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A fonte do conhecimento são as impressões sensíveis
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A fonte do conhecimento são as impressões sensíveis

| FILOSOFIA PARA INICIANTES | Pesquisador Eduardo Chagas explica os princípios norteadores do filósofo britânico David Hume, célebre por seu empirismo radical
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David Hume (1711-1776), como filósofo empirista, defende que o método adequado para a ciência é o experimental, mas o objeto da experiência não são os fenômenos externos, mas as impressões sensíveis (ver, ouvir, pegar, cheirar e degustar) das coisas. Para ele, todo conhecimento que o homem tem em sua mente vem das percepções, que, para ele, são duplas: as percepções sentidas, que são as percepções simples, as impressões sensíveis; e as percepções pensadas, que são as percepções complexas, as impressões reflexivas, ou ideias.

Hume estabelece ainda nas percepções uma diferença de intensidade: fortes e fracas. As percepções simples, enquanto impressões sensíveis, são as percepções que se apresentam à nossa mente com força, com nitidez, como o sentir em geral, as sensações, as emoções, as paixões etc. E as percepções complexas, enquanto impressões reflexivas, designadas de ideias, são percepções mais fracas, "apagadas", das impressões sensíveis, como o pensar em geral. Hume põe ainda mais uma diferença entre as percepções, que é a de sucessão temporal. De acordo com ele, o ser humano tem primeiro impressões sensíveis, pois elas são originárias; em seguida, vem as ideias, que dependem das impressões sensíveis e são cópias (imagens) destas. Quer dizer, primeiro o homem tem impressões sensíveis, ele vê, escuta, toca, cheira, degusta algo, e, só depois, ele pensa sobre esse algo, tem ideias dele. Com isto, não existem ideias inatas, pois as ideias provêm, mediata ou imediatamente, das impressões sensíveis. E, dependendo das impressões sensíveis que o homem tem dos objetos, essas ideias podem ser simples ou complexas. Se a impressão de um objeto for simples (como o frio, o quente, etc.), o homem tem uma ideia simples, mas, se a impressão for complexa (como a impressão de uma maçã, com cor, sabor...), ele terá uma ideia complexa, como cópia dessas impressões complexas.

Além da percepção, Hume defende que o homem tem duas faculdades: a memória, que guarda uma imagem (ideia) das impressões ocorridas, e a imaginação, que combina essas ideias, formando as ideias gerais, universais. Para ele, a imaginação humana segue de três princípios, como a semelhança, a proximidade e a relação de causa e efeito, para fazer pelo hábito, pelo costume, associações entre as ideias, dando-lhes uma dimensão geral, universal. Embora toda impressão sensível que o homem tem seja diferente, individual, particular, determinada, e as suas ideias, por serem cópias dessas impressões, sejam também particulares, é a experiência, o hábito, o costume, que faz de uma ideia particular ser tomada pelo homem como idêntica, geral, universal. Isto é evidente, na visão de Hume, na relação de causa e efeito, que são ideias diferentes, e que não é possível pela ideia de causa ter a priori um efeito derivado dela, pois o efeito não está incluído, necessariamente, na causa. Mas, é a experiência do hábito que faz o homem prever de uma causa já um efeito, embora o efeito não esteja na causa. Assim sendo, as ideias universais, gerais, comuns a nós, que nós temos, deduzidas dos princípios da imaginação, a saber, da semelhança, da proximidade e da relação de causa e efeito, não têm fundamento objetivo, científico, mas subjetivo, derivadas do nosso hábito, do costume, dando-nos apenas crença sem fundamento, crendice, acerca das coisas.

Eduardo Chagas é professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia e em Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC)

 

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