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Estreia da Netflix, série policial "Bom dia, Verônica" aborda violência de gênero
Vida & Arte

Estreia da Netflix, série policial "Bom dia, Verônica" aborda violência de gênero

Adaptação do livro homônimo de Raphael Montes e Ilana Casoy, série policial "Bom dia, Verônica" aborda violência de gênero. O V&A conversou com criadores e atores da atração, que estreia amanhã, 1º
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Camila Morgado interpreta Janete em Bom dia, Verônica, mulher que é vítima de um marido abusivo (Foto: FOTOS: Suzanna Tierrie / Netflix)
Foto: FOTOS: Suzanna Tierrie / Netflix Camila Morgado interpreta Janete em Bom dia, Verônica, mulher que é vítima de um marido abusivo

A parceria entre o escritor Raphael Montes e a criminologista Ilana Casoy - que têm carreiras paralelas na literatura, ele na ficção de suspense e ela com obras sobre crimes reais -, começou no livro "Bom dia, Verônica", publicado sob pseudônimo. A partir de amanhã, 1º, um novo passo da dupla estará disponível, desta vez na Netflix: é a adaptação da obra no formato de série. A produção segue a escrivã da Delegacia de Homicídios de São Paulo Verônica, interpretada por Tainá Müller, que se envolve em dois casos distintos de violência contra mulheres. O Vida&Arte acompanhou coletiva virtual com os criadores, Tainá, a atriz Camila Morgado e o ator Du Moscovis, que também compõem o elenco principal.

A experiência da nova série não é inédita para os autores em termos de formato, mas é, sim, em termos de alcance. "A imagem comunica na hora. Uma série na Netflix comunica na hora para 190 países", definiu Raphael, que assina não somente como criador e produtor executivo, mas também roteirista-chefe da adaptação - ou seja, as decisões de roteiro, do que tirar e do que acrescentar à obra original passaram por ele. Para Ilana, o trabalho foi certeiro. "É uma emoção incrível ver tudo que você imagina andando pela sala, com as contribuições que o audiovisual traz. A literatura é o meu mundo e o do Rapha e, quando parte para o audiovisual, tem a contribuição de todo mundo. (No roteiro), ele conseguiu (adaptar) sem que a essência fosse perdida, sem que o recado fosse minimizado", considerou.

As decisões, explicou Raphael, foram tomadas através de "muito diálogo". "Quando estive na sala de roteiro, com roteiristas talentosos do mercado, incentivava todo mundo a dar ideia, reclamar. A gente tinha altas discussões. Nas outras fases - pré-produção e produção, direção, figurino, maquiagem, direção de arte, produção de elenco -, a gente fez parte delas sempre no diálogo. O objetivo era o mesmo: entregar uma série engajante, de thriller, com viradas e surpresas e que emocione o público", resumiu.

Para Raphael, a série é "a união perfeita de entretenimento e pertinência" por ter não somente o envolvimento do thriller, mas também trazer denúncias e temas importantes. Tendo como debate central a violência de gênero, a obra procura alertar sobre o assunto. "A gente escreve sobre violência sem ela ser entretenimento. Ela faz parte da vida, mas é uma forma de causar reflexão, denunciar, alertar", ressaltou Ilana.

Para a protagonista Tainá Müller, o envolvimento pessoal foi forte. "É uma realidade brasileira, sou mulher e, do meu lugar de mulher branca, me interesso pela interseccionalidade do feminismo", afirmou. Na série, um dos casos nos quais Verônica se envolve é o de Janete (Camila Morgado), que é subjugada ao marido, o policial militar Brandão (Du Moscovis). A relação abusiva esconde segredos.

"Tive muito respeito por viver a vítima e um comprometimento de que ela fosse bem retratada, verossímil", destacou Camila. "Fazer a Janete foi muito difícil, profundo, por conta de toda a carga emocional dela. A maioria das cenas eram complicadas. É um processo difícil a ponto das mulheres do set terem vindo falar comigo. Fisicamente, é um lugar ruim de se estar, mas ao mesmo tempo, como atriz, é muito bom poder estar representando isso para que mulheres se identifiquem", elaborou.

Du Moscovis ressoou as dificuldades de construir as cenas de abuso psicológico. "Às vezes, é mais fácil uma cena em que você se joga, bate, briga, chora, quebra tudo. Você usa uma sequência de cena dessas pra botar pra fora. Pra mim, parecia mais difícil fazer toda a trilha e sustentar. Como você sustenta aquele universo naquele tom, que é comedido, cruel?", pontuou.

Além do tema central, "Bom Dia, Verônica" abre espaço para outras discussões bastante conhecidas no Brasil, como corrupção - falar mais, porém, resvala no risco de revelar detalhes da trama. "É um thriller muito brasileiro, trata de questões muito brasileiras, e isso é um mérito. A série consegue tratar de assuntos muito urgentes do Brasil, que estão nos jornais, e faz isso com uma autenticidade nossa. Acho muito legal ir para o mundo dessa forma. Hoje, tá todo mundo olhando o Brasil, querendo saber o que está acontecendo. 'Bom dia, Verônica' levanta algumas questões sobre o que está acontecendo aqui e acho isso muito importante", considerou Tainá.

Bom dia, Verônica

Oito episódios

Disponível a partir de 1º/10 na Netflix

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