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Nada é absoluto, tudo é relativo
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Nada é absoluto, tudo é relativo

| FILOSOFIA PARA INICIANTES | Pesquisador Eduardo Chagas explica o pensamento dos filósofos gregos Protágoras e Górgias, representantes da corrente Sofística
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Os Sofistas, embora tenham sido depreciados e desqualificados por Sócrates, Xenofonte, Platão e Aristóteles, foram, na verdade, grandes retóricos, oradores e filósofos, pertencentes a uma corrente de pensamento chamada Sofística, nos meados do século V até o final do século IV a.C., período em que Atenas era o centro mais elevado da cultura grega. Eles realizaram uma transformação imensa na filosofia antiga, ao deslocá-la da reflexão sobre o cosmo (da natureza) para o homem e o seu lugar na sociedade. Eles elaboraram também o conceito de cultura (paidéia = formação) e foram os primeiros a reconhecerem o valor formativo do saber, ou seja, que o saber forma, educa, o homem. Dentre os Sofistas, destacam-se Protágoras e Górgias.

Protágoras (480-411 a.C.), conhecido como "O Raciocínio", defensor do relativismo teórico, teve, ao ser acusado de ateísmo, seus livros queimados em praça pública. Dizia ele que não podíamos saber se Deus ou os Deuses existem, nem como Ele é ou como Eles são. É central na filosofia de Protágoras o seu princípio, segundo o qual "o homem (singular) é a medida de todas as coisas, das coisas que são e das coisas que não são". Com base nesse princípio sofístico do homem como medida, como critério, de todas coisas, Protágoras anuncia o seu relativismo tanto no conhecimento, de que a verdade não é absoluta, necessária, mas singular, individual (relativa), quanto na ética, de que os valores não são universais, mas diferentes e diversificados. Assim como não há verdades absolutas, não há, para Protágoras, o certo e o errado, o doce e o amargo, o quente e o frio, o bem e o mal, o belo e o feio, em si mesmos, objetivos, pois ambos são estabelecidos pelos homens de acordo com os valores de cada sociedade numa dada época. O que há, para Protágoras, é o que é mais útil, mais conveniente, mais oportuno, e o sábio deve convencer aos homens a conhecê-los e praticá-los.

O outro sofista, Górgias (483-375 a.C.), denominado o "Todo Poderoso", mestre da oratória, defensor do ceticismo, que nega a realidade e a possibilidade do saber, pois, segundo ele, tudo é ilusório. Para ele: 1 - nada existe; 2 - mas, se alguma coisa existisse, não se poderia conhecê-la; e 3 - se ela pudesse ser conhecida, ela não poderia ser comunicada, transmitida, aos outros. Se não há possibilidade de conhecer a realidade, só há para os homens não o caminho da verdade, como pensara Parmênides, mas o caminho da opinião, do achismo (da doxa), e, se não há verdade, a palavra (e o discurso), sem limites postos pela realidade, que não é, ganha força, torna-se autônoma, ilimitada, onipotente.

Com o relativismo, os Sofistas criticaram não só o conhecimento e a ética, mas também a política pela sua pretensão de ter leis absolutas, universais, para os homens. Para eles, as leis são convenções, também relativas, não existindo o justo e o injusto enquanto tais, na medida em que tais valores não são padrões absolutos, mas artificiais, determinados por aqueles que são "poderosos", que têm força e poder político, para impor aos mais "fracos" uma ordem sócio-política, que lhes dê vantagens e garanta os seus próprios interesses.

Eduardo Chagas é professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia e em Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC)

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