Dizem que os fantasmas gostam de teatros. Quando os holofotes se apagam e a plateia deixa o Theatro José de Alencar, uma moça "de outro mundo" descreve seus passos com a suavidade de um mistério não resolvido pelo tempo e nem pela curiosidade de quem frequenta e trabalha no equipamento.
Há décadas os funcionários e artistas que passam pelo Theatro José de Alencar contam suas histórias sobre uma bailarina jovem, bonita, "quase transparente", que dança no palco entre as madrugadas, passeia pelos corredores e tenta fazer contato com alguém que não tenha medo da sua aparência gélida. Com uma vida que quase se confunde com a idade das estruturas de ferro que compõem o teatro centenário, a "bailarina fantasma" surge sempre em meio à uma brisa gelada, e expressa seu maior anseio: "Eu preciso ensaiar!"
A história que circula entre os frequentadores do teatro já se transformou em lenda no equipamento cultural e em toda a Cidade e também inspirou um dos livros da escritora cearense Socorro Acioli. "A Bailarina Fantasma" (ed. Biruta), lançado em 2010, coleta narrativas do passado e tenta reconstruir a verdadeira história da bailarina. Filha de um escocês (que trabalhou na construção do teatro) com uma brasileira, ela provavelmente teria praticado balé naquele mesmo prédio durante toda sua vida.
Clara é o nome dado pela escritora para a protagonista da lenda. A bailarina, como conta o livro, era o destaque nos espetáculos do Theatro por sua beleza, graça e suavidade na dança. O seu amor era Gabriel, um aluno de piano dedicado. O teatro é parte essencial da vida de ambos, sendo o palco de um romance entre os dois, esconderijo das famílias e, ao mesmo tempo, o espaço onde ambos cresceram e treinaram seus talentos.
Movida pela mesma paixão pela dança, a primeira bailarina da Escola de Ballet Goretti Quintela, Lívia de Castro, interpreta a bailarina fantasma e suas piruetas pelos espaços no Theatro José de Alencar em vídeo produzido pelo O POVO+. Com as sapatilhas fincadas no chão, mas buscando dançar pelo invisível, a Lívia realiza uma imersão no palco no qual também já participou de diversos festivais com sua escola de dança. Uma imersão na memória e nas histórias que circulam uma das casas de espetáculos mais importantes do Estado. O roteiro é conduzido por trechos significativos da obra "A bailarina fantasma", de Socorro Acioli.