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Registros audiovisuais com os Irmãos Aniceto podem ser encontrados on-line
Vida & Arte

Registros audiovisuais com os Irmãos Aniceto podem ser encontrados on-line

Formação tradicional dos Irmãos Aniceto aparece em registros de diferentes épocas no cinema nacional. Um novo documentário sobre a banda cabaçal também está nos projetos do cineasta Rosemberg Cariry
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Teta Maia, Richelle Vieira e o Mestre Raimundo Aniceto no filme
Foto: Claudio Lima / divulgação Teta Maia, Richelle Vieira e o Mestre Raimundo Aniceto no filme "Siri-Ará", dirigido por Rosemberg Cariry

Aspectos centrais da grandeza da bicentenária banda cabaçal dos Irmãos Aniceto - e das manifestações de cultura popular em geral, decerto - são a oralidade, a ligação geracional e a memória. O que se conta, toca e dança hoje é fruto de histórias, gestos e passos que há décadas são repassados de forma imaterial geração a geração. Tamanha riqueza encontrou materialidade em diferentes formatos, um deles o do audiovisual. São diversos os registros da formação tradicional da banda cabaçal originária do Crato. O integrante remanescente dessa geração, Mestre Raimundo Aniceto, faleceu na última quinta-feira, 15, aos 86 anos.

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Um dos realizadores com maior quantidade de imagens captadas dos Aniceto é o cearense Rosemberg Cariry, cuja relação com os irmãos começou em nível pessoal. "Tive o privilégio de conviver, desde a infância, com grandes nomes das artes do povo do Cariri cearense. Entre eles a banda cabaçal dos Irmãos Aniceto. Eu já os conhecia da feira, onde o velho José Lourenço Aniceto, pai de Chico, João, Antônio e Raimundo, vendia farinha", remonta o cineasta em texto enviado ao O POVO na sexta, 16.

Os encontros profissionais com a banda cabaçal não começaram propriamente no audiovisual, mas em eventos de artes que aconteciam na região do Cariri cearense e em outros municípios do Estado, ainda nos anos 1960. No entanto, já a partir dos anos 1970, Rosemberg começou a registrá-los em vídeo. "Realizei vários registros cinematográficos do grupo e o convidei para participações importantes em alguns filmes de curta e de longa-metragem", divide.

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Entre os citados, estão "Pífanos e Zabumbas" (1988), "O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto" (1985), "Corisco e Dadá" (1996) e "Siri-Ará" (2008) - neste último, os Aniceto aparecem como "atores de grande importância" para a obra. Houve até um clipe performático gravado em 1993 por Rosemberg com o grupo e o saxofonista Ivo Perelman. O material, informa o diretor, está sendo resgatado em um documentário sobre o músico.

"Não estive sozinho nesse privilegiado ofício", ressalta o cineasta. Listando nomes que filmaram os Aniceto, elenca Geraldo Sarno, Bola (Jackson Bantim), Zelito Viana, Jefferson de Albuquerque Jr., Hermano Pena, Pachelly Jamacaru, Aurora Miranda Leão, Eric Laurence e Sérgio Rezende, entre outros. "Seria preciso uma detalhada pesquisa para levantar todos esses registros audiovisuais".

Entre filmes mais ou menos difíceis de serem acessados, um destaque é "Dona Ciça do Barro Cru", curta de 1979 assinado por Jefferson de Albuquerque Jr. e recentemente disponibilizado pelo Cineteatro São Luiz no YouTube. Ao longo de 10 minutos, o filme reúne a personagem-título, outro importante nome da cultura cearense, a banda cabaçal dos Irmãos Aniceto e Patativa do Assaré.

Outro curta disponível na Internet, no canal do YouTube do Centro Técnico Audiovisual, é "Zabumba, orquestra popular do Nordeste" (1974), de Zelito Viana, que mostra a banda cabaçal em destaque ao longo de quase 20 minutos. A Fundação Demócrito Rocha (FDR) também realizou registros dos Aniceto ao longo dos anos. Dois se destacam: o especial produzido pelos 250 anos do Crato, em 2014, e episódio especial da série "Os Cearenses" dedicado aos Irmãos Aniceto, em 2015. Este último, além da presença de Mestre Raimundo, conta com depoimentos de Gilmar de Carvalho, Pablo Assumpção e Calé Alencar, entre outros.

Registros não faltam, mas salta aos olhos a necessidade da tal "detalhada pesquisa" citada por Rosemberg para dar conta dos materiais espalhados pelo Brasil. Um passo importante será dado pelo próprio cineasta: "Pretendo ainda fazer um filme de longa-metragem reunindo todo esse rico acervo audiovisual, da mesma forma como fiz o longa-metragem documentário de Patativa do Assaré", adianta.

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