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Estantes fora da biblioteca
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Estantes fora da biblioteca

| No Pici | Biblioteca comunitária Papoco de Ideias entrega bolsas mensais com livros e produtos de higiene para 30 famílias da comunidade do Papoco, em Fortaleza
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As crianças que costumam frequentar a biblioteca comunitária Papoco de Ideias, no bairro do Pici, não retornam ao espaço desde março deste ano, quando começaram as medidas de isolamento social para conter a disseminação do coronavírus. O ambiente propício para a leitura, em que livros podem ser encontrados no chão, nas prateleiras, nos brinquedos e até em vasos de plantas, precisou se adaptar a novas demandas. Com isso, surgiu o projeto "Bolsa Livro Família", que distribui mensalmente livros e produtos de higiene para 30 jovens e suas famílias construírem a própria biblioteca em casa.

O processo de distribuir obras literárias sempre existiu na organização, principalmente, como presentes em festas de Natal e outros eventos. Mas o novo formato se concretizou durante a pandemia, após uma doação inicial do Tribunal Regional do Trabalho (TRT). "Fizemos a compra de álcool gel, garrafinhas, tecidos para a bolsa e para a costura, canetinhas, sabonetes e máscara. Foi assim que colocamos o projeto em pé", indica Argentina Castro, que fundou a Papoco de Ideias com a irmã Cristina Castro. Essa iniciativa nasce, portanto, para compensar a falta de acesso livre ao espaço físico.

"A gente quer que os livros ganhem asas dentro e fora da biblioteca, principalmente em um momento tão difícil, com um volumoso número de informações dolorosas, pesadas, letais e de profundo desrespeito com a vida. O importante é que a pessoa sente, abra o livro e faça esse movimento de parar um pouco", comenta Argentina. "Assim, construímos outros mundos possíveis dentro e fora da gente", defende.

Com os recursos concedidos pelo TRT, as coordenadoras ainda implementaram a "Gelaleia". "Compramos uma geladeira, fizemos uma pintura e a colocamos fora de casa. As pessoas colocam ou pegam livros na geladeira. As crianças, principalmente, se sentem muito à vontade de levar para a casa", afirma Argentina. Agora, quem caminha pelas proximidades da biblioteca comunitária pode parar em frente ao objeto e escolher suas histórias preferidas.

A partir dessas duas ações, é possível incentivar a relação com a leitura de maneira cotidiana. "É uma forma deles passarem na sala, e os livros estarem na estante. Entrarem no quarto e terem um pedaço daquele lugar voltado para os livros", indica. Segundo a coordenadora, a inspiração surgiu no ano passado, com o relato de uma mãe. "Uma das mães nos contou que seus três filhos começaram a pegar os livros em casa e a brincar para fazer uma biblioteca igual a 'da tia Cris e da tia Argentina'", recorda.

A coordenadora afirma que estimular o hábito de ler é importante não apenas para a pandemia, mas para o enfrentamento de outros momentos difíceis. "A leitura é necessária. Ler é você se compreender neste mundo, nesta existência. É entender o que está sendo posto ao redor e colocar-se enquanto sujeito para construir uma sociedade mais justa, com respeito a diferenças e com diminuição das desigualdades sociais", finaliza.

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