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A prosperidade pela ciência
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A prosperidade pela ciência

| FILOSOFIA PARA INICIANTES | A partir da obra "A Nova Atlântida", do filósofo inglês Francis Bacon, o pesquisador Eduardo Chagas fala sobre o valor do conhecimento tecnológico-científico para as sociedades
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Platão (427-347 a.C.) fala, nos seus Diálogos "Critias" e "Timeu", de uma antiga cidade, "Atlântida", que fora destruída por um terremoto, inundada nos mares ocidentais e nunca mais encontrada. Tomando essa referência de Platão, elaborou Francis Bacon (1561-1626) sua última e mais importante obra política, "A Nova Atlântida", que fora escrita em 1623 ( mas só publicada um ano após sua morte, em 1627), em que ele nos apresenta a sua utopia, um ideal de sociedade, em que a ciência e a tecnologia predominam e estão a serviço do homem, propiciando-lhe "um lugar de consolo", "de alívio do sofrimento", "a terra prometida", o "paraíso tecnológico na Terra". Essa sociedade tecnológico-científica de Bacon tem o homem como um fim supremo, isto é, o domínio do homem sobre a natureza por meio da ciência.

A base dessa sociedade tecnológica, proposta por Bacon, não são as instituições econômicas e sociais, mas as científicas, pois são as pesquisas científicas e os avanços tecnológicos que devem assegurar a prosperidade e o bem-estar da sociedade, além do conhecimento e da felicidade dos homens. Para os cidadãos dessa sociedade, os atlantes, o Governo deve ser exercido não por políticos, mas pelos mais sábios, pelos os que têm reputação científica, pelos melhores técnicos, arquitetos, astrônomos, geólogos, biólogos, médicos, químicos, economistas, sociólogos, psicólogos e filósofos.

Nessa sociedade utópica da "Nova Atlântida", erguem-se estátuas e louvores - não como era na Grécia antiga, para os heróis, que lutavam pela sua pátria num determinado tempo -, mas para os inventores, porque estes, segundo Bacon, contribuem para sempre à humanidade, para aliviar a "condição limitada do homem", reduzindo a pobreza e as enfermidades.

O Governo dessa sociedade imaginária deve garantir, como propõe Bacon, o seguinte: investigar a natureza; providenciar a utilização de energias por meio das quedas d'água; fazer experiências com animais para obter conhecimentos cirúrgicos; obter novas variedades de animais e plantas pelo cruzamento de espécies diferentes; manter um comércio externo com outros povos, para trazer o que há de melhor no mundo para a Nova Atlântida e, por fim,  produzir o que consumir, e consumir o que produzir. Além disto, o Governo, por meio da ciência e da tecnologia, deve proporcionar progresso à cidade, tendo como finalidade: garantir a longevidade, mantendo a juventude e a fertilidade, e retardando o envelhecimento; fortalecer a amizade;  negar a prostituição;  curar doenças;  transformar o metabolismo humano; aumentar a capacidade cerebral;  criar novas espécies de animais e de plantas e produzir em abundância novos alimentos.

A sociedade utópica da "Nova Atlântida" está fundada, portanto, nos ideais baconianos: uma sociedade edificada no progresso da ciência, no avanço do saber técnico-científico, no "saber como poder", na industrialização, nas alternativas surgidas das pesquisas científicas e tecnológicas, na atividade das máquinas operando tudo, no domínio sobre a natureza, dando ao homem tempo livre para construir o seu império e cultivar o seu espírito. Isto foi idealizado por Bacon no séc. XVII em sua obra "A Nova Atlântida", o que, de fato, se efetivou nos sécs. XVIII, XIX, XX e XXI, não como ele pensou, só de forma otimista, mas também destrutiva, com guerras, bombas atômicas e ameaças de destruição da natureza e do próprio homem.

Eduardo Chagas é professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia e em Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC)

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