumula mais de 25 anos como artista visual. Atualmente engaja-se em ações paralelas ao cenário de novo coronavírus. "Tenho participado de alguns movimentos virtuais, como a 1ª fase do XXI prêmio de arte, na escola cidadã, em que fui selecionado na 1ª fase, e acontecerá em São Paulo", cita dentre outras iniciativas, como o convite que recebeu para participar de um projeto de um livro virtual a ser lançado, este mês, em Portugal. Silvano ainda está inscrito na 1ª edição online da Feira Fuxico, da Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho, que terá venda das obras na Internet. Também é dele três obras da exposição virtual “Arte em Tempos de Covid-19”, que estão sendo exibidas nas redes sociais e no site Museu de Artes da UFC - MAUC. "Como artista tenho buscado o meu bálsamo em meu ofício", apoia-se o artista, além de professor da área. "Quando estou desenvolvendo o meu trabalho artístico, consigo aliviar o medo, a ansiedade e essa angústia, em que estamos vivenciando", reconforta-se. Com relação à venda de obras, o escape é as redes sociais somada à exposições virtuais. O retorno, porém, devido à crise pandêmica, aquém do esperado. "Não consegui vender, apenas promessas de possíveis compras". Mesmo assim, continua: "Estou em constante sintonia com o processo criativo, seja em desenhos, pinturas ou gravuras". E passa a menagem: "É de suma importância e relevância para a valorização do artista local, nesse momento difícil, adquirir trabalhos artísticos", relaciona à proximidade do Dia das Mães. Seus trabalhos são caracterizados por um estilo marcante, abstrato e impressionista. O estilo chamado "'Novo Simbolismo Contemporâneo'", ensina Silvano, que predispõe-se à demanda. "Desenvolvo trabalhos por encomendas, e se preciso for, intermedeio a entrega". Com relação aos valores, eles variam de acordo com a obra e a metragem (1 m² a R$ 4.500).

Retrato urbano por Adriano Paz
Retrato urbano por Adriano Paz

Adriano Paz

Formado artista plástico com cinco anos de profissão, Adriano Paz, 28, vê na arte um alicerce. "A arte tem um papel de muita importância nesses dias de incertezas. Pois através delas podermos enxergar o mundo de uma maneira mais maleável", acredita. Em tempos de pandemia, o período é ainda mais desafiador. "Temos de nos reinventar para poder vender nossas artes sem ir até o cliente", diz o artista, que passou a dar mais atenção à venda pelas redes sociais. "Vendi algumas obras e estou fazendo umas encomendas", conta. Adriano também tem participado de iniciativas que ajudam a potencializar o trabalho de artistas locais. Valores de R$ 150 a R$ 1.000.

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