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Reabertura de 35% do setor cultural não paga custos de cinemas e espaços independentes
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Reabertura de 35% do setor cultural não paga custos de cinemas e espaços independentes

Teatros, museus, bibliotecas e cinemas têm liberação para funcionar com até 35% da capacidade, mas cenário econômico dificultada a retomada de atividades
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Cinema no Shopping Benfica e North Shopping reabriram ontem (Foto: fotos Aurélio Alves)
Foto: fotos Aurélio Alves Cinema no Shopping Benfica e North Shopping reabriram ontem

O governador Camilo Santana anunciou, no último 28 de agosto, parcial retorno presencial de atividades culturais nas cidades que já cumpriram a Fase 4 do Plano de Retomada Responsável das Atividades Econômicas e Comportamentais. Em Fortaleza e municípios da macrorregião da Capital, o funcionamento de teatros, museus, bibliotecas e cinemas com 35% da capacidade foi liberado desde segunda-feira, 31. Seguindo protocolos sanitários determinados pelo decreto, grandes redes de cinema estão retomando as exibições — entretanto, diante das incertezas provocadas pela Covid-19 na saúde e também na economia, equipamentos geridos pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará e diversos espaços independentes seguem fechados.

O mercado audiovisual, um dos mais rentáveis no setor da cultura, iniciou nesta semana a programação do festival nacional "De Volta para o Cinema" — iniciativa do movimento #JuntosPeloCinema que promove a exibição de blockbusters com ingressos a preços fixos de R$ 10 para salas convencionais e R$ 20 para salas VIP. "O cinema é um chamariz para o nosso shopping", pontua Bruna Soares, proprietária dos Cinemas Benfica.

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Na última quinta-feira, 3, as salas de cinema do Shopping Benfica reabriram com a oferta de 35% das 632 poltronas disponíveis. "Na realidade, 35% não paga o custo operacional do cinema e a gente também tem um custo adicional de equipamentos de proteção, de segurança e de higienização — com um intervalo de 30 minutos entre as sessões. Desde o princípio da pandemia, participo de um grupo de exibidores de cinema no Ceará e nós apresentamos ao governador uma proposta de retomada inicial com 40% , o que ainda não justifica o operacional de cinema. Mas todos acreditamos que é preciso abrir as salas para que o cinema volte a ter crédito", defende Bruna.

"Não há escola de administração que ensine a sobrevivência em seis meses de portas fechadas", pontua Patricia Cotta, gerente nacional de marketing do Kinoplex, rede com 271 salas em 19 cidades brasileiras. "Operar uma sala com 35% envolve uma operação muito mais cuidadosa e nos preparamos muito para isso. Nosso sistema teve que ser totalmente adaptado para que o cliente não precise ter nenhuma preocupação no momento da compra. Todo o bloqueio de poltronas necessário ao distanciamento seguro é feito automaticamente pelo sistema a cada compra. Sem dúvida, operar com 35% não é o suficiente para suprir todos os custos que temos, especialmente nesse momento onde são necessários investimentos adicionais em segurança, mas entendemos que ainda é necessário e, com o nível de segurança que estamos trabalhando, acreditamos que isso vai melhorar gradativamente", complementa. Em Fortaleza, o Kinoplex ofertará inicialmente 371 poltronas.

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Apesar do decreto do Governo do Estado, a maioria dos equipamentos gerenciados pela Secult — a exemplo, o Cineteatro São Luiz — segue temporariamente fechada para receber o público presencial. A pasta mantém programações virtuais e drive-ins. "As ações on-line são uma forma de atender a um público maior que ainda não se sente seguro ou confortável para voltar a frequentar os equipamentos. Por meio dos editais e das ações já programadas, a Secult Ceará possui uma programação agendada e com compromissos assumidos anteriormente com artistas, a exemplo do Edital Dendicasa e o Edital Arte em Rede. A Secult comunica que a retomada é feita de modo gradual e responsável. Os equipamentos estão em fase de planejamento da volta presencial, resguardadas as condições de cada um no que diz respeito à estrutura física, curadoria, orçamento, programação e natureza da instituição", afirma a secretaria em nota.

