Existe um ditado popular que fala, mais ou menos, assim: "quem vai em busca de comida com muita fome, a seleção é deixada de lado e qualquer opção serve". Ele nos foi lembrado pelo coach de autoconhecimento Henrique Oliveira, em uma reflexão acerca do essencialismo. E faz sentindo. Qual foi a última vez que você parou para selecionar ou simplesmente entender o que é essencial para se viver? Neste período de isolamento, até quem nunca pensou sobre o tema certamente já parou por minutos, em alguns momentos nesse turbilhão de acontecimentos, para refletir sobre os rumos que a vida iria seguir daqui para frente. E, no meio destes possíveis caminhos, pode ter se deparado com a questão: o que eu realmente preciso ter comigo?
Mais do que uma busca necessária em não desperdiçar tempo com o que não soma, encontrar seu essencial é uma busca por viver melhor. Henrique, quando traz o ditado popular para essa reflexão, pondera: "O universo é abundante e ilimitado, mas algum dia, alguém disse: não tem para todos e, a partir desse momento, foi instalada a crença de que precisamos sentir medo de faltar o que precisamos para sobreviver de forma plena e, consequentemente, esse medo gerou a necessidade de corrermos contra o tempo, para garantir a conquista desejada, começamos a achar que o ilimitado é limitado. Logo, a maioria de nós, com "fome" de alcançar suas realizações na maior velocidade possível, foi deixando de se conectar com seu mundo interior para ser refém do mundo exterior. Foi nascendo a distorção do que é essencial em nossas vidas", comenta.
O olhar voltado para essas questões, neste momento de pandemia, trouxe, segundo Henrique, o tempo que faltava para olhar para si. Focar apenas no essencial pode abrir mais tempo livre na rotina para fazer o que realmente dá sentido para a vida, que é o olhar para dentro e, mais que isso, entender quais metas e objetivos são reais e necessários e quais somente alimentam ao ego.
"Acredito que a pandemia representa esse tempo, essa pausa necessária que muitas pessoas precisavam para abraçar o essencial à vida, para perceber as escolhas que estavam nos levando para a involução ao invés da evolução, algumas vezes, de forma inconsciente", pontua.
Henrique também acredita que novos passos em busca desse movimento estão sendo dados, mesmo que de forma imperceptível para algumas pessoas. "Internalizando o essencialismo, as mudanças já são visíveis na sociedade, uma quantidade enorme de pessoas começaram a empreender, colocaram projetos engavetados em andamento e hoje estão trabalhando com o que amam, muitos no conforto de casa junto com a família, o respeito ao próximo está maior, assim como a qualidade nas relações interpessoais, a valorização do momento presente e um aumento significativo de empresas transformando sua entrega de produtos e serviços do offline para o online".
No trabalho como criadora de conteúdo para redes sociais voltado a pessoas que procuram uma vida com propósito, Nelly Jereissati confia que a busca pelo que é, de fato, essencial, tira o ser humano do movimento frenético que estressa e, mais que isso, enfraquece. "Isso vira uma corrida, como se estivéssemos competindo uns com os outros. Para mim, focar no essencial tem a ver com concentrar sua atenção no que você controla, de acordo com os seus objetivos em harmonia com o seu contexto", comenta.
Nelly criou um método que vem sendo eficaz em ajudar quem quer trazer o essencialismo para a rotina e não sabe quais os primeiros passos. Ela explica que tudo começa a partir de uma seleção de atividades que fazem parte dos sonhos e que dependem, exclusivamente, de você. A segunda lista deve ser feita com atividades que são necessárias para se ter qualidade de vida, desde a área pessoal, até a profissional, financeira e relacionamentos. "Olhe para essas duas listas e selecione as atividades que você já pode fazer hoje. Nem tudo que queremos estamos no momento de alcançar, precisamos analisar nosso contexto presente. Dessa seleção de atividades, reflita o que está disposto a colocar a mão na massa. O que eu sugiro é que filtre aquelas atividades que mais gerarão resultados na sua vida", conclui.
É certo que a busca por essa jornada nunca vai ser igual. E não existe uma fórmula certa ou errada. O que fica, principalmente, é a reflexão de tentar dar, todos os dias, um passo a mais na direção do que realmente importa. O que importa para você?
Na busca pelo essencial
Nossa capa e estas páginas são ilustradas pelo artista Gabriel Cela, que se inspirou na ideia de "salvar o tempo" para que ele seja aproveitado com mais calma. "Lembrei da ampulheta e comecei a imaginar uma personagem tentando recuperar a areia. Querendo guardar um pouco do tempo. Ela tenta correr atrás do pássaro que leva a ampulheta, mas é impossível porque ela continua presa em raízes, que seriam a rotina, os compromissos inadiáveis, as distrações fúteis, a procrastinação", explica. Gabriel também incorporou alguns elementos que se relacionam com o movimento constante do tempo: as fases da lua, a transformação do galo e o crescimento da planta.