Filme sobre ativista Indianare Siqueira reconta história política recente do Brasil
João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
Filme sobre ativista Indianare Siqueira reconta história política recente do Brasil
Documentário protagonizado pela ativista - que estreia hoje nas plataformas de streaming - traça retrato melancólico dos acontecimentos políticos do Brasil na última meia década
Pela revisão que faz de fatos políticos recentes do Brasil, "Indianara" poderia chegar aos olhos do espectador de 2020 como "datado". O documentário centrado na ativista Indianare Siqueira, no entanto, se impõe como um retrato da História em curso, sendo vivida, feita e experimentada no País nos últimos cinco anos. Dos movimentos contrários ao impeachment da presidente Dilma Rousseff à eleição de Jair Bolsonaro, passando pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, cada fato histórico que compõe a obra é contado pela dupla diretora - a francesa Aude Chevalier-Beaumel e o brasileiro Marcelo Barbosa - a partir do lado da trincheira no qual Indianare está. Exibido em sessão paralela do Festival de Cannes em 2019, o filme estreia hoje nas plataformas iTunes, Google Play, NOW, Looke e Vivo Play, além de chegar, no próximo dia 5 de julho, a 195 países pela plataforma MUBI.
A "trincheira" de Indianare, diga-se, não é uma só: é o trabalho na Casa Nem, espaço de acolhimento para pessoas trans e travestis no Rio de Janeiro, e as participações em protestos na rua, mas é também a vida pessoal, os momentos de intimidade com o marido e uma festa na piscina que promove para amigas. Equilibrando-se entre pautas pessoais e políticas e por vezes conectando-as - talvez como a própria Indianare -, o filme tem na relação dela com cada fato ocorrido a principal força.
A protagonista-título é intensa, presente. Promove necessários atravessamentos e incômodos, seja pura e simplesmente por sua presença, seja na ação combativa contra injustiças sociais e a favor de pautas como os direitos das pessoas T e das prostitutas. O documentário chega a mostrar até o atrito que Indianare teve com o PSOL, partido político ao qual foi filiada e do qual acabou expulsa, exemplificando bem a personalidade da personagem: há espaço para diálogo, sim, mas não há meandros para tratar diretamente de problemáticas e questionamentos.
Enquanto Indianare, a figura humana, é dessa forma, "Indianara", o filme - que inclui bons momentos e bons registros, ressalte-se - é menos frontal, mais complacente e ameno. Até pelo caráter observacional, não consegue trazer para a forma o ímpeto que move a protagonista. Esse "desequilíbrio" entre obra e personagem acaba se alinhando a um sentimento agridoce que o próprio desenrolar político-histórico captado pelo documentário traz consigo.
O registro, aqui, não tem um sentimento de "urgência". É um olhar mais reflexivo e histórico - ora, o desenrolar dos fatos mostrados já é conhecido do lado de cá, antes mesmo do contexto inicial que o filme oferta. Não são os fatos em si o foco, mas sim como Indianare vai reagindo e convivendo com cada um deles. Apesar de toda a força, intensidade, potência e luta que envolvem os registros e a protagonista, "Indianara" é uma obra melancólica - assim como é olhar, de 2020, para os tempos pelos quais o Brasil passou da última meia década até aqui; que o filme abra com um enterro e encerre com a ocupação de um palácio em ruínas, não parece acaso.
Indianara
Estreia nesta quinta, 25, nas plataformas digitais iTunes, Google Play, NOW, Looke e Vivo Play
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