A História do Brasil é feita de lacunas. Nestes espaços, permanecem nomes que tiveram papel fundamental na formação do País. Entre as inúmeras renovações que visam o futuro, documentos que registram o passado são perdidos. Mas algumas pessoas fazem da recuperação da memória brasileira uma trajetória de vida. Esse é o caso de Rosana Lanzelotte, que, em 2009, fundou o site Musica Brasilis. A iniciativa tem o objetivo de resgatar e difundir repertórios musicais. Com mais de 270 compositores e 1.500 partituras disponibilizados, parte desse acervo on-line é dedicado ao Alberto Nepomuceno.
"Um dos grandes problemas para fazer nosso repertório no Brasil é a falta de divulgação. Quando me aposentei da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), em 2009, criei o Musica Brasilis, porque era uma lacuna que tinha que ser preenchida. Não adianta a gente ter os manuscritos bem guardados nas bibliotecas. O músico, quando vai fazer um concerto, não vai na biblioteca. Ele procura na Internet", explica Rosana Lanzelotte.
Com aproximadamente 40 mil acessos mensais, considerado um número expressivo para uma temática tão específica, o portal é visitado por pessoas de diversas nacionalidades.
Dois anos depois da criação do projeto, ela estava à procura de acervos de compositores consagrados. Foi quando encontrou o pesquisador Guilherme Goldberg. "Ele havia tido acesso a trabalhos de publicação em papel e nos cedeu gratuitamente. Nessa ocasião, conseguimos cerca de 40 obras, um apanhado muito abrangente", lembra a também doutora em Informática. "A partir desse momento, sempre estamos procurando ampliar o acervo Alberto Nepomuceno, com a preocupação de não duplicar esforços. Miramos em repertórios que ainda não estão disponíveis", comenta.
Atualmente, as produções divulgadas de Nepomuceno chegam a 46, no total. O Musica Brasilis também realiza um trabalho de adicionar recursos educacionais destinados, principalmente, aos professores que queiram levar o conteúdo para sala de aula.
O trabalho de divulgar a memória do pai do nacionalismo na música erudita, porém, é infindável. Além do Musica Brasilis e dos pesquisadores brasileiros que se dedicam aos estudos de sua obra, o Conservatório de Música Alberto Nepomuceno, em Fortaleza, também pratica a aproximação dos estudantes com essas produções. "Os alunos leem partituras, mas alguns preferem outros caminhos que não são o repertório erudito. Então, a gente tenta fazer com que todos participem de nossas atividades a partir de situações diversas", afirma David Calandrine, diretor do conservatório. Neste espaço de aprendizado, um contrabaixo pode substituir a função da mão esquerda do pianista. O aluno que gosta de harmonia faz os acordes. Todas as adaptações são feitas para trazer para os dias atuais o universo que existe há mais de um século.
Nesta questão, as opiniões de David Calandrine e do professor Guilherme Goldberg convergem: para ser lembrada, a música não pode permanecer intocada. "Algo que eu gosto de falar sempre é que temos que perder o respeito pela música. Temos que colocar a música no seu papel do cotidiano, não em um pedestal. Esse é o grande ponto. Vamos fazer as músicas do Alberto Nepomuceno, o que é de de canção, vamos fazer como canção, não somente como ópera. Isso faz toda a diferença", defende Goldberg.