Eleita primeira Miss Brasil em 1954, quando o concurso passou a ser realizado oficialmente, Martha Rocha redefiniu o que era a beleza, com seus 1,70 metro de altura, para o padrão da época. No último dia 4, aos 83 anos, ela partiu, vítima de insuficiência respiratória seguida de infarto. Foi levada ao hospital, mas não resistiu. A cidade coincidentemente Rio de Janeiro, onde, baiana, recebeu o título de mais linda do País, como permanecerá, com suas referências intactas. Ela foi enterrada neste domingo, 5, no Cemitério do Santíssimo Sacramento.
Dos clichês que valem repetir, um deles é de "uma vez rainha, sempre rainha". E Martha foi uma, apesar das polêmicas e divergências sobre, afinal, "o que é belo", ainda em discussão. A lenda das tais "duas polegadas" é quase impossível de não citar, mesmo após a própria participante ter desmentido. Teria ou não teria desbancado a brasileira do Miss Universo, nos EUA, para uma americana? Prevalece o imaginário, não tem como.
Martha, de lá, voltou segundo lugar. Para o Brasil, o primeiro. No ano seguinte, em 1955, bis, mas apenas para o repasse de faixa, quem diria, a uma cearense, Emília Barreto, queridinha de Millôr Fernandes (1923-2012), que também fez jus, e levou o Brasil à semifinal na etapa do Miss Universo, em Long Beach.
A trajetória de Martha Rocha abriu portas para o segmento no âmbito internacional. Nas décadas seguintes, o Brasil conquistaria bons lugares no Miss Universo; a primeira foi Ieda Maria Vargas, em 1963, Miss Mundo e Miss Beleza Internacional.
Em 2004, em entrevista ao Estadão, Martha afirmou que não tinha mais o troféu de Miss Universo nem a faixa de Miss Brasil. Segundo ela, os objetos foram roubados em Salvador, em 1975, durante o velório de sua mãe. Na época, ela organizava uma exposição com mais de 400 peças de seu acervo pessoal, incluindo reprodução de trajes e fotos com personalidades e políticos, como Juscelino Kubitschek e sua esposa Sara, o ator de Hollywood Tony Curtis, o príncipe Charles e a rainha da Inglaterra Elizabeth II. Também havia uma foto da modelo com o presidente Getúlio Vargas, meses antes do suicídio.
Depois dos 50 anos, Martha enfrentou um câncer e para se recuperar foi viver com o filho em Volta Redonda, no Rio. A ideia de permanecer na cidade foi acompanhada pela descoberta do talento na pintura, ela contou em 2004. "Costumo dizer que tenho o mar, as rochas, tudo dentro de mim. Eu poderia ter escolhido viver em qualquer lugar do mundo, até em castelos na França. Acusam-me de caipira, mas o que tenho é amor pelo Brasil".
Nos últimos anos, Martha enfrentou dificuldades financeiras e afirmou em suas redes sociais que teria perdido todo seu dinheiro para o cunhado. "Em 1995, com a fuga de Jorge Piano com todo o meu dinheiro, superei meus problemas com suporte dos meus filhos, amigas e o meu trabalho honrado, vendendo meus quadros e ganhando cachê para divulgar o concurso Miss Brasil".
"O ideal de beleza consolidado pela baiana seguiria influenciando gerações e gerações de mulheres pelas décadas seguintes", revelou uma vez ao site do Grupo RBS, citado em sua biografia na internet. A ex-modelo foi casada duas vezes e deixou três filhos, entre deles a artista plástica brasileira Claudia Xavier de Lima. (com Ag. Estado)