Se os últimos dois anos foram bons para Peter Parker - com novos games e filmes lançados - 2020 é o ano de Miles Morales. A continuação de "Marvel's Spider-Man" é menor que o original, mas o que era fraqueza se tornou poder especial. Este é um game é mais focado, divertido e, inclusivo. Acima de tudo, consegue manter a qualidade da franquia e engrandece seu fator humano.
Exclusivo da Playstation, trata-se de um jogo de aventura e ação em terceira pessoa, com elementos de RPG, que ocorre em um cenário de mundo aberto. A ilha de Manhattan, em Nova York, é seu playground, onde tudo se passa. Pela origens e relação do personagem com as cultura afrodescendente e latina, boa parte do seu tempo será gasto no bairro do Harlem.
Após o sucesso estrondoso do primeiro "Marvel's Spider-Man", o estúdio Insomniac decidiu continuar a expandir o universo original com uma história mais íntima, concisa e focada em um dos coadjuvantes do título anterior. Miles Morales assume como protagonista e recebe a missão de seu mentor, Peter Parker (o Homem-Aranha original) para cuidar da cidade. A partir daí o game acompanha a vida de Miles como o mais novo "Amigo da Vizinhança".
O enredo é formulaico e previsível, mas brilha pela decisão de não reproduzir o esquema do primeiro, mas contar uma história de amadurecimento. Brian Horton, diretor criativo do game, disse ao O POVO que a narrativa foca na experiência de um novo e inexperiente Homem-Aranha ao sentir na pele pela primeira vez a frase mais icônica do personagem: "com grandes vêm grandes responsabilidades".
Mas o que muda além da história? Além de menor em escopo, é notável a tentativa bem sucedida dos desenvolvedores do game em deixar tudo mais cinemático e mais polido. Pelo visto, reclamações foram ouvidas e quase todos os sistemas originais foram mexidos e melhorados. Até problemas com a mecânica de combate - ponto fraco do título anterior - foram resolvidos ou, pelo menos mitigados. São raros os momentos em que o jogo prende você em arenas apertadas, que praticamente tornavam inúteis as vantagens acrobáticas de um herói que tem "aranha" no nome. O design das interfaces e opções foram aprimoradas e um novo menu lateral foi inserido, facilitando o acesso a missões secundárias e ao progresso do jogo sem interromper tanto quanto antes o gameplay.
O game traz uma nova facção criminosa, chamada "Underground" e poucos novos vilões. Porém, em troca de uma quantidade menor, cada inimigo principal é bem escrito e ecoa a mesma carga dramática que o excelente Dr. Octopus demonstrou no primeiro game. O gigante Rhino é reintroduzido, mas os demais membros do Sexteto Sinistro permanecem onde o Cabeça de Teia original os colocou: atrás das grades.
Os valores de produção em Miles Morales continuam excelentes. A dublagem, a captura de movimento e atuações de cada personagem principal se mantém impecáveis. O trabalho do ator Nadji Jeter - dublador da versão em desenho animado do herói - é excelente. Sua qualidade aumenta ainda mais a necessidade de inclusão de pessoas negras a frente de títulos premium, como este. Sobre representatividade, o game traz imagens, cenas e elementos que tocam no assunto e que reforçam sua relevância social enquanto produto criativo.
Aos fãs de outras versões do personagem o uniforme da animação "Homem-Aranha: No Aranhaverso" está presente como item desbloqueável. Além de fiel esteticamente, traz elementos estilísticos da animação consigo, como a balões de fala com as tradicionais onomatopéias "SOC", "KAPOW" e outras a cada soco e pontapé.
As habilidades do novo Aranha são semelhantes às do anterior, com a adição da camuflagem e de um soco eletrificado (o "Venom Punch"). Parece pouco, mas o game faz um excelente trabalho em criar cenários em que cada novo poder é colocado em prática, seja para abater um oponente, resolver um quebra-cabeça ou acessar áreas vigiadas de maneira discreta.
Como quase todo game de mundo aberto de hoje em dia, ao completar missões e evoluir na história, você acumula pontos para trocar por melhorias passivas - como aumento de pontos de vida - ou ativas, na figura de pontos de habilidade ou de tecnologia, que garantem novas possibilidades de combate, tornam seus acessórios mais poderosos ou podem ser gastos para comprar novos uniformes, que por sua vez também garantem novos poderes passivos.
O game leva cerca de 10 horas para ser concluído - metade do título original - e poderia ser mais. Além da campanha, há também uma série de atividades secundárias, mas que servem apenas para justificar sua presença no mundo, além de ser muito divertido lançar suas teias de uma lado para outro da cidade. Não há confirmação, mas é improvável que novos capítulos que continuem o enredo sejam lançados em um futuro próximo como conteúdo adicional.
Similar à estratégia da Disney que transbordou o seu universo cinematográfico Marvel para a Disney , Miles Morales pode ser visto como uma série que, mesmo com um menor escopo, mantém a qualidade e expande a construção de mundo de seu correlato de longa metragem. É menos inovador, mas é uma evidente evolução da franquia exclusiva de Playstation que tem tudo para ser tão relevante e icônica quanto as já consolidadas "God of War" e "The Last of Us".
Davi Rocha é integrante do canal de Youtube Bacontástico
Serviço
Marvel's Spider-Man: Miles Morales estará disponível exclusivamente o PS4 e PS5 a partir de 12 de novembro.