De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 54% da população brasileira é negra. Porém é mal representada. Quem nunca ouviu a expressão "lápis cor de pele" para simbolizar o tom de pessoas brancas? Ou ainda, quantos personagens infantis (ou não) fogem do padrão eurocêntrico? Os brinquedos também não ficam de fora e, de acordo com a organização Avante, as bonecas negras representam apenas 6% dos modelos feitos no Brasil.
Sob esse contexto, surge o compilado de ilustrações "Para Colorir o Futuro". Tudo começou quando Masé Sant'Anna, cantora e editora, e seu filho, João Pedro, designer gráfico, 19, viram o lançamento de uma linha de lápis que contemplava diversos tons de pele. Porém, quando foram comprá-los, passaram por diversas livrarias e quase não encontraram desenhos que retratassem a diversidade humana em livros de colorir.
Masé teve, então, a ideia de criar uma obra em que crianças e pudessem se reconhecer a partir de seus tons de pele, traços e múltiplos cabelos, e em que cada personagem representasse uma profissão. "Queremos mostrar que nós podemos, por mais que muitos digam o contrário. Nós somos mais do que capazes, podemos decidir o nosso futuro, podemos colori-lo", expressa João Pedro.
"Para Colorir o Futuro" é uma construção familiar e independente. A mãe foi a idealizadora do projeto, o pai, Robson Lima, fez a diagramação e editoração, e um dos filhos, o João Pedro, o preencheu. As 42 ilustrações contam com cabelos crespos, narizes e lábios grossos e muita diversidade ocupando espaços como professor, advogado, astronauta, bailarina, chef de cozinha e outros. Além disso, todos os personagens estão de frente, como se quem os visse se olhasse no espelho.
Masé relata que sua principal inspiração foi o questionamento da jornalista Flávia Oliveira gerado a partir das crianças presentes nas manifestações devido ao assassinato do americano George Floyd. "É claro que elas podem ir, mas lugar de criança é brincando. Desde muito cedo a infância das crianças negras é tirada delas por um motivo ou outro e agora elas estão em protestos? Esse livro para mim representa uma forma lúdica de lutar. Depois pensei que colorir é preencher espaços, ou seja ocupar".
Para os envolvidos, o intuito é que a obra vá o mais longe possível e revelam se sensibilizar muito com o que tem se deparado. "Já vi mãe comprando para os filhos e depois querendo um para ela também, um senhor de 80 anos que chorou ao ver outro nutricionista negro, um amigo do meu filho disse que a vida inteira havia desenhado a mãe com cabelo liso porque não tinha visto desenhos de mulheres com cachos", conta Masé. A repercussão alcançou profissionais da pedagogia e da psicologia que a procuraram com o intuito de levar a obra para consultórios e salas de aula.
Os primeiros pequenos que tiveram contato com a obra foram moradores do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, local simbólico por representar a origem da vereadora Marielle Franco. A idealizadora ressalta que é importante que brancos interajam com obras assim para reconhecer as diferenças e contemplá-las, difundindo isso como o normal desde pequenos. "Mas por que só têm crianças negras? Porque as crianças negras não tem esse livro para elas. As brancas tem, todos", desabafa.
Para colorir o futuro
Preço: R$30 + taxas de entrega
Edição independente
Onde: pedidos pelo e-mail paracolorirofuturo@gmail.com