No âmbito municipal, a Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor) tem previsão de retomada presencial de equipamentos específicos na segunda quinzena de setembro. Conforme a assessoria do órgão, três bibliotecas — Biblioteca Infantil Herbênia Gurgel, Biblioteca Dolor Barreira e Biblioteca Cristina Poeta —, assim com o Teatro São José e feiras no Mercado Cultural dos Pinhões devem voltar a funcionar parcialmente ainda neste mês.

O Centro Cultural Banco do Nordeste, de acordo com o gerente da célula Gestão de Cultura Murilo Albuquerque, segue fechado para atividades presenciais por enquanto. "Neste mês será um pouco difícil reabrir, todo mundo foi pego de surpresa. Não é simples reabrir um equipamento e tudo precisa ser analisado para trabalhar com os graus de contaminação", explica. Já o Museu da Indústria reabriu na última terça-feira, 1º, para visitas presenciais e online. O uso de máscara no local é obrigatório e os grupos previamente agendados deverão ter até 15 pessoas.

Para espaços independentes, como a Casa Absurda, a volta presencial é dificultada pelas impossibilidades financeiras de adaptação. "Mesmo com a liberação do governador, a Casa Absurda não consegue implementar protocolos para receber nem que seja 35% do público porque somos um espaço alternativo, um espaço pequeno. A gente também não tem recurso para atender ao protocolo e fazer uma série de modificações, então isso é um problema", destaca o gestor cultural Nelson Albuquerque, um dos idealizadores da casa. "Cada mês a gente vai pensando estratégias pra manter as contas e trabalhamos muito, mesmo de casa, para manter uma programação ativa e pulsante. Por mais que se tenha uma retomada gradual, o impacto foi muito grande e a gente não tem como voltar de uma vez. A gente está passando por isso, mas a pandemia ainda não acabou, o isolamento continua e a gente precisa estar atento. A gente ainda está entendendo e esperando muito também que os equipamentos oficiais apontem caminhos que espaços alternativos compreendam e se coloquem com todas as dificuldades", finaliza.

"Operar com 35% não é o suficiente para suprir todos os custos que temos", afirma gerente da rede Kinoplex

O POVO: Em quantas cidades e qual é o número de salas que a rede Kinoplex opera no Brasil? Durante o isolamento social, todas as unidas ficaram fechadas?

Patricia Cotta: O Kinoplex tem 271 salas em 19 cidades brasileiras, incluindo salas em parceria com a rede UCI. Todas as unidades ficaram fechadas durante a quarentena, preservando a segurança de nossa equipe e espectadores, até esse momento em que autoridades de saúde julgaram segura a nossa reabertura.

OP: Operar uma sala com 100% de capacidade envolve os mesmos procedimentos que operar uma sala com 35%? Essa reabertura parcial ocasiona prejuízos financeiros para o cinema, nesse sentido?

Patricia: Operar uma sala com 35% envolve uma operação muito mais cuidadosa e nos preparamos muito para isso. Nosso sistema teve que ser totalmente adaptado para que o cliente não precise ter nenhuma preocupação no momento da compra. Todo o bloqueio de poltronas necessário ao distanciamento seguro é feito automaticamente pelo sistema a cada compra. Sem dúvida, operar com 35% não é o suficiente para suprir todos os custos que temos, especialmente nesse momento onde são necessários investimentos adicionais em segurança, mas entendemos que ainda é necessário e, com o nível de segurança que estamos trabalhando, acreditamos que isso vai melhorar gradativamente.

OP: Como a paralisação das atividades presenciais afetou os rendimentos do setor de exibições

Patrícia: Como em diversas outras indústrias, a interrupção do funcionamento dos cinemas por mais de cinco meses teve um impacto devastador para os exibidores. Não há escola de administração que ensine a sobrevivência em seis meses de portas fechadas. No Kinoplex, até agora, com muito esforço, conseguimos passar por esse período sem desligamentos de funcionários e esperamos que a retomada das atividades aconteça de forma positiva para que possamos seguir trabalhando e mantendo nossas equipes, com toda segurança necessária.

OP: Como o Kinoplex voltará a funcionar? Quais medidas de cuidado para evitar a contaminação serão tomadas?

Patricia: Entre as medidas de prevenção, está o uso de máscaras, que será obrigatório em todos os ambientes e para todos os espectadores e colaboradores. O consumo de alimentos e bebidas será permitido, exclusivamente, quando o espectador estiver sentado em seu lugar marcado dentro da sala de exibição, único momento em que a máscara poderá ser retirada. Não será permitido consumo no foyer ou em qualquer outra área do cinema.

Para efetuar a compra de ingressos e itens da bomboniere, o Kinoplex recomenda que a operação seja realizada pela internet, mas totens de autoatendimento também estarão disponíveis para venda desses produtos e serão higienizados de forma recorrente. O espaçamento entre clientes nas filas estará sinalizado para manter o distanciamento seguro e as pessoas serão orientadas a higienizar suas mãos antes e depois de utilizar qualquer equipamento. Telas touch screen, corrimãos, poltronas e demais superfícies de contato serão frequentemente higienizadas com álcool em gel 70%, que também estará disponível para o público em todo o saguão do cinema.

A capacidade das salas em Fortaleza também será reduzida a 35% (371 lugares) e deverá ser obedecida uma distância mínima de dois metros entre as pessoas. No entanto, espectadores que têm convívio diário, como casais e famílias, por exemplo, poderão sentar juntos. Em parceria com a Ingresso.com, o Kinoplex disponibilizou um sistema de vendas inteligente, que bloqueia automaticamente os assentos necessários ao distanciamento seguro conforme as vendas vão acontecendo.

O Kinoplex possui renovação contínua de ar em todas as suas salas e reforçou os protocolos de limpeza em todos os aparelhos de ar condicionado, com uso de pastilhas antibactericidas e elementos filtrantes. Por fim, todos os novos procedimentos e regras de prevenção serão constantemente reforçados pela equipe de colaboradores da rede, que passou por um intenso treinamento para receber o público e ajudá-lo durante toda sua visita ao cinema.

OP: Por fim, qual a importância do retorno do público neste momento? Sobretudo, quais medidas os espectadores devem adotar para minimizar os riscos?

Patricia: Os espectadores podem ter a tranquilidade de que tomamos todas as medidas para preservar a segurança e bem-estar de todos. O retorno às salas será feito da forma mais segura possível, mas é fundamental que cada um faça a sua parte para passarmos por este momento ainda desafiador. Para isso, é preciso que os espectadores, se possível, comprem seus ingressos e pipoca pela internet; usem as máscaras o tempo todo, retirando-as para consumo dos alimentos somente quando estiverem sentados em seus lugares marcados dentro da sala; respeitem as sinalizações de distanciamento dentro do complexo; não mudem de lugar; obedeçam os protocolos de entrada e saída das sessões; cheguem ao cinema no máximo uma hora antes do início da sessão; e também façam uso do álcool em gel após tocarem em superfícies de contato.

Patricia Cotta, gerente nacional de marketing do Kinoplex

Espaço alternativo, Casa Absurda segue fechada em virtude da pandemia

O POVO: O governador Camilo Santana liberou, no último dia 29, o retorno gradual de espaços culturais — com capacidade de 35% do público. Nesse ínterim, a Casa Absurda já planeja uma reabertura ou segue fechada?

Nelson Albuquerque: Mesmo com a liberação do governador, a Casa Absurda não consegue implementar protocolos para receber nem que seja 35% do público porque nós somos um espaço alternativo, um espaço pequeno. A gente também não tem recurso para fazer uma série de modificações para poder receber o público. Isso é um problema pra gente. Sobre essa decisão do governador, tem outra questão que são os espetáculos que a gente faria. Tem uma questão não só do público, mas os elencos estarem muito próximos do público e isso gera uma dificuldade. Mas a gente talvez faça alguns eventos até o surgimento da vacina, mas uma programação recorrente é mais difícil nesse momento.

OP: Como a pandemia impactou os rendimentos de vocês? Como tem sido sustentável manter o espaço funcionado?

Nelson Albuquerque: Toda a agenda do Pavilhão da Magnólia e da Cia Prisma de Artes foi cancelada. São atividades que mantém os grupos e mantém a Casa. Toda a agenda que a gente pensa para a Casa, que ajuda a complementar os custos, também foi cancelada. A primeira coisa foi entender como tudo isso ia acontecer, então a gente passou um mês  tentando entender como seria isso tudo... Depois a gente inventou uma série de de de atividades virtuais, desde galeria virtual para artes visuais, teatro, dança, espetáculos; enfim, a gente inventou uma programação bem intensa durante esses quatro, cinco meses assim. Foram mais de oitenta programações. Fizemos uma vaquinha virtual e conseguimos um desconto de 30% do aluguel durante a pandemia. Foi através das atividades, dessa vaquinha, da ajuda dos Amigos Absurdos, que é uma campanha que a gente fez. As pessoas que frequentam a Casa e que se tornaram amigos da Casa também doaram. Cada mês a gente vai pensando estratégias para manter as contas assim da Casa. Por mais que se tenha uma retomada gradual, o impacto foi muito grande e a gente não tem como voltar de uma vez.

Nelson Albuquerque é ator, diretor, produtor e gestor Cultural. Idealizador da Casa Absurda

UCI Kinoplex Iguatemi Fortaleza e UCI Shopping Parangaba reabrem na próxima quinta, 10

Nota da rede UCI ao Vida&Arte:

"Os complexos UCI Kinoplex Iguatemi Fortaleza e UCI Shopping Parangaba, em Fortaleza, vão reabrir na próxima quinta, 10 de setembro. Depois desse longo período de isolamento social, a UCI está pronta para receber seus clientes e implementou extenso protocolo de higienização para oferecer o ambiente mais seguro possível nos dois cinemas. O principal foco da UCI é preservar a coletividade da forma mais ampla e, por isso, a rede segue à risca o protocolo obrigatório recomendado pelas autoridades de Fortaleza e pela OMS (Organização Mundial de Saúde). A UCI também conta com a aprovação dos médicos infectologistas Francisco Beraldi e Raquel Monteiro, que consideram os cinemas aptos para o retorno e de acordo com as indicações da OMS, do CDC (Código de Defesa do Consumidor) e da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Durante esses mais de cinco meses, as atividades das 203 salas da rede ficaram interrompidas apenas para o público. Porém, internamente, os executivos da UCI continuaram ativos trabalhando para este retorno, que já aconteceu nos complexos UCI Sumaúma ParkShopping, em Manaus, e UCI Shopping Bosque Grão-Pará, em Belém. Sobre os demais cinemas da rede, a UCI reforça o compromisso de retomar gradativamente as atividades das salas de acordo com as adequações do isolamento social em cada uma das 13 cidades que está presente.

Para a volta segura do UCI Kinoplex Iguatemi Fortaleza e do UCI Shopping Parangaba, a higienização foi intensificada do foyer e áreas comuns às salas de exibição e seus assentos, principalmente em superfícies de contato. Dispensers de álcool em gel ficarão espalhados nos ambientes dos cinemas e a comunicação reforçará a importância de que todos sigam os protocolos de segurança e higiene, mantendo a distância social de qualquer pessoa que não seja do seu grupo. Além disso, as bilheterias e bombonières estarão equipadas com escudos de acrílico de proteção e, pelos complexos, a utilização de máscaras será obrigatória para funcionários e clientes. Toda a equipe UCI também usará protetor facial durante o expediente. Na bombonière, na bilheteria, nos terminais de autoatendimento e no acesso às salas, marcadores de piso indicarão as posições ideais de cada cliente para o distanciamento. Quanto ao consumo de produtos, será permitido apenas dentro das salas de cinema, quando cada espectador estiver sentado no seu lugar marcado. Também faz parte das recomendações da UCI a compra online de ingressos e itens da bombonière. A venda ainda poderá ser efetuada em terminais de autoatendimento disponíveis nos complexos. No caso de pagamentos presenciais no balcão, a UCI indica o uso de cartões pelo método de aproximação.

Sobre a operação das salas, também teve mudança e os procedimentos serão ainda mais rigorosos. Com o intuito de evitar aglomerações e para que a limpeza seja realizada no tempo adequado, haverá limitação da capacidade de público para 35% em cada sala, aumento do intervalo entre os filmes e distanciamento entre as poltronas. A venda de ingressos será controlada por um sistema que bloqueia automaticamente os assentos próximos aos já ocupados. Em casos de clientes da mesma família, o software se adapta automaticamente possibilitando que os integrantes sentem-se juntos sem alterar a segurança e o espaçamento dos demais espectadores".

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