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Novas regras do Oscar buscam estimular diversidade no cinema
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

Novas regras do Oscar buscam estimular diversidade no cinema

Regras para concorre ao Oscar de Melhor Filme ganham critérios específicos voltados à diversidade e podem representar mudanças estruturais no cinema dos EUA
Tipo Opinião
Drama
Foto: divulgação Drama "A despedida", da diretora Lulu Wang, conquistou boas críticas e repercussão no ano passado, mas não chegou ao Oscar

Foram muitas as críticas feitas ao Oscar e ao modelo da premiação ao longo de seus mais de 90 anos de história. Mais recentemente, com a força das redes sociais e das discussões identitárias, movimentos mais contundentes foram feitos em oposição à ausência de pessoas não brancas indicadas em categorias como as de atuação, roteiro e direção, bem como a falta de mulheres nas duas últimas. Desde a fortificação de movimentos como #OscarsSoWhite, em 2015, mudanças pontuais foram sendo implementadas na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Agora, uma nova ação tomada pela instituição promete ter um nível maior de impacto não somente no prêmio, como na indústria como um todo, ao definir "novos padrões de representação e inclusão" como critérios, válidos a partir de 2024, para elegibilidade ao prêmio de Melhor Filme.

No comunicado de divulgação da mudança, a Academia explica que essa é uma forma de "encorajar a representação equitativa dentro e fora da tela, a fim de melhor refletir a diversidade do público que vai ao cinema". Para um longa ser indicado a Melhor Filme, ele precisará cumprir pelo menos dois entre quatro novos critérios de elegibilidade. A maioria deles diz respeito à presença de grupos étnico-raciais minoritários, mulheres, pessoas LGBTQ+ e pessoas com deficiência não somente nas tramas dos filmes, mas também em funções como atuação, direção, chefias de áreas, funções técnicas e até entre as equipes das distribuidoras, financiadoras e agências de publicidade das produções.

Desde a época do #OscarsSoWhite, a Academia passou a convidar novos membros para o corpo de votantes que fossem mais diversos do que o perfil majoritário que persiste ainda hoje: homens, brancos e mais velhos. Entre as pessoas convidadas de 2020, por exemplo, ela divulgou com destaque que 45% eram mulheres, 36% de comunidades étnico-raciais sub-representadas e 49% de fora dos EUA. Entre outros dados, a Academia ressaltou ainda que, de 2015 para cá, dobrou o número de integrantes mulheres e triplicou o de pessoas de comunidades étnico-raciais sub-representadas.

É possível apontar que a abertura do Oscar para um filme como o sul-coreano "Parasita", grande vencedor do prêmio em março, deva ser fruto desses movimentos. No entanto, por mais que em alguns anos os resultados surpreendam positivamente, não há uma constância. Levando em conta as indicações nas últimas cinco edições da premiação, por exemplo, o número de pessoas não-brancas que venceram categorias de atuação é apenas 20% do total.

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Para efeito de exemplo, vale lembrar da trajetória no Oscar de três elogiados filmes lançados em 2019 e protagonizados por atrizes não-brancas: "A Despedida", de Lulu Wang, que conta a história de uma jovem sino-americana em contato com sua família chinesa; "As Golpistas", de Lorene Scafaria, que segue um grupo de strippers pelo ponto de vista de uma novata interpretada pela atriz de ascendência tawainesa Constance Wu; e "Nós", de Jordan Peele, suspense protagonizado por Lupita Nyong'o. O número de indicações ao Oscar obtidas pelas três produções? Zero. A lista de casos como esses é extensa.

Há quem tenha recebido a notícia dos novos critérios com ressalvas, questionando a liberdade das produções de contarem as histórias que quiserem, por exemplo. No entanto, é importante ressaltar que não há obrigação de segui-los, somente se houver interesse em disputar na categoria de Melhor Filme, e não é preciso cumprir os quatro padrões instaurados, mas apenas metade deles. Logo, estúdios e produtoras podem continuar fazendo o que quiserem - só não poderão ser elegíveis ao grande prêmio do Oscar caso optem por não adotar os requisitos. Se a premiação importar, irão atrás de se adequar. A chave da decisão é essa: ela importa. O movimento é, em suma, a Academia usando de sua história e relevância para estimular renovações que podem levar, potencialmente, a mudanças estruturais na indústria. Ao demandar dos filmes que haja, por exemplo, estagiários pertencentes a grupos minoritários nas empresas envolvidas, a instituição pode estar - no melhor dos cenários - mexendo com o perfil do ramo cinematográfico dos Estados Unidos. Naturalmente, adotar os tais critérios na prática pode ter lá seus desafios, mas a ideia aponta para um horizonte - tomara - cada vez mais diverso.

Foto do João Gabriel Tréz

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