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Mostra Fabulações no Real encerra atividades com debate sobre Amazônia
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Mostra Fabulações no Real encerra atividades com debate sobre Amazônia

A mostra Fabulações do Real encerra suas atividades debatendo o filme "Iracema, uma transa amazônica" e debate com Jorge Bodansky, Orlando Senna e João Moreira Salles
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Imagem da atriz Edna Santos e do ator Paulo César Pereio durante as gravações do longa
Foto: Divulgação Imagem da atriz Edna Santos e do ator Paulo César Pereio durante as gravações do longa "Iracema, uma transa amazônica"

Após sete sessões, a Mostra Fabulações no Real anuncia seu último encontro. Na terça-feira, 8, às 18 horas, acontece no Facebook e no YouTube do Porto Iracema das Artes ao debate sobre o filme "Iracema, uma transa amazônica" (1974) com os diretores Jorge Bodanzky e Orlando Senna e participação do documentarista João Moreira Salles. O acesso do público ao filme e ao debate é gratuito, mas é necessário preencher o formulário de participação (ver serviço).

Bodanzky além de cineasta, é fotógrafo e conhecido por seu envolvimento com a Amazônia. São dele trabalhos como na série "Transamazônica uma estrada para o passado" e o site Amazônia Latitude, em que é colunista. Orlando Senna esteve por trás de filmes como "Ópera do Malandro", "Coronel Delmiro Gouveia" e "Diamante Bruto".

Por último, João Moreira Salles é documentarista referência e fundador da revista Piauí. Muito conhecido por "Santiago", classificado pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) como um dos 100 melhores filmes brasileiros, e pelas produções "Notícias de uma guerra particular" e "Entreatos".

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Criado pelos ex-alunos do Porto Iracema das Artes, Kamilla Medeiros e Arthur Gadelha, o intuito da mostra Fabulações no Real é discutir o documentário brasileiro. "Esse é um tema que tem motivado muito meus estudos e ampliei o recorte para as fronteiras entre documentário e ficção", explica Kamilla. "Acho que, no final das contas, buscar a fabulação no meio de uma quarentena é necessário".

"Iracema, uma transa amazônica", também presente na lista de melhores filmes brasileiros da Abraccine, foi barrado pela censura nos anos 1970 e, apesar de ter rodado em salas e festivais internacionais, no Brasil se escondia em cineclubes clandestinos.

O longa nasceu sob a luz da construção da rodovia Transamazônica. O projeto era símbolo de desenvolvimento e progresso. Hoje, quase 50 anos depois, é considerado um trecho violento e de alto impacto ambiental negativo, conhecido pelo comércio ilegal de madeira e ouro. O filme expõe algumas consequências provocadas na população da Amazônia, como queimadas, prostituição infantil, desmatamento e trabalho escravo, enquanto a BR-230 era construída.

Tudo começou quando Jorge Bodanzky foi até Paragominas, no Pará, realizar uma reportagem. Por lá, observou um posto de gasolina que pela manhã funcionava normalmente, mas à noite se tornava um ambiente de prostituição infantil em que meninas eram trazidas por motoristas de caminhão. A partir daí surgiu um dos primeiros docudramas brasileiros, mesclando atores com a população local. "Não dá para dizer o que tem de realidade e o que tem de ficção e nem foi nossa intenção separar", lembra Bodanzky em entrevista ao O POVO.

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"'Iracema' firmou minha carreira como documentarista, especialmente de temáticas socioambientais. Na época, não se falava em meio ambiente e foi o primeiro filme que mostrou uma floresta queimando e não só para o Brasil, como para o mundo", lembra o diretor. "Na época, a propaganda oficial era um trator derrubando uma árvore. Isso era progresso e, infelizmente, permanece assim hoje. Ele tem uma trágica atualidade".

Kamilla Medeiros lamenta a atualidade da obra. "A obra mostra uma realidade que permanece tão urgente, talvez até mais do que na época em que foi filmada, quando a estrada ainda simbolizava um sonho desse Brasil grande. 'Iracema' ainda é muito atual para nossa total vergonha".

Última edição da Mostra Fabulações no Real com Jorge Bodanzky, Orlando Senna e João Moreira Salles discutindo "Iracema, uma transa amazônica" (1974)

Quando: terça, 8, às 18 horas
Onde: no Facebook e no canal do YouTube do Porto Iracema das Artes
Inscrições: cutt.ly/ahWkoqX

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