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Retirado do ar depois de 30 anos, seriado "Chaves" deixa lembranças e saudades em milhares de fãs
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Retirado do ar depois de 30 anos, seriado "Chaves" deixa lembranças e saudades em milhares de fãs

O V&A entra na Vila do Chaves para rememorar momentos importantes do programa que atravessou décadas e marcou gerações, e que neste mês deixou de ser exibido na América Latina (para a tristeza de muitos fãs!)
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Seriado Chaves, com Roberto Bolaños (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Seriado Chaves, com Roberto Bolaños

Pareceu inacreditável. Após mais de 30 anos de exibição no Brasil, o seriado Chaves, protagonizado por Roberto Gómez Bolaños, deixou de ser veiculado na televisão aberta. A notícia pegou telespectadores de surpresa no último domingo, 2. Como diriam os personagens: "Quem dá e tira com o diabo fica, sua mão se danifica, sua vó será maldita, e sua sogra ressuscita". Criado em 1970, o programa foi excluído das grades televisivas porque, segundo a imprensa mexicana, a família de Bolaños e o canal Televisa não chegaram a um acordo sobre os direitos da série. "Ai, que burro. Dá zero para ele", seria, provavelmente, a frase dita pelos queridos Chaves, Chiquinha e Quico diante de tal situação.

Florinda Meza, intérprete da Dona Florinda, lamentou a decisão, fazendo alusão aos momentos difíceis que o mundo vive com a pandemia motivada pelo novo coronavírus. "O que eu acho que se deixe de transmitir Chaves? Embora não tenha nada a ver porque inexplicavelmente não fui convocada para as negociações, acho que justo agora, quando o mundo mais precisa de diversão, fazer isto é uma agressão às pessoas", escreveu. A impossibilidade de exibir o programa é um golpe duro no Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). Ao longo das últimas três décadas, a emissora utilizou Chaves como a cartada certa para todas as intempéries.

A grade está confusa? Coloca "Chaves". Não tem novela para passar? Coloca "Chaves". A atração nova deu problema? Coloca "Chaves". O uso do programa como recurso de todas as horas mais parecia a receita de suco: "Esse é de laranja que parece de limão, mas tem gosto de tamarindo". Os fãs brasileiros - famosos pela devoção ao programa, nunca reclamaram!

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A partir de agora, não é mais possível ligar a televisão e, por acaso, encontrar episódios sendo transmitidos aleatoriamente - como "A venda da vila", "A morte do Seu Madruga", "O Cãozinho Satanás", "A casa da bruxa" e, é claro, "Vamos todos a Acapulco!". Agora, só nos resta torcer para que o embaraço entre os herdeiros de Roberto Gómez Bolaños e a Televisa tenha fim, e que o programa possa voltar ao SBT. Até a resolução do conflito, é melhor lembrar do ensinamento de Seu Madruga: "a vingança nunca é plena, mata a alma e envenena".

*Isabel Costa é jornalista, mediadora de leituras e chorou quando o Chaves ficou na Vila enquanto todos seguiam para Acapulco

 

Onde assistir Chaves?

No serviço de streaming Amazon Prime Video é possível assistir algumas temporadas de Chaves em desenho animado.

Para os fãs mais saudosos é possível encontrar alguns "pedaços de episódios" dispersos em canais piratas no YouTube.

Chapolin
Chapolin

Chapolin

A genialidade de Bolaños ainda rendeu outro icônico personagem como fruto: o herói Chapolin Colorado. Antes de ser batizado oficialmente, era para se chamar Chapolin Justiceiro. O coração na roupa do herói significa que tudo deve ser feito com amor. Na esteira do sucesso, ele também ganhou carinho de fãs de toda a América Latina. E, claro, acumula muitos bordões memoráveis! As questões entre os herdeiros do artista e a Televisa também atingiram a exibição desse programa.

Curiosidades

O barril é um esconderijo secreto, e Chaves nunca dormiu lá. Dizem que ele dividia o apartamento com uma velhinha. Nem ela nem o apartamento nunca apareceram no seriado.

A personagem de Angelines Fernández, a Bruxa do 71, ganhou esse nome por ter começado a trabalhar em 1971 com Bolaños, motivo pelo qual foi escolhido o número de seu apartamento.

Conhecida por interpretar a Bruxa do 71, Angelines Fernández Abad nasceu em Madri e foi guerrilheira, lutando contra a ditadura de Franco. Atriz deixou a Espanha para viver no México.

Os encontros entre Dona Florinda e o Professor Girafales são embalados por uma música que teve inspiração na trilha do filme "E o Vento Levou" (Tara's Theme).

Em 1974, Maria Antonieta de las Nieves, atriz que deu vida à personagem Chiquinha, passou um tempo fora do programa, pois estava grávida. Para explicar o desaparecimento dela, criou-se a história de que Chiquinha tinha ido morar com tias no interior.

Quando Ramón Valdez (Seu Madruga) estava internado, Carlos Villagrán (Quico) foi visitá-lo e estava muito triste pela situação do amigo, que disse para ele se acalmar pois iriam se encontrar "lá". Carlos: "No céu?". Seu Madruga, brincando, retrucou: "Não, no inferno".

Morto em 17 de junho de 2016, aos 82 anos, Rubén Aguirre Fuentes, o Professor Girafales, trabalhou como toureiro em sua juventude. Ele integrou o elenco de Chaves desde o primeiro programa.

Florinda Meza, a Dona Florinda, e Roberto Bolaños, o Chaves, começaram a namorar em 1978. O casamento foi no dia 19 de novembro de 2004, após mais de 25 anos de união não oficial.


(Com informações da Agência Estado e AFP)

Falsa morte

Roberto Gómez Bolaños foi vítima da divulgação de informações falsas diversas vezes. A morte dele foi cogitada, anunciada e até chorada por centenas de fãs. O artista precisou, mais de uma vez, se pronunciar atestando que permanecia muito, muito, muito vivo. (Veja uma das notícias da morte de Bolaños apontando a câmera do seu celular para o QR Code ao lado)

Por que Chaves é necessário em 2020

Queria assistir algo bem leve para me distrair". Tenho lido e ouvido isso com frequência desde o início da pandemia, mesmo entre aqueles que gostam de obras mais densas e que preferem fugir do que chamam de clichê. Chaves estaria nesse território por ser capaz de nos transportar a um ambiente seguro. Sabemos o que esperar, às vezes até sabemos os diálogos decorados (meu caso!), mas ainda sorrimos. E isto vai além de estarmos ou não em um ano catastrófico. Ver Chaves é recuperar um pouco da infância, lembrar das brincadeiras simples e até das emoções de quando éramos pequenos. De quando eu chorava vendo Chaves ser acusado de roubo. Ou de quando vibrava com a viagem das crianças a Acapulco. E do quanto aquele divertimento já nos deixava cheios de perguntas sobre a fome e a pobreza. Para mim, continuar tendo acesso a Chaves é ter a chance de revisitar o que nos fazia rir e chorar no passado, descobrindo que boa parte daquele humor simples e criativo ainda consegue nos entreter.

Thaís Brito é jornalista
e estudante de Letras (UFC).

 

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