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Visite o ateliê e conheça a obra da figurinista Ruth Aragão
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Visite o ateliê e conheça a obra da figurinista Ruth Aragão

Dialogando com diferentes linguagens artísticas, a figurinista Ruth Aragão abre as portas do seu ateliê de criação para refletir sobre investigações em meio à pandemia
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Figurinista Ruth Aragão transformou exigências da pandemia em invólucros criativos (Foto: Toni Benvenuti/Divulgação)
Foto: Toni Benvenuti/Divulgação Figurinista Ruth Aragão transformou exigências da pandemia em invólucros criativos

Ruth Aragão não parou. Desde 1996, é um projeto atrás do outro. Ao todo, a figurinista já soma ao longo da carreira cerca de 100 trabalhos em dança, teatro, música e audiovisual. Mesmo com a pandemia iniciada em 2020, a sua produção não cessou e, entre mudanças de planos e recomeços, realizou o processo criativo da construção de figurinos de trabalhos como "Delirantes e Malsãs", obra cênica do grupo cearense No barraco da Constância tem!.

"Estava me encontrando sistematicamente, três vezes por semana, com o Barraco, quando a pandemia se estabeleceu e o governo estadual decretou o isolamento social", lembra, destacando ter mudado suas perspectivas a partir de então. "Em meio à perplexidade, ao medo, à insegurança, à indignação, à revolta com o coronavírus, entendíamos (Barraco e eu) que a urgência era nos manter vivos e precisávamos de fôlego: respirar e observar; deslocar os sentidos e os pensamentos", conta Ruth.

A figurinista destaca que, diante da crueza dos fatos, o medo atravessou o processo. "Obviamente, com a pandemia, não conseguimos evitar um certo caos psíquico, nem a instauração de muitas dúvidas sobre a nossa prática criativa; em especial, sobre o que estávamos construindo para o 'Delirantes', principalmente porque, além de estarmos vivendo uma crise sanitária, vivemos uma crise climática sem precedentes e os efeitos devastadores de uma necropolítica com seus mecanismos de opressão, exclusão e aniquilamento das diferenças, controle dos corpos e dos desejos; nos exigindo, assim, outras articulações e posicionamentos", dimensiona.

"Invento figurinos como territórios vestíveis que se configuram no fluxo das trocas de subjetividades e materialidades", colocadas, recentemente, à prova. "Ao redefinirmos nossa convivência física para as janelas virtuais, aprofundamos questões do projeto 'Delirantes e Malsãs' que dialogavam diretamente com a gravidade social atual", aponta. Nessa investigação, a figurinista desenvolveu trajes que cobrem quase todo o corpo dos artistas, não tão distante do tempo agora, ainda em pandemia. "No desejo de ampliar ideias, imagens e conceitos, tensiono processos, metodologias e estéticas através de investigações e experimentações provocadas pela dança, o teatro, a cidade, os sons, os corpos, o cinema, a palavra, o traço, o design, a música, o bordado, a poesia, a paisagem; o tempo", detalha.

Esteticamente, essas invenções, diz, "refletem um trânsito por múltiplas linguagens artístico-criativas, me impulsionando a uma incessante pesquisa e experimentação - tanto de formas e funções, quanto de