A população do Brasil é negra. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase 56% dos brasileiros se declararam pretos ou pardos no segundo trimestre deste ano. Ser maioria, porém, não garante igualdade. E o mercado de trabalho - dentre outros âmbitos da sociedade - reflete essa situação. Segundo o relatório "Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil" de 2019, também produzido pelo IBGE, 68,6% dos cargos de gerência são ocupados por brancos, em contraste com os 29,9% por negros. Apesar de constituírem mais da metade da força de trabalho, os pretos e pardos também formam a maioria entre os desempregados. Existe, entretanto, um potencial criativo entre essa população para lutar contra as consequências dos séculos de escravidão e racismo. São pessoas que, por meio da produção cultural e do empreendedorismo, ocupam os espaços que já deveriam ser seus por direito.

É neste ambiente de expressividade que a Feira Preta surgiu há quase duas décadas. Começou com um desejo de Adriana Barbosa, criadora do evento, de colocar empreendedores e artistas negros em destaque. "Decidi criar por ter uma ausência de eventos assim na época. Imagina, há 20 anos, falar da questão racial como falamos hoje. Então o projeto foi criado para que a população negra pudesse se ver representada, construir um mercado de empreendedorismo e fortalecer a identidade negra", explica a idealizadora. A iniciativa teve sua primeira edição em 2002, na Praça Benedicto Calixto, em São Paulo. Desde então, cresceu em números extraordinários: na edição passada, por exemplo, contou com mais de 35 mil visitantes e 170 empreendedores de dez estados brasileiros. Segundo os dados divulgados, também teve R$ 1,5 milhão de circulação monetária. Este ano, por causa das medidas de distanciamento para conter a disseminação do coronavírus, a 19ª edição acontece em formato virtual a partir desta sexta-feira, 20 de novembro, até 10 de dezembro.

"Tivemos que pensar em como colocar todos os nossos conteúdos no on-line. Para isso, passamos por um letramento digital, aprendemos a como fazer um evento de uma maneira diferente. Foi como se estivéssemos iniciando a Feira Preta novamente, só que, dessa vez, para o digital", indica Adriana Barbosa. O evento será dividido em dois momentos. O primeiro é o #OcupaFeiraPreta, que terá conteúdos nas redes sociais em parceria com plataformas e aplicativos. O segundo é o Festival Feira Preta, que proporcionará palestras, shows e workshops destinados a públicos diversos. "Nossa expectativa é que o público veja o que estamos propondo. Teremos mais de 100 atrações em 20 dias, com vários conteúdos, como saúde, bem-estar, literatura, videomapping, entre outros", comenta a empreendedora. Ainda há outras possibilidades de atrações, como painéis internacionais com especialistas, shows musicais, palestra sobre o racismo dos algoritmos, programação infantil e até gastronomia.

Um dos momentos de discussão acontece nesta sexta-feira, 20, sob o tema "Pretos no universo dos games". As convidadas serão Keisha Howard e Raquel Motta. Além disso, haverá duas apresentações musicais na mesma data: uma com Amaro Freitas e Sidmar, outra com o coletivo África em Nós. Ainda acontecerá um momento de gastronomia denominado "Degusta Preta", com chef Sam, da Mama Africa Labonne Bouffe. Os conteúdos serão exibidos no canal do Youtube do evento. O festival é realizado pelo Pretahub, que atua em pesquisas, mapeamento e aceleração do empreendedorismo negro no Brasil. No site deste espaço de inovação, os mais de 100 empreendedores que participam da Feira Preta poderão vender seus produtos on-line.

Programação

Sexta-feira, 20
18 horas - Painel de abertura “Afrolab para Elas - Mentorias”, com Adriana Barbosa, Day Molina e Danielle Almeida
18 horas - Show de Amaro Freitas e Sidmar
18 horas - Show “África em nós - acordes da memória”, com Boris Reine-Adelaide, Charles Arche Borromee Obas, Pyroman, Pupa Kanda, Yannick Delass, Lua Bernardo e Rômulo Alexis
18 horas - “Degusta Preta”, com chef Sam, da Mama Africa la Bonne Bouffe
18 horas - Painel “Pretos no Universo dos Games”, com Keisha Howard, Raquel Motta e mediação de Thaíssa Candella

Sábado, 21
10h30min - Oficina “Pretos criadores de conteúdo”, com o Tiktok
18 horas - “Degusta Preta”, com Chef Iêda de Matos
18 horas - Bate-papo “Bares e Drinks”, com Laercio Zulu e Paulo Ravelli
18 horas - Show de Luís Celestino

Domingo, 22
18 horas - Documentário “Quebradeiras de Coco”, da Rede Mulheres do Maranhão
18 horas - Roda de Conversa "Mulheres Cervejeiras", com Carol Chieranda e Dani Souza
18 horas - “Degusta Preta” com Guilherme Petro, do Prato Firmeza

Feira Preta

Quando: de 20 de novembro a 10 de dezembro
Onde: no canal do Youtube e na página do Facebook da Feira Preta; oficinas e painéis por meio de inscrições
Mais informações: no perfil do Instagram @feirapretaoficial e no site feirapreta.com.br/