Quando estreou no YouTube Red, em 2018, não se falava em outra coisa a não ser em "Cobra Kai". Foi a primeira vez que uma série da plataforma tirou o sono dos fãs da franquia "Karatê Kid", e superou o interesse do público em produções como "13 Reasons Why" e "The Handsmaid's Tale".
Envolto no elemento da nostalgia, "Cobra Kai" já tinha futuro garantido. Foram 34 anos após o primeiro filme e a trilha sonora de "Glory Of Love" brilhou novamente no campeonato de All Valey. Protagonizado por Ralph Macchio, o Daniel LaRusso, e William Zabka, como Johnny Lawrence, a terceira temporada de "Cobra Kai" abriu o ano de 2021, na Netflix, com as consequências do embate que marcou a temporada anterior.
Um dos desafios da produção foi reintroduzir personagens que deixaram de ser jovens e que agora acumulam experiências e novas responsabilidades. Na estreia da série, o antagonista Lawrence se tornou um sujeito solitário e alcoólatra. Impedido de seguir em frente, ele guarda a derrota como uma cruz que sepultou seu futuro na vida adulta. Mas tudo mudo ao testemunhar o sofrimento de Miguel Diaz (Xolo Maridueña), um estudante perseguido por valentões na escola. Para dar um fim nos abusos, Lawrence sente que deve reabrir a academia de caratê Cobra Kai, onde treinou na adolescência. "Voltar é como organizar aquelas reuniões escolares", conta Zabka ao "Estadão", em entrevista virtual. "É familiar, mas ao mesmo tempo é tudo novo. Todo mundo mudou um pouco e ainda tem a chegada dos mais jovens".
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Para o mocinho da época, Daniel LaRusso, as coisas também mudaram. Ao pôr em prática a filosofia do saudoso sr. Miyagi (Pat Morita), o antigo pupilo se tornou um grande empresário no ramo de venda de carros. E ele vai se incomodar com o projeto desse novo herói Lawrence. "Agora fazemos parte de um grande conjunto de atores", conta Macchio. "E tudo importa, o legado da história e o que estamos fazendo hoje com uma nova geração".
As primeiras surpresas de "Cobra Kai" não surgem de maneira óbvia. Criadores da série, Josh Heald, Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg se esforçaram para oferecer novos pontos de vista e humanizar as personagens. Enfrentar os conflitos do passado é tão importante quanto saber de cor o lema "Ataque primeiro, ataque forte, sem piedade". Na segunda temporada, já na nova casa da Netflix, a série guarda novas aparições. O sensei mau caráter John Kreese (Martin Kove) começa a ensinar na academia após receber uma segunda chance de Lawrence. "Os criadores tiveram de pensar em como fazer isso e surpreender. Estar com velhos amigos e parceiros pode parecer fácil, mas tudo isso cria novas situações, levando 'Cobra Kai' adiante", explica Zabka.
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O mais importante é que a academia vai servir para revelar que a velha rivalidade e a desconfiança só vão inflamar o combate. Após uma luta entre estudantes, o resultado é arrasador e vai na contramão de tudo o que Mr. Miyagi ensinou.
Com dez episódios, a terceira temporada traz outros velhos conhecidos da franquia, como o vilão Chozen (Yuji Okumoto) e a doce Kumiko (Tamlyn Tomita), além de tentar juntar os cacos dos efeitos da insanidade que afetou a todos. "Há algo de espiritual, filosófico, de encontrar equilíbrio em sua vida", diz Macchio. "Miyagi ensinava que não se devia lutar, era o melhor caminho."
É também nesta temporada que "Cobra Kai faz uma bonita homenagem ao Sr. Miyagi, interpretado por Pat Morita, morto em 2005, aos 73 anos de causas naturais. Em um dos episódios, Daniel Sam viaja às origens de seu mestre, em Okinawa, no Japão. Para Macchio, um exemplo de ator perfeito no papel perfeito. "É difícil saber onde começa e termina cada um. Ele era um grande comediante, mas também muito sério. Não sinto nenhum fardo, mas a responsabilidade de dar a mim mesmo e tentar compartilhar conhecimento. Foi muito positivo para mim".
Os desafios podem assustar, mas há segredos aprendidos no caratê que podem transformar qualquer situação. "No jiu-jítsu brasileiro é incrível usar essa energia para escapar", conta. "Você aprende a lutar para não lutar. De qualquer forma, é um combate esportivo se você quiser".
Reviver as lembranças de "Karatê Kid" só não foi mais simples que o treinamento físico, primordial para as cenas de "Cobra Kai". Zabka reconhece que mais de três décadas afetam o corpo e que os bastidores da produção serviram para reativar socos e chutes. "Na época do filme, éramos mais jovens e mais flexíveis e agora o treinamento foi intenso e cansativo", conta. "O caratê mostrado na série se fez no trabalho fora das câmeras, o que tem muito a ver com as artes marciais, no esforço, foco e no trabalho duro". (Leandro Nunes/ Agência Estado)