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"Pacarrete é um estado de espírito", afirma a atriz Marcélia Cartaxo
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

"Pacarrete é um estado de espírito", afirma a atriz Marcélia Cartaxo

No dia da estreia do longa cearense "Pacarrete", a atriz Marcélia Cartaxo, protagonista da obra, fala ao V&A sobre resistência cultural e parceria com o diretor Allan Deberton
Tipo Notícia
O nome de Pacarrete vem do francês 'pâquerette', margarida. Maria Araújo Lima, nome verdadeiro da bailarina, era fascinada pela cultura francesa. 
 (Foto: Luiz Alves / divulgação)
Foto: Luiz Alves / divulgação O nome de Pacarrete vem do francês 'pâquerette', margarida. Maria Araújo Lima, nome verdadeiro da bailarina, era fascinada pela cultura francesa.

Entre a aclamação no Festival de Berlim de Macabéa, no filme "A Hora da Estrela" (1985), e a estreia de "Pacarrete", são 35 anos. Ambas são vividas pela premiada atriz Marcélia Cartaxo. Na obra mais recente - filmada em Russas e dirigida pelo russano Allan Deberton -, ela interpreta a personagem-título, inspirada na história real de Maria Araújo Lima (1912 - 2005), considerada a "louca" do município cearense. Professora de balé aposentada, Pacarrete sonha em se apresentar no aniversário de 200 anos da cidade, mas enfrenta desinteresse da população e do poder público. A lida da personagem com a arte espelha a trajetória de Marcélia, também pautada por resistir na arte e pela arte. Em entrevista ao V&A, a atriz fala da parceria com Allan, a expectativa de lançamento do longa e o desejo de um Brasil melhor.

O POVO - Quais as aproximações você faz entre os contextos de "A Hora da Estrela" e "Pacarrete"?

Marcélia Cartaxo - Daquele tempo para cá, houve muito amadurecimento na minha carreira, fiz muitos trabalhos, fui dirigida por vários diretores e adquiri mais experiência, segurança. A Pacarrete foi um grande desafio, assim como a Macabéa, que foi meu primeiro trabalho no cinema. A Pacarrete fala do nosso trabalho, da nossa cultura, desse momento mais maduro do artista, do envelhecer. A Pacarrete e a Macabéa têm muito da gente. Na Macabéa, eu era muito nova, nunca tinha feito nada no cinema, nem imaginava, estava fazendo teatro amador. Na Pacarrete, depois de 35 anos, eu pude criar, trazer a alegria e a tristeza, o trágico e o cômico. Ela foi uma personagem muito construída, pensada e amada. As pessoas se identificam. Tenho um orgulho enorme dessa personagem, principalmente porque fala muito do nosso trabalho, de como a gente vai envelhecer. Muitos artistas envelheceram mal, sem serem reconhecidos.

OP - Você e Allan Deberton já fizeram outros trabalhos juntos, como o curta "Doce de Coco" (2010) e a preparação de elenco da adaptação musical de "A Hora da Estrela", com roteiro dele. Como a parceria com Allan agregou à sua carreira?

Marcélia - O Allan sempre me viu de outra forma. Ao invés de ficar fazendo empregada, personagens repetitivos, ele me vem com muitos desafios. Aprendi em "Pacarrete" a fazer uma coisa que sempre tive desejo desde criança, que é o balé, e nunca fiz porque na minha cidade não tinha. Depois de velha - tenho 58 anos -, tive a oportunidade de ver que é possível a gente conquistar desafios. Aprendi também algumas coisas em francês, algumas coisas musicais, como piano, coisas que já não achava que tinha a possibilidade. Allan acreditou. Ele tem uma sensibilidade muito grande. A gente amadureceu uma amizade profissional, ele me mostrou muitos caminhos para a minha carreira. Temos projetos futuros. Ainda é muito cedo, mas temos o desafio de contar a minha história no cinema, mostrar ao público pela ficção quem é Marcélia Cartaxo e de onde ela veio. Estou muito animada.

OP - Como você espera que o filme consiga reverberar neste contexto tão singular?

Marcélia - Fomos para 39 festivais no Brasil e no mundo, foram 27 prêmios. A gente teve um ano muito inesperado, infelizmente, estamos passando um momento difícil, mas acho que vai ter uma resposta muito legal. Com muito cuidado, para que as pessoas não fiquem doentes, acho que as pessoas vão assistindo aos poucos. Daqui a pouco, o filme vai para as plataformas de streaming. O grande público vai se identificar. As pessoas vão ver, se emocionar, porque Pacarrete é muito próxima da gente, em todo lugar tem uma. Pacarrete é um estado de espírito, um estado de ser. Ela é muito contagiante.

OP - Pacarrete diz no filme que "um artista nunca deve deixar os palcos". Como você se identifica com esse gesto de seguir apostando na arte, independentemente do contexto?

Marcélia - A arte me salvou e vai salvar muitas outras pessoas. Na cidade do interior, num espaço que tenha em casa, na calçada, onde estiver, o artista, quando quer se expressar, não tem impedimento. Ele vai, nem que seja repreendido, nem que não aceitem, não queiram. Assim como eu, como Pacarrete. A vida artística tem altos e baixos, a gente vive isso. O artista é isso, a resistência. No seu tempo, se aperfeiçoando, amadurecendo, lendo, estudando, criando e recriando. É isso que eu faço. Observando, se concentrando, criando ritmo, seu jeito de ser, seu corpo. O artista tem que, o tempo todo, experimentar coisas, vejam ou não vejam. Mas chega uma hora que ele entra, mergulha, e, aí, consegue tocar as pessoas com sua arte. Todos os momentos têm sido importantes, sejam bons, ruins, difíceis. A gente quer coisas boas, quer mostrar as coisas da sociedade que nos incomodam, como essa política suja e essa desigualdade social. A gente não se vê somente entre a gente, a gente se vê no todo. A gente quer, junto com as outras pessoas, um Brasil melhor, que respeite o artista, respeite as pessoas.

Estreia de Pacarrete

Quando: hoje, 26

Onde: sessões no Cineteatro São Luiz, Cinema do Dragão, Centerplex Via Sul, Cinépolis RioMar, UCI, em Fortaleza, e no Multicine Sobral

Alan Deberton, cineasta
Alan Deberton, cineasta

Allan Deberton e elenco de "Pacarrete" particiam do Claquete, do Canal FDR

O programa Claquete, do Canal FDR (antiga TV O POVO), exibe nesta sexta, 27, às 19 horas, um bate-papo especial a partir da estreia do longa cearense "Pacarrete". Com mediação do repórter do Núcleo de Imagem do O POVO Arthur Gadelha e da repórter fotográfica do O POVO Deísa Garcêz, a atração recebe, via chamada de vídeo, o diretor Allan Deberton e os atores Marcélia Cartaxo e João Miguel. O programa será também transmitido ao vivo no YouTube do Canal FDR. Haverá reprise sábado, às 15h20min.

A estrutura original do programa será alterada para receber os artistas. Nesta edição especial serão exibidas cenas inéditas do longa, intercaladas com a conversa entre os apresentadores, diretor e atores.

"O Claquete é um programa que nasceu no Canal FDR para divulgar o cinema brasileiro, então pra gente é muito legal poder abrir esse espaço para debater o 'Pacarrete', apresentá-lo, um filme tão importante para o Brasil e para o Ceará", aponta Arthur.

O apresentador destaca a interpretação de Marcélia Cartaxo. A atriz foi premiada no Festival de Gramado pelo papel. "É muito empolgante que a Pacarrete se corporifique na pele da Marcélia, essa atriz tão importante para a memória do cinema brasileiro. Desde que o filme estreou em Gramado, passou no Cine Ceará, e por onde passa, gera uma comoção popular", considera.

O Canal FDR pode ser assistido no canal 48,1 (sinal digital aberto) e nos canais 23 (Multiplay), 24 (NET) e 138 (Brisanet). A transmissão ocorre também pela Internet.

Foto do João Gabriel Tréz

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