Quantos músicos foram influenciados por Beethoven durante os dois séculos que sucederam sua morte? Quais destes teriam deixado de seguir uma carreira artística se o compositor não tivesse existido? O número é incalculável, mas é fato que esse personagem mantém, até os dias atuais, um espaço de relevância para vários artistas. O pianista mineiro Franz Ventura é um dos que colocaram o alemão como um dos mais importantes de sua lista.
Essa admiração não foi construída com o tempo. Franz apaixonou-se por Beethoven instantaneamente, quando ainda não tinha conhecimento técnico e era apenas um adolescente que teimava em integrar a banda de rock do irmão. Sem nenhuma experiência, aventurou-se no baixo elétrico e na bateria, porém os instrumentos não o atraíram. Decidiu que precisava de um teclado. Mas havia um problema: sua mãe não iria comprar se ele não tocasse regularmente. Foi neste momento que ela colocou o filho em uma aula experimental de piano no conservatório de Belo Horizonte. E o menino enfrentaria essa primeira experiência com o único objetivo de receber o presente prometido.
"Fui apresentado a uma professora, e ela tocou 'Sonata ao Luar'. Eu não consegui acreditar naquele som. Senti que tinha que aprender aquilo, não precisava de mais nada na vida", lembra Franz. Não teve a permissão da instrutora - ele tinha que adquirir prática para interpretar a obra. Determinado, roubou a partitura para fazer uma cópia e levar consigo. Quando chegou em casa, percebeu que não sabia ler o que estava no papel. "Traduzi tudo e escrevi bolinha por bolinha. Faltei até algumas aulas durante duas semanas. Quando voltei para o conservatório, apresentei a música completa", diz.
Com esse feito, Franz entrou oficialmente no universo da música com 13 anos e não saiu desde então. Concluiu os estudos no Conservatório Estadual Padre José Maria Xavier em São João Del Rei (MG) e chegou a ingressar na faculdade de música, mas desistiu logo em seguida, porque tinha a necessidade de criar. "Eu preferi seguir a carreira de palco. Mas, de uns anos para cá, tem diminuído o espaço para pianistas. É um grupo muito seleto, fechado. Eu precisava enfrentar a academia, e tinha acabado de sair de lá. Isso fecha portas", explica o artista.
Ao entrar na área da composição, lançou alguns discos, como "Obras para piano", em 2013, e "Obras para piano vol.2", em 2016. Com a solidificação da carreira, sentia a vontade de ir para onde o público estava: na Internet. "Sabia que era para as redes sociais que eu tinha que ir. Então, criei um canal no YouTube e, aos poucos, comecei a falar de música. Queria fazer um formato acessível e brincalhão, para desconstruir a visão elitista do gênero", comenta. Foi assim que surgiu o canal que leva seu nome. Aos 28 anos, ele tem um público ainda mais jovem, na faixa etária de 13 a 24 anos. São pessoas, em sua grande maioria, leigas no assunto. "É um público que criou interesse por esse assunto tão específico", explica. Atualmente, o canal Franz Ventura conta com 178 mil seguidores.
Com vários quadros, um dos destaques do canal é o "Tudo Sobre". A partir de conteúdos curtos e descontraídos, Franz introduz a biografia de grandes compositores. Entre Chopin, Tchaikovski, Vivaldi, Heitor Villas-Lobos, Chiquinha Gonzaga e Mozart, reconta as histórias de vida de tantos personagens com base em pesquisas próprias, recheadas de bom-humor. Sobre Beethoven, por exemplo, ele conta: "ele teve suas primeiras aulas de música com o pai dele, que viu que o menino tinha o 'mó' dom pra música e quis transformar o 'guri' em um menino prodígio. Então obrigava o Beethoven, com cinco anos, a estudar horas a fio, de domingo a domingo". Sobre Antonio Vivaldi, autor de "As Quatro Estações", Franz relembra, de forma cômica, um episódio em que o compositor veneziano - que era padre e "largava tudo na frente dele para compor para Deus" - interrompeu a comunhão, em plena missa de domingo, dizendo: "gente, eu preciso sair, porque eu criei uma melodia linda e preciso anotar".
Sozinho, Franz descobriu como editar e escrever roteiro a partir dos tutoriais que encontrava on-line. "No Youtube, o segredo é a persistência, principalmente, quando estamos falando de um tema como o meu. Existe uma geração em que tudo acontece rápido e ao mesmo tempo. Tem pessoas interessantes o tempo inteiro. Você precisa ser uma pessoa atualizada e que consegue lidar com o público", explica.
Mas o sucesso de Franz Ventura revela um fato que pode parecer curioso: a música erudita não precisa estar só entre a elite e o público mais velho. Para gerar interesse nos jovens, mesmo naqueles que desconhecem o básico da técnica, basta torná-la acessível.
Onde acompanhar Franz Ventura
Instagram: @franzventura
YouTube: canal Franz Ventura