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Aos 83 anos, Reginaldo Faria relembra momentos marcantes da carreira
Vida & Arte

Aos 83 anos, Reginaldo Faria relembra momentos marcantes da carreira

De volta à TV na reprise da novela "Totalmente Demais", Reginaldo Faria fala de momentos marcantes de sua trajetória na televisão e, principalmente, no cinema
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Aos 83 anos, Reginaldo Faria segue em isolamento por conta da Pandemia. Nas telinhas ele pode ser visto no papel de Maurice, na novela Totalmente Demais (Foto: Fotos divulgação)
Foto: Fotos divulgação Aos 83 anos, Reginaldo Faria segue em isolamento por conta da Pandemia. Nas telinhas ele pode ser visto no papel de Maurice, na novela Totalmente Demais

Na última sexta, 26, o personagem Maurice, vivido por Reginaldo Faria, entrou na trama de "Totalmente Demais. Reprise da faixa das 19 horas, a "reestreia" é o ponto de partida para uma conversa com o ator, sobre carreira e planos para o momento.

Reginaldo iniciou a carreira de ator nos anos 1950, dirigido pelo irmão Roberto Farias em "No Mundo da Lua" e por Watson Macedo em "Aguenta o Rojão". Em 1960, Roberto iniciou com ele, em "Cidade Ameaçada", uma trilogia informal que prosseguiu com "O Assalto ao Trem Pagador" e "Selva Trágica", todos clássicos do cinema brasileiro. Nos anos 1970, na verdade, em 1969, o próprio Reginaldo tornou-se diretor com "Os Paqueras". Na TV, fez novelas a perder de vista, desde "Ilusões Perdidas", de 1965, a "Espelho da Vida", exibida entre 2018 e 2019.

Está vendo a reprise novela? "Sou muito crítico comigo mesmo. Irrito-me pelas coisas mais simples que fiz. Então, para não me ferir e não ferir os que amaram fazer, não vejo".

Reginaldo segue: "Não comecei em cinema como ator, mas como assistente de câmera, depois assistente de direção. Seria mais ou menos natural entrar para a direção. Não fui pioneiro nas comédias, outros já haviam feito. "Os Paqueras", a primeira que fiz, considerada picante, era ingênua comparada aos que distorciam o que havíamos feito. E ele reflete - "Meu Deus, não fui perfeito em minha criação! (estou rindo), mas "Os Paqueras" foi sucesso de bilheteria, lotando um cinema de quatro mil lugares, o Imperador. Foi também exibido no Bruni Meyer por seis meses sem sair de cartaz; quatro meses no Cinema Caruso de Copacabana".

Ao sucesso inicial de "Os Paqueras" seguiram-se "Pra Quem Fica Tchau", "Os Machões", "Quem Tem Medo de Lobisomem?", "O Flagrante". Reginaldo dialogava com o grande público por meio do humor. E aí, em 1977, deu uma guinada na carreira de diretor. Fez "Barra Pesada". O filme é contemporâneo, em tempo e tema, de "Lúcio Flávio - O Passageiro da Agonia", que ele também fez, como ator, sob a direção de Hector Babenco.

"Barra Pesada" baseia-se em "Querô", de Plínio Marcos. "'Barra Pesada' e 'Lúcio Flávio' foram inscritos simultaneamente no Festival de Cinema de Gramado. Eu, como protagonista de um filme que não era meu, concorria com Stepan, que era protagonista de um filme que era meu. Aquela ambivalência mexia. O amor estava meio que dividido entre os dois filmes e não sabia que tipo de dor ou alegria aquele festival ia me reservar. Ao final, Stepan ganhou o premio da crítica como melhor ator e eu ganhei o prêmio do festival como melhor ator. A trilha sonora feita por Edu Lobo que foi impecável. Ele (o compositor) também foi premiado".

Embora a maioria da crítica considere "O Assalto ao Trem Pagador" a obra-prima da dupla Roberto/Reginaldo, a preferência do repórter vai para "Selva Trágica", de 1964. Exatamente 56 anos depois, a pergunta que não quer calar. Aquele ambiente violento de trabalho escravo na fronteira paraguaia foi muito pesado para reconstituir na tela? "Vou citar um pequeno detalhe: Um capataz cedido para o filme ditava ordens aos mestiços escolhidos para figurantes. O ritmo acelerado das filmagens não combinava com o deles; as cenas retratavam a escravidão dos ervateiros que tinham como obrigação carregar sacos de erva-mate pesando acima de 200 quilos. Roberto sugeriu que carregassem sacos cenográficos. O capataz não gostou e disse que seus homens não eram frouxos e que iriam carregar o peso real. Entretanto, as cenas se repetiam, ora por questões fotográficas, ora por enquadramento. O capataz novamente reagiu: "Meus homens não são burros de carga". O impasse resultou em clima pesado e até ameaça de morte. Dormíamos armados, com revólveres embaixo
dos travesseiros".

São mais de 60 anos de uma carreira extraordinária, que teve grandes momentos - Reginaldo Faria está com 83 anos. Quando jovem ninguém pensa nisso, mas agora - como ele revê sua trajetória? "Fisicamente posso não dar conta, mas mentalmente estou inteiro. Repetiria tudo outra vez, com muita alegria". Como vive o isolamento social na pandemia? "Antes não me concentrava nas coisas por ser levado às coisas seguintes. Agora me concentro e faço tudo por inteiro, tenho todo o tempo do mundo. Não me ausento dos fatos, rechaço e me decepciono com os da nossa espécie que, nesta época tão triste, tiram proveitos inescrupulosos. Chego a pensar que nem o desprezo por eles é suficiente". O Brasil? "Um gigante que não deveria aceitar a desigualdade entre os homens, que deveria combater os que pensam conquistar através do mando".

Algum novo plano de filme? "Plano nenhum. Vejo na Netflix infindáveis minisséries de diversas nações e pouca coisa produzida ou apoiada em nosso País. Antes lutávamos pela igualdade nas salas de exibições de filmes; na década de 70 conquistamos metade do nosso mercado, concorrendo com os estrangeiros. Veio para cá um tal de Jack Valenti, da Motion Pictures, e travou nosso sonho; Collor de Mello aniquilou a Embrafilme e a classe se esfacelou. Hoje, a juventude vive dos filmes que faz (enquanto filma) e os exibidores só aceitam os que se enquadram nos perfis de seus interesses. Os que deviam nos apoiar estão em Brasília se engalfinhando em busca de poder político".

Para finalizar, porque Reginaldo é Faria e Roberto, Farias? "Foi erro de registro no cartório." (com AE)

 

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