Acostumado a receber milhares de turistas, o restaurante Botín, o mais antigo do mundo, segundo o Guinness Book, está às moscas em pleno verão europeu. Localizado no centro de Madri, o lugar fundado em 1725 luta para sobreviver à pandemia depois de ficar mais de três meses sem abrir as portas. "Nunca havíamos fechado antes. Nem mesmo durante a Guerra Civil Espanhola, de 1936 a 1939. Meu avô continuou alimentando os civis e militares enquanto via as bombas caírem. Agora estamos tentando correr atrás do prejuízo para que esses 295 anos de história permaneçam vivos", afirma o gerente Antonio González.
O local foi fechado em 14 de março, quando a Espanha decretou o confinamento da população, e voltou a funcionar em 1º de julho. O faturamento pós-reabertura, entretanto, não chegou nem perto dos anos anteriores. Sem os habituais turistas, Madri se transformou numa cidade de pouco movimento. De acordo com o gerente, a clientela teve uma redução de 90%.
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Com uma arquitetura preciosa, o restaurante de três andares tem salas de diferentes períodos históricos. A parte subterrânea é a mais charmosa e lembra uma imponente taberna. A especialidade da casa é o cochinillo (leitão assado).
Mesmo com o restaurante fechado, o famoso fogão a lenha, uma das atrações da casa, continuou sendo aceso todos os dias. O responsável por isso é o funcionário Marcos, que vive em frente ao estabelecimento. "Não queríamos correr o risco de que ele parasse de funcionar. São muitos anos de tradição e o fogão a lenha nunca foi apagado. É a nossa tocha olímpica e que mantém o espírito da família vivo desde 1725", complementa González.
Patrimônio histórico de Madri, o Botín, que é considerado pela Revista Forbes como um dos dez melhores restaurantes clássicos do mundo, também já foi o lugar predileto de algumas das personalidades mais importantes da cultura mundial. Em 1765, o pintor espanhol Francisco de Goya trabalhou ali como lavador de pratos. Recém-chegado à cidade, o jovem, então com 18 anos, buscava emprego para se manter em Madri.
O restaurante também aparece em diversas obras literárias. Escritores como Ernest Hemingway, Benito Pérez Galdós e Scott Fitzgerald já citaram o local em seus respectivos romances. Hemingway, que foi correspondente em Madri durante a Guerra Civil Espanhola, amava o cochinillo e o vinho caseiro do Botín. Um dos trechos mais emblemáticos do clássico "O Sol Também Se Levanta", inclusive, se passa no Botín. "De fato, é um lugar com muita cultura literária. Sou otimista em relação ao futuro. Tenho a impressão de que em breve essas mesas estarão cheias novamente. Hemingway ficaria contente", brinca González. (Agencia Estado)