Jogos de mundo aberto são comuns e variados atualmente. Entretanto, no começo dos anos 2000, pela influência de "Grand Theft Auto" (GTA), boa parte dos estúdios de desenvolvimento buscavam incansavelmente surfar na onda daquela que, ainda hoje, é uma das franquias de videogame mais bem sucedidas de todos os tempos.
Entre várias tentativas e poucos acertos, a série "Mafia" se destacou por trazer a experiência exploratória e não-linear de "GTA" para um cenário mais maduro e cinematográfico, tomando emprestado de filmes como "O Poderoso Chefão" e séries como "Família Sopranos".
Com o enredo inalterado, o jogo permanece com Tommy Angelo como protagonista. Controlado pelo jogador, o simples taxista se vê novamente imerso no conflito entre gangues e a polícia, progredindo gradativamente nos escalões do crime.
Para os mais desavisados, apesar das similaridades, este é um game diferente da maioria dos títulos de ação em mundo aberto, e este permanece sendo o maior atrativo do jogo, mesmo se tratando de um remake. Diferente da maioria dos exemplares de seu gênero, "Mafia" é bem mais focado no enredo a ser contado do que em missões espalhadas pela cidade. O jogador se sente menos livre, mas ganha uma qualidade maior na narrativa que lhe é contada em cada momento.
Mesmo sendo exigente do ponto de vista dos gráficos, o visual do remake do primeiro "Mafia" é deslumbrante. Sua direção de arte não é tão rebuscada quanto a de títulos mais recentes, porém é evidente que o estúdio de desenvolvimento Hangar 13 (e distribuído pelo 2K Games) fez um excelente trabalho em atualizar os visuais de um jogo com quase 20 anos de idade. Qualquer comparação com o game original deixa isto muito claro.
Cada detalhe de Lost Heaven - que imita a cidade de Chicago durante a década de 1930 - foi recriada. Se perder pelas ruas da cidade se torna prazeroso por conta da qualidade das estruturas arquitetônicas por todo o lugar. Com a adição de mais elementos na tela, a atmosfera dos anos da Lei Seca norteamericana se torna mais palpável e imersiva. E por se tratar de um mundo menor que o da maioria dos games similares, o grau de detalhamento de prédios e personagens é bastante alto.
Curiosamente, um dos maiores deméritos ao game original se torna nesta versão uma característica bastante atraente. Logo ao ser lançado, em agosto de 2002, "Mafia" foi duramente criticado pela falta de atividades secundárias em sua experiência de jogo. Anos depois, seu remake pode ser entendido como uma bênção aos jogadores que buscam games mais enxutos e "diretos ao ponto", que tergiversam pouco e que mantém constante e alto o grau de refinamento de sua jornada durante toda a jogatina. Poder ir aonde quiser dentro do game, mas se manter preso ao enredo e à progressão da história dá a ele um ar de frescor que deveria ser seguido por títulos futuros. Afinal, mira em uma audiência mais madura que, cada vez mais tem menos tempo para se debruçar sobre um game muito longo. Ainda sim, os que adquirirem "Mafia: Definitive Edition" terão cerca de 25 horas de jogo em suas mãos.
Estar focado na estória de Tommy e seus amigos mafiosos não significa uma falta de variedade de coisas para fazer. Entre cada missão há espaço para ações alternativas, como buscar e colecionar belíssimos modelos de automóveis inspirados nos anos 30. Sendo estes uma constante no game - já que é necessário dirigir para cada missão presente - é notável a qualidade visual de cada carro colocado neste remake.
As próprias missões do jogo apresentam certa variedade de atividades. Entre perseguições, tiroteios, resgates e invasões na calada da noite, este - de modo algum - é um jogo monótono. Entretanto, seu compasso é cadenciado e pode ser percebido por alguns como lento. É importante reiterar a proposta de "Mafia" é ser diferente de títulos open world de marcas como Rockstar e CD Projekt Red. É uma experiência única e, trazida aos dias de hoje, diferente e refrescante. É como comparar um filme de mafiosos à franquia "Velozes e Furiosos": ambos trazem criminosos, armas e carros velozes de maneiras completamente diferentes.
Quanto à sua jogabilidade, o título repousa um pouco demais nos moldes do passado. Reproduz a dinâmica de um game de tiro em terceira pessoa nos momentos de ação com qualidade, mas fica evidente que algumas mecânicas de outrora já não funcionam tão bem hoje em dia. O sistema de mira é um pouco desajustado, ou pelo menos demora um pouco para acostumar. Para compensar, a nova versão traz diversas opções de customização, tanto do gameplay como da própria dificuldade do game. O sistema de auxílio de mira é excelente e é recomendado aos jogadores mais habituados aos sistemas de jogos atuais.
Não só pela aparência, como também pela qualidade de seu enredo, o remake do primeiro "Mafia" prende a atenção do jogador do começo ao fim. Para amantes da estética gângster, o game é um prato cheio, mas com certeza também irá agradar players que admiram boas histórias. Há poucos títulos que trazem o que este traz.
Davi Rocha é integrante do canal de Youtube Bacontástico
Como jogar
Mafia: Definitive Edition está disponível para Xbox One, Playstation 4 e PC. Ainda não há informações se o game terá uma versão para os consoles da próxima geração. Abaixo você confere a lista de requisitos mínimos para rodar o game no computador:
Sistema operacional: Windows 10 64-bit
CPU: Intel Core i5-2500K ou AMD FX-8120
RAM: 6 GB memória
GPU: Nvidia GeForce GTX 770 ou AMD Radeon R9 280X
Armazenamento: 50GB