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Fórum reúne entidades em defesa do patrimônio cultural brasileiro
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Fórum reúne entidades em defesa do patrimônio cultural brasileiro

|Memória| Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro fomenta mobilização contra ataques ao Iphan e defende patrimônio como preservação da diversidade cultural
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Festa de Iemanjá é celebrada em Fortaleza desde 1950 nos meses de agosto. O evento é patrimônio cultural da Cidade (Foto: Camila De Almeida em 15/8/2019)
Foto: Camila De Almeida em 15/8/2019 Festa de Iemanjá é celebrada em Fortaleza desde 1950 nos meses de agosto. O evento é patrimônio cultural da Cidade

Em 2 de setembro de 2018, um incêndio de grandes proporções atingiu a sede do Museu Nacional no Rio de Janeiro e destruiu o amplo acervo construído ao longo de 200 anos. No ano seguinte, em 25 de janeiro de 2019, o crime ambiental da mineradora Vale em Brumadinho causou mais de 270 mortes e dizimou sítios arqueológicos mineiros. Hoje, o Pantanal arde em chamas que ceifam o bioma e seus animais. O patrimônio cultural brasileiro tem sofrido perdas irreparáveis ao longo do tempo — e o que desaparece entre a poeira das marretadas carrega história. Para fomentar a mobilização contra ataques promovidos ao patrimônio e ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em outubro de 2019 foi criado o Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro em Porto Alegre, capital gaúcha. No próximo sábado, 10, a entidade completa um ano atuação pelo direito à memória.

Formado por uma série de organizações da sociedade civil — entre elas, Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios/Unesco, Associação Nacional de História, Instituto de Arquitetos do Brasil, Sociedade de Arqueologia Brasileira e Conselho Internacional de Museus —, o Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro surgiu num cenário de caos na gestão pública, com troca de técnicos e corte de 70% de verbas do Iphan. No último mês de maio, o Fórum questionou a nomeação de Larissa Rodrigues Peixoto Dutra como presidente do Instituto: amiga da família Bolsonaro, a profissional é formada em Turismo e Hotelaria, mas não possui no currículo atuações relacionadas com a preservação do patrimônio histórico e cultural do País.

Em Fortaleza, o célere desaparecimento da arquitetura modernista construída na década de 1970 exemplifica a frágil ligação da Cidade à sua historiografia. É o caso do Hotel Esplanada na Av. Beira Mar: inaugurado em 1978, o luxuoso projeto do arquiteto Paulo Casé ficou abandonado por uma década até que foi adquirido pelo Grupo M. Dias Branco, que decidiu demoli-lo para construir um edifício de apartamentos no local. "Nós também partimos da ideia de que patrimônio é atribuição de valor. A destruição desses exemplares da arquitetura modernista em Fortaleza coloca em xeque esses valores que são atribuídos ao patrimônio e, por sua vez, à própria Cidade. Neste sentido, eu imagino que está em questão pensar uma memória da Cidade que está sendo destruída em termos de edificações e paisagem, mas também uma própria história da arquitetura modernista aqui no Ceará, em particular Fortaleza. Quando se destrói uma edificação, não é a edificação em si que se destrói somente — é também todo um saber fazer dessa arquitetura", pontua Antonio Gilberto Ramos Nogueira, professor do Departamento de História da UFC, integrante da Associação Nacional de História (ANPUH) e representante nacional do Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro. "O que está em questão é um valor de mercado. Nesse sentido, o valor cognitivo que é atribuído a um bem está sendo perdido. O valor estético da mesma forma, uma vez que todo um tipo de apreço sensorial que aquela obra desperta também se perde. Outra perda é o valor afetivo, na medida que essas edificações suscitam diversas camadas de memória. Também se perde o valor pragmático, no sentido de pensarmos a qualidade de vida da cidade. Por fim, perde-se o valor ético, associado às interações sociais", adiciona Gilberto.

Aterlane Martins, professor do IFCE, é coordenador do Fórum Estadual de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro no Ceará, criado em agosto deste ano. Para o historiador, a defesa do patrimônio cultural é também uma forma eficaz de reconhecer e valorizar quem somos enquanto brasileiros. "Neste sentido, compreender a trajetória histórica que temos até aqui é de suma importância, é desta forma que poderemos construir memórias menos colonizadas e excludentes. Do contrário, que sejam inclusivas, que permitam reparações históricas aos indígenas, aos negros, às populações subalternizadas, às mulheres, entre outros. Este é o legado que o patrimônio cultural deve nos permitir lançar ao futuro, às gerações que nos sucederão, que ao seu modo deverão também preservar o patrimônio cultural, sempre de forma reflexiva e crítica, democrática, sensível na escolha e reconhecimento dos bens que se quer atribuir valor cultural, porque neles se sentem contemplados em sua identidade. O patrimônio cultural resulta do embate político pela afirmação dos sujeitos, de suas histórias, de suas memórias, no reconhecimento da diversidade que os compõem socialmente", defende.

Para os representantes do Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro, é  fundamental ampliarmos a compreensão de patrimônio para assegurar, também, diversidade nos modos de vida. "Podemos pensar que a construção de memórias da cidade perpassa a ação dos seus cidadãos e cidadãs, do seu (auto)reconhecimento e da sua (auto)valorização pessoal e social. Para que o patrimônio cultural de Fortaleza possa ser de fato reconhecido e vivido, ele deve também se descolonizar — nisto falo da ampliação real da compreensão, bem como da materialização da proteção do patrimônio cultural de toda a cidade, não apenas dos monumentos edificados em tempos pretéritos, que remetem restritivamente à uma elite local e suas vivências sociais. Sim, estes bens têm seu valor na história e devem ser preservados, mas não podem continuar a ser os únicos bens reconhecidos, nem tão pouco estarem em uma perspectiva hierárquica, que os ponha sempre em primeiro plano. Há que se buscar uma equidade nas representações do patrimônio cultural. A educação patrimonial vivida para além do tradicional rigor do método escolar, experimentada na comunidade, no bairro, nos espaços periféricos, nos museus, nos espaços tombados, junto aos bens imateriais registrados é, talvez, a forma mais assertiva de promover o sentimento de pertencimento junto à população", encerra Aterlane.

 

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