O agente funerário está obcecado em conseguir um filho perfeito, mas sua esposa não consegue engravidar. Considerado um homem cruel entre os moradores de uma pequena cidade, o homem decide que a namorada de seu melhor amigo é a mulher ideal para lhe proporcionar descendentes. A narrativa do filme "À Meia-Noite Levarei Sua Alma", dirigido e protagonizado por José Mojica Marins (1936-2020), foi um sucesso de bilheterias e motivo de inspiração para as próximas gerações de brasileiros que iriam se aventurar no terror. Era novembro de 1964 e o Brasil ganhava um personagem que se tornaria emblemático no imaginário popular: Zé do Caixão.
O atual cenário de experimentação visual e de criação de histórias horripilantes ligadas à cultura nacional talvez não existisse se não fosse pelo diretor. Agora, uma parte da diversidade que permeia o gênero poderá ser vista na "Mostra MacaBRo - Horror Brasileiro Contemporâneo", que acontece até 23 de novembro. Promovido pelo Centro Cultural Banco do Brasil, o evento conta com curadoria de Breno Lira Gomes e Carlos Primati. A iniciativa exibirá 44 produções, de diretores consagrados e recentes da indústria cinematográfica do País. Todos os filmes serão transmitidos pela plataforma "Darkflix", serviço de streaming do cinema fantástico. Os curtas estarão disponíveis por sete dias, e os longas poderão ser assistidos em até 24 horas após o lançamento.
Cada semana contará com homenageados que se destacaram no gênero, como a produtora Vermelho Profundo, além dos diretores Gabriela Amaral Almeida, Dennison Ramalho e, claro, José Mojica Marins. "Essas escolhas foram baseadas no que a gente considera que sejam grandes contribuições para o gênero. A produtora Vermelho Profundo, da Paraíba, por exemplo, tem um coletivo de produção interessante. Eles detêm vários materiais de curtas que são quase longas. São obras que, às vezes, não circulam muito bem porque têm mais de meia hora. Mas é uma produtora que merecia maior visibilidade", explica o curador Carlos Primati.
Um dos títulos que estarão presentes é "Morto Não Fala" (2019), dirigido por Dennison Ramalho. O enredo acompanha Stênio, um plantonista noturno do necrotério de uma grande cidade. Durante a madrugada, porém, ele usa seu dom paranormal para se comunicar com os mortos. Em um dos segredos que os espíritos revelam, desencadeia uma maldição para si e para sua família. Outros longas serão "O Animal Cordial", de Gabriela Amaral Almeida; "O cemitério das Almas Perdidas", de Rodrigo Aragão"; "Quando Eu Era Vivo", de Marco Dutra; e 'A Casa de Cecília", de Clarissa Appelt.
Já os curta-metragens contarão com os principais destaques dos últimos anos. Com 16 obras no total, quatro delas são homenagens ou têm participação de Zé do Caixão. "O Saci", dirigido pelo próprio José Mojica Marins, retrata a história do personagem lendário de uma perna só. Em sua vida na floresta, ele castiga todos as pessoas que não respeitam os povos do lugar, inclusive, uma garota que atravessa a mata para buscar leite. Outro destaque é "Tirarei as Medidas do Seu Caixão", do cearense Diego Camelo. Neste filme, Josiel é fã do famoso diretor de horror. Por isso, fará de tudo para se tornar um cover do personagem brasileiro. Também haverá transmissão das produções "A Lasanha Assassina", de Ale McHaddo, e "Coração das trevas", de José Mojica Marins, Marcelo Colaiacovo e Nilson Primitivo.
"Não apenas o cinema fantástico existe, como, em grande parte das vezes, é o principal cinema que se faz no Brasil. Sua importância no nosso país, além da contribuição para o gênero, é porque coloca o cinema brasileiro em um circuito internacional. É uma possibilidade de mostrar nossa criatividade, de sair do que é feito no drama, na comédia, no documentário", comenta Carlos Primati. Segundo ele, a linguagem do terror em território nacional aborda as relações pessoais e os cenários sociopolíticos de maneira fantasiosa. "A grande contribuição do horror no cinema brasileiro é conseguir contar histórias interessantes, que impactam o espectador, com uma abordagem não convencional", finaliza.
A programação da mostra também terá espaço para discussões. Os cursos e as palestras, por exemplo, contam com inscrições via Sympla. Em quatro finais de semana, o curador Carlos Primati traça um panorama histórico da produção cinematográfica nacional do horror. Desde as primeiras obras sobrenaturais, que datam das décadas de 1930 a 1950, até os novos nomes do mercado, "Trajetória do Horror no Cinema Brasileiro" discute os momentos marcantes do gênero. Os debates e as lives serão transmitidos no canal do Youtube da BLG Entretenimento e no perfil do Instagram @blgentretenimento.
Programação do fim de semana
Quinta-feira, 29 de outubro
16 horas - "Cova aberta", de Ian Abé
18 horas - "O nó do diabo: Episódio 1", de Ramo Porto Mota
20 horas - "Canto dos ossos", de Jorge Polo e Petrus de Bairros
Sexta-feira, 30 de outubro
18 horas - "O nó do diabo: Episódio 2", de Gabriel Martins
19 horas - Live com Mariah Benaglia e Jhésus Tribuzi, da produtora Vermelho Profundo
20 horas - "Os mortos", de Jhésus Tribuzi
Sábado, 31 de outubro
15 horas - "O nó do diabo: Episódio 3", Ian Abé
16 horas - Curso "Trajetória do Horror no Cinema Brasileiro", com o curador Carlos Primati
18 horas - "O desejo do morto", de Ramon Porto Mota
19 horas - Debate "O terror e o cinema brasileiro" com os cineastas Gabriela Amaral Almeida e Rodrigo Aragão, além da crítica de cinema Flávia Guerra
20 horas - "A mata negra", de Rodrigo Aragão
Domingo, 1 de novembro
16 horas - "O nó do diabo: Episódio 4", de Jhésus Tribuzi
18 horas - "Mais denso que o sangue", de Ian Abé
20 horas - "Não tão longe", de Ian Abé
Mostra MacaBRo
Quando: 28/10 a 23/11
Onde: longas-metragens ficam disponíveis por 24 horas e curtas-metragens durante uma semana no site Darkflix (darkflix.com.br); Cursos e palestras com inscrições pelo Sympla; debates e lives com transmissão no canal do Youtube da BLG Entretenimento e no Instagram @blgentretenimento
Gratuito