Logo O POVO+
Instituições preservam memória de Chico da Silva
Vida & Arte

Instituições preservam memória de Chico da Silva

110 anos depois de seu nascimento e 35 anos após sua morte, o artista Chico da Silva ainda permanece na memória de quem o conheceu e nos espaços que preservam sua história
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
O Museu de Arte da UFC (Mauc) conta com mais de 80 obras de Chico da Silva (Foto: Ribamar Neto/ UFC)
Foto: Ribamar Neto/ UFC O Museu de Arte da UFC (Mauc) conta com mais de 80 obras de Chico da Silva

Restaurar a memória das pessoas que marcaram a história é um trabalho contínuo. Profissionais, instituições e familiares precisam de um esforço incessante para que as lembranças permaneçam vivas. E com Chico da Silva não poderia ser diferente. O Museu de Arte da UFC (Mauc), por exemplo, mantém uma exposição permanente do artista desde 2004. Com 82 pinturas guache, o acervo é constituído, principalmente, de obras pintadas no início da década de 1960. Por intermédio de Jean-Pierre Chabloz, as produções eram destinadas com exclusividade ao museu recém-inaugurado na época. Há, também, uma dúzia de trabalhos que foram expostos na Bienal de Veneza de 1966 e que receberam Menção Honrosa.

De acordo com a museóloga Graciele Siqueira, o artista merece estar em uma espaço público e de longa duração devido à complexidade de suas realizações. "Foi um artista descoberto pelas interferências urbanas que fez. Foi um artista que levou renda e arte para a periferia e para as galerias. Mesmo imerso às questões de originalidade e falsificação, ensinou o ofício da arte para jovens", complementa.

Para ela, são vários os legados deixados por ele: "Que precisamos conhecer, reconhecer e valorizar nossos artistas plásticos/visuais. Que a arte precisa ser disciplina obrigatória durante toda a formação acadêmica para que nos tornemos mais humanos e empáticos. Chico vive e pulsa no nosso imaginário". Segundo a diretora, o artista é, ao mesmo tempo, singularidade e completude. "É um artista singular para a história da arte do Ceará. Possui uma pureza nada ingênua em suas obras que nos faz refletir sobre questões ligadas à saúde, à natureza e à sociedade", complementa.

O Mauc ainda conta, por meio da Biblioteca do Museu de Arte Floriano Teixeira (BMAUC), com exemplar do livro "Chico da Silva e a Escola do Pirambu", escrito por Roberto Galvão. O título está disponível em versão digitalizada para o público no site do museu. O trabalho de pesquisa passa por uma breve trajetória da vida do artista, além de mostrar a ascensão com o público e as polêmicas em que se envolveu.

Além disso, o 71° Salão de Abril realizou uma homenagem a Chico da Silva por causa de sua importância para as artes. A partir desse reconhecimento, o evento promoveu quatro transmissões ao vivo que abordaram vários temas, como "Técnicas Utilizadas pelo Chico da Silva" e "Chico da Silva - 110 anos: História e percurso do artista nas artes visuais". O conteúdo está disponível no canal do Youtube da Secultfor. A ação integra o "Ano Chico da Silva", instituído pela Prefeitura de Fortaleza em 2020.

Leia também | Artista Chico da Silva comemora 110 anos; confira trajetória

Lembranças com Chico

Gilberto Brito, restaurador especializado na obra de Chico da Silva, teve o primeiro contato profissional com as pinturas do artista após demonstrar preocupação sobre a permanência da tinta nos tecidos. Na época, levou a questão para o gabinete central do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Desde então, passou a trabalhar diretamente com as obras. Ele afirma que são materiais frágeis e precisam de cuidados especiais. "Onde existe uma sociedade mais esclarecida, as pessoas valorizam mais. As coisas aqui não correm muito bem para ele", pondera.

Mas sua história com o também muralista começou antes, quando morava próximo ao Pirambu. Chico costumava passar pela esquina em direção a um bar que frequentava. Nesse trajeto quase cotidiano, os dois estabeleceram uma amizade. "Ele era uma pessoa muito agradável. Voltava da Aldeota sempre com dinheiro, bebia cerveja e se dava bem com todo mundo. Na época, eu frequentava os mesmos lugares que meus amigos pintores, próximo a casa dele. Assim surgiu minha amizade", lembra.

Roberto Galvão também conheceu o artista em um período que ainda era estudante universitário. "Eu dava aula de arte para crianças. Um dia, estava desmontando a parafernalha toda, e chegou o Chico da Silva", recorda. Ele conhecia o artista de nome, mas nunca teve uma introdução pessoal. Naquele momento, ficou encantado pelas experiências que Chico contou sobre sua última viagem para as Filipinas. "Alguns anos depois, quando já estava estudando sobre ele, fui tomando consciência de que o mundo que o Chico vivia era outro. Não era o mundo comum", diz.

Matéria do O POVO sobre exposição de Chico da Silva em Paris, em 1968
Matéria do O POVO sobre exposição de Chico da Silva em Paris, em 1968

Nas páginas do O POVO

Durante décadas, O POVO teve vários destaques para as ações que envolviam Chico da Silva. Mostra, por exemplo, a exposição que fez na galeria M. Bénézit, em Paris, em fevereiro de 1968. Em entrevista, a brasileira Céres Franco, que trabalhou na curadoria, afirmou: "Êste índio analfabeto me pareceu, então, ilustrar maravilhosamente essa arte dita 'não cultural'. Seus pássaros, suas serpentes, seus peixes, seus dragões e outras espécimes de uma zoologia imaginária fazem parte do mundo familiar do pintor, mundo que êle cria e recria".

Por ocasião do terremoto de Pacajus, em 1980, Chico foi espontaneamente à Redação do O POVO dar sua visão sobre o episódio. "Pensei que naquele momento a terra estava colocando para fora tudo de ruim que colocaram dentro dela", narrou à época.

Museu de Arte da UFC

Para realizar a visita é necessário marcar uma data com 48 horas de antecedência via e-mail. A instituição disponibiliza uma planilha com os dias e os horários disponíveis. No total, somente 30 pessoas podem estar no local por vez.

Quando: segunda-feira a sexta-feira, nos horários de 8h30min, 10h30min, 13h30min ou 15h30min

Onde: avenida da Universidade, 2854 - Benfica

Mais informações: no site do Mauc

O que você achou desse conteúdo?