Na astronomia, quando uma estrela alcança seu estágio final, ela parece, ao contrário do que provam, renascer. Ocorre o que chama supernovas. Sem medo de ir à sua potência máxima, mostra-se em todas as cores mais iluminadas possível; em outras palavras: uma explosão muito rara que encadeia qualquer outra em sua esfera. O mesmo acontece com Bowie, um legado estético, além de artista. Mesmo com uma data para nos lembrar da morte, no dia 10 de janeiro de 2016, a influência Bowie continua acesa e em diversos aspectos, que ele, se brincar, tenha até imaginado. Alguém que use o TikTok e tenha recentemente se deparado com um set list em sua homenagem? "O Homem que Caiu na Terra" por aqui não sairá.
Os dicionários, antes das audições escolares que o levaram ao interesse musical, pareciam prever: David é "Amado", "aquele que é amado", "querido", "predileto". Também em todas as formas, mas uma delas mais: na música. "O que institui, principalmente a partir do início dos anos 1970, é a fusão do rock com a ficção científica, com o teatro, com a moda. De um lado, o rock se amplia em suas possibilidades; de outro, possibilita a aparição (e a normalização estética) de artistas tão díspares quanto Gary Glitter, Alice Cooper, Kiss e Grace Jones: cada um desses artistas se beneficia, de diferentes modos, do caminho aberto por David Bowie", explica o professor, doutor em comunicação, Ricardo Jorge de Lucena Lucas.
Para o professor, docente da comunicação no Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará (UFC), Bowie não era apenas um camaleão visualmente mas também culturalmente. "O rock era uma matriz pequena para ele; assim, o teatro, o cinema, a moda, a literatura, eram campos que impulsionavam sua criatividade. A partir disso, efetivamente o rock deixou de ser apenas aquela coisa 'guitarra/baixo/bateria' e letras sobre namorar ou passar uma noite juntos…". Vai mais além.
"Acho que uma das coisas importantes é essa espécie de 'dissolução do eu' (Bowie não é apenas Bowie) e, ao mesmo tempo, essa 'multiplicação de eus líricos' (particularmente, com Ziggy Stardust)", provoca à leitura dando também pistas. Sobre imagem e comunicação, que é de sua expertise ligada às artes visuais e design, convida: "bastaria dar uma olhada nas capas de seus álbuns (em particular, da década de 1970), para ver como ele usava (por exemplo) esse meio para mostrar suas variadas faces. Como ignorar capas como 'The Man Who Sold The World', 'Pin Ups', 'Alladin Sane', 'Hunky Dory', 'Diamond Dogs', 'Low' ou 'Scary Monsters'? Bowie era um grande artista e usava o marketing a seu favor", e isso talvez requeira outra análise (de muitas!).
Fora da obra, Bowie era a própria obra. O corpo que lhe serviu de manifesto à arte foi o mesmo que rompeu com paradigmas décadas atrás. Por que não salto, sandálias "de mulher", figurinos, mini shorts, saia, dizendo sim a liberdade de quem era? "O lado extravagante e andrógino, despertou desejos ao mundo", até hoje repercutidos, na visão do beauty artist Viny Holanda. "Foi como um grito libertador de explosão de cores e texturas", o referencia. "O lado glam rock que é vivo até hoje nas passarelas e editoriais de moda, a pele iluminada, olhos bem esfumados com tons vibrantes de azul, laranja, vermelho, dourado. Sem dúvida um grande ícone", sempre a tempo de ser (re)descoberto. "Viva Bowie, viva a arte!"