Em "Safety", não há um vilão nem luta do bem contra o mal. Apenas um adolescente fazendo um corre danado para cuidar do irmão menor ao mesmo tempo em que estuda na universidade e mantém a carreira de jogador de futebol. O filme, disponível no Disney+, é um antídoto para as atitudes tóxicas que vemos na sociedade, segundo seu diretor, Reginald Hudlin. "Eu quis contar essa história porque para mim era a mensagem necessária para os dias de hoje", disse ele ao Estadão. "Entre a pandemia, a hostilidade e negatividade e a cultura de destruir os outros, fazer um filme que reforça os mais importantes valores, como educação, excelência e família, me pareceu importante. Não importa em que lado da cerca você esteja, acho que todos podemos concordar com esses valores. E precisamos encontrar união em temas em que todos concordamos". É um filme que busca trazer conforto, com a cara da Disney.
A produção é baseada na história real de Ray McElrathbey, que era um aluno na Universidade Clemson, onde jogava futebol americano, quando viu o irmão mais novo, Fahmarr, sendo levado pelo serviço social devido ao abandono pela mãe, que lutava contra o vício em drogas. Ray escondeu o irmão no dormitório da universidade, mas o arranjo acabou sendo descoberto e colocou a carreira de Ray em risco - as regras não permitiam que ele recebesse qualquer tipo de ajuda. "Foi muito bacana conhecer o Ray", disse o ator que o interpreta, Jay Reeves. "Ele é um cara que trabalha duro, eu achei importante sentir sua presença, ver que qualidades que faziam dele um líder".
O esporte é uma oportunidade para mostrar caráter, segundo o diretor. "Porque requer disciplina, força de vontade para se superar, ter espírito esportivo. Uma pessoa mesquinha se revela no esporte, por exemplo. Por isso, o esporte se presta tanto ao cinema, porque ele escancara a humanidade". Claro que há um componente desafiador também, que é dirigir as cenas do jogo em si e escolher atores capazes de executá-las. "Foram semanas e semanas de ensaios", explicou Hudlin. "Completamos o time com pessoas que tinham jogado de verdade, para que ficasse mais plausível. Mas foram muitas semanas de uma operação quase militar para saber como filmar cada cena". No caso de Reeves, ele tinha sido atleta quando mais novo e sempre teve o esporte como referência. "Meu pai tinha uma barbearia com fotos de grandes nomes, inclusive do Pelé. Ele sempre foi uma inspiração", contou o ator. "No esporte, você aprende a ter dedicação, o que me ajuda hoje na carreira também".
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Para Reginald Hudlin, a história de Ray McElrathbey é também uma oportunidade de demolir um mito em relação ao homem negro. "Há essa noção de que não somos pais dedicados", contou. "E, na verdade, há estudos provando o contrário, que, seja educando seus próprios filhos ou de outros, somos extremamente comprometidos com a paternidade. E a relação que tenho com meu pai e com meus filhos são prova disso", completou ele.
Ray-Ray, como ele é conhecido, estava disposto a largar oportunidades únicas na universidade e no esporte para não deixar Fahmarr (interpretado por Thaddeus J. Mixson) ser cuidado por estranhos. "Para mim, era importante mostrar a verdade", disse Hudlin. "E, como é uma história real, ninguém pode questionar, nem negar a realidade, ou tentar descartar como se fosse apenas um caso isolado. Não, Ray-Ray representa milhões". (Mariane Morisawa, especial para o Estadão)