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Festival do Telecine disponibiliza obras de diretoras pioneiras no cinema
Vida & Arte

Festival do Telecine disponibiliza obras de diretoras pioneiras no cinema

Produções realizadas por diretoras pioneiras são um dos destaques do Festival 125 anos de Cinema, do Telecine, que disponibiliza mais de 300 filmes na TV e streaming
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Dirigido por Alice Guy-Blaché, uma das principais pioneiras do cinema, 'O Cair das Folhas' foi lançado em 1912 (Foto: divulgação)
Foto: divulgação Dirigido por Alice Guy-Blaché, uma das principais pioneiras do cinema, 'O Cair das Folhas' foi lançado em 1912

Para celebrar a história da sétima arte, o Telecine idealizou o Festival 125 anos de Cinema, que estabelece amplo panorama da produção cinematográfica dos primórdios à contemporaneidade. Durante o processo de curadoria dos filmes, uma prioridade se impôs: trazer diversidade para cada mostra temática. A partir daí, o festival, por exemplo, se aprofundou na produção de diretoras no início da linguagem e compôs a mostra "Pioneiras do Cinema", um dos destaques da programação do festival. Os 382 filmes, divididos em 32 mostras, já estão disponíveis no streaming do Telecine e seguem sendo exibidos no Telecine Cult aos domingos.

"Mostrar que as mulheres sempre estiveram lá é fundamental e necessário. Por isso, fizemos questão de destacá-las ao abrir o Festival com o pioneirismo dessas diretoras", afirma Karina Branco, programadora do Telecine Cult, idealizadora e uma das curadoras do projeto. São, ao todo, 16 filmes assinados pelas cineastas Alice Guy-Blaché, Mabel Normand, Germaine Dulac, Lois Weber, Olga Preobrazhenskaya, Marie-Louise Iribe e Mary Ellen Bute.

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Da lista, a francesa Alice Guy-Blaché é possivelmente a mais conhecida, ainda que faltem reconhecimentos para a grandeza da influência da cineasta. Tendo estreado na direção em 1896, foi uma das primeiras cineastas a produzir ficções, além de ter sido pioneira em outras frentes e ter fundado um estúdio em 1907. "Sua contribuição foi tão grande e sua posição foi tão central no desenvolvimento do cinema na França (e depois nos Estados Unidos) que simplesmente não há justificativa para o esquecimento", afirma Luísa Pécora, jornalista e criadora do site Mulher no Cinema, que produziu conteúdos sobre a mostra no Twitter @mulhernocinema em parceria com o Telecine.

Alice, ainda em vida, empreendeu esforços para reavivar memórias da própria trajetória, buscando recuperar obras perdidas e escrevendo uma autobiografia. Ainda assim, a invisibilidade dela chegou ao nível de um retrato da atriz Mary Pickford posando ao lado de uma câmera ser creditado em um banco de imagens como se tivesse a francesa na foto. O erro, define Luísa, é "sintomático da desinformação sobre as mulheres do cinema de forma geral". "Fica claro o desconhecimento também sobre Mary Pickford, que além de produtora importantíssima foi uma das maiores estrelas da história do cinema americano. É como se qualquer imagem antiga de uma mulher com uma câmera fosse agora associada a Alice - reforçando a ideia de que uma mulher diretora naquela época era exceção ou raridade", elabora a jornalista.

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"Ouço as pessoas dizerem 'agora temos muitas diretoras'. Estes comentários, embora por vezes bem intencionados, dão a entender que a presença da mulher na direção é algo novo ou produto de maior debate que estamos tendo sobre o assunto. Não é o caso: as mulheres sempre fizeram cinema e ajudaram a criar e desenvolver a linguagem desde o início", ressalta.

Os 16 filmes da mostra permitem "que o público tenha uma ideia de quão variada era a produção das cineastas desde aquela época", aponta Luísa. As produções abarcam o período entre 1911 e 1937, além de representarem gêneros diversos como comédia, melodrama e fantasia. A jornalista ressalta, ainda, que a possibilidade de acessar tais obras é fruto de trabalhos de preservação audiovisual, questão central para o Brasil frente à situação da Cinemateca.

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Luísa lembra da situação de "O Mistério do Dominó Preto", filme brasileiro lançado em 1931 com direção de Cléo de Verberena - uma das pioneiras do País, ao lado de nomes como Carmen Santos e Gilda de Abreu - que é considerado perdido. "Falar sobre as pioneiras, no Brasil ou em qualquer país, é falar sobre a importância fundamental das cinematecas, arquivos, museus e outras instituições de preservação dos filmes e da memória do cinema. Se estamos interessados em recuperar trajetórias e contar outra história do audiovisual, que seja mais completa e inclusiva e menos masculina e branca, não há como fazer isso sem valorizar os profissionais e instituições que trabalham com a preservação", defende.

Fontes para saber mais

"A minha principal fonte de informações são livros - em geral escritos em inglês, tanto por pesquisadores como Anthony Slide, Karen Ward Mahar, Cari Beauchamp, Alison McMahan, entre outros, como por algumas das próprias pioneiras, como é o caso da Alice Guy-Blaché, por exemplo. No Brasil, o livro 'Feminino e Plural', organizado por Karla Holanda e Marina Cavalcanti Tedesco, tem textos sobre algumas pioneiras brasileiras também. O Women Film Pioneers Project, projeto da Universidade de Columbia, é uma referência importante e um banco de dados que consulto com frequência, assim como cinematecas e arquivos online de forma geral. Sobre filmes, dois que foram lançados recentemente e abordam o assunto são 'E a Mulher Criou Hollywood', de Julia e Clara Kuperberg, e 'Be Natural', de Pamela B. Green".

Festival 125 anos de Cinema

Já disponível no streaming do Telecine

Exibições semanais no Telecine Cult aos domingos (consulte disponibilidade com a operadora de TV)

 

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