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Dramas do Enem são tema de documentário
Vida & Arte

Dramas do Enem são tema de documentário

Com relatos emocionantes, documentário acompanha a rotina de alunos que se preparam para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em uma escola no interior de Sergipe
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Produzido em 2018, "Atravessa a Vida" apresenta estudantes de uma escola no interior de Sergipe que estão se preparando para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Produzido em 2018, "Atravessa a Vida" apresenta estudantes de uma escola no interior de Sergipe que estão se preparando para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)

Ansiedade, tensão, incerteza e expectativas. Essa mistura de sentimentos que atinge tantas pessoas quando próximas a momentos importantes em suas vidas não escapa da rotina de estudantes que se preparam para realizar uma prova de vestibular. Quando se trata, então, do principal exame do País, o universo de alunos nessa situação se expande consideravelmente. Vestibulandos diversos, com vivências diferentes, mas com o mesmo objetivo: ingressar em uma instituição de Ensino Superior.

Nesse sentido, surge o documentário "Atravessa a Vida", produzido em 2018 e com direção de João Jardim ("Pro Dia Nascer Feliz" e "Getúlio"). Em meio a tantas realidades, a obra apresenta como recorte a rotina de estudantes do 3º ano do Ensino Médio de uma escola pública de Simão Dias, no interior de Sergipe. A partir de um acompanhamento de três meses, o longa-metragem apresenta a preparação de alunos do Centro de Excelência Dr. Milton Dortas para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) daquele ano.

Mais que apenas apresentar momentos vividos dentro de uma sala de aula, o filme se propõe a abordar diferentes situações que podem influenciar o desempenho de um estudante diante de um exame de vestibular. Desde aspectos estruturais físicos, até questões emocionais. Ele também expõe marcas das desigualdades educacionais que existem no Brasil, alertando para necessidades de melhores condições de estudo.

Assim como situações extraescolares podem transformar as vivências desses estudantes, é possível perceber, durante o longa-metragem, como o próprio ambiente institucional é capaz de provocar mudanças. Nesse aspecto, entram em cena - e também em destaque - professores e outros funcionários da escola, com estímulos ao pensamento crítico e com o oferecimento de espaços para que esses jovens possam externar seus sentimentos. "É muita pressão. A gente escuta demais: 'Enem, Enem, Enem'. Chega de tarde, no pré-universitário, 'Enem, Enem, Enem'. À noite ainda tem que estudar, tem trabalho da escola, tem prova. Aí chega no Enem, não passa e pensa: 'meu Deus, o que foi que eu fiz no ano? Estudei o dia todo, ralei, cheguei até aqui, mas não passei. Isso frustra demais", desabafa uma aluna.

"Atravessa a Vida" se utiliza de depoimentos dos estudantes em algumas ocasiões para apresentar o que eles sentem, mas a obra é igualmente eficaz nesse aspecto quando também usa o silêncio. Simples, mas paradoxalmente complexos, os olhares captados pelas lentes expõem mensagens sem o uso de palavras: esperança, medo, angústias, incertezas… por vezes tudo ao mesmo tempo.

A temporalidade, aliás, acaba sendo uma simbologia bastante reforçada durante o longa. Em contrastes com a infância e com as expectativas sobre a vida adulta, o documentário imerge em visões a respeito do tempo, exibindo até o momento em que um dos professores propõe uma dinâmica utilizando "Retrovisor", na voz do cantor cearense Fagner.

Em um ambiente corriqueiramente visto como competitivo, neste Ensino Médio o espectador se depara com a colaboração dos alunos entre si a partir do diálogo. Quando conversam, eles compartilham suas angústias e reflexões e, assim, constituem breves refúgios como alternativas para lidar com as pressões dessa fase.  Relatos emocionantes surgem nessas dinâmicas, mostrando, para eles, que não estão sozinhos.

Imergindo, ainda que de forma breve, nas vidas desses adolescentes, o espectador se permite torcer para que eles alcancem o sucesso mesmo diante de tantas adversidades. Os estudantes apresentados no documentário divergem bastante entre si, mas têm em comum o desejo de um futuro melhor. A esperança, aliás, é um sentimento reforçado no longa-metragem, marcado também por apresentar desigualdades que acabam permeando a vida de muitos jovens no Brasil. Nas palavras de uma das professoras durante conversa com seus alunos, o estímulo para o pensamento de que dias melhores virão: "Nunca percam essa vontade de recomeçar. Problemas existem e sempre vão existir. Mas a gente tem que olhar pro sol e amanhecer. Amanhecer todos os dias".

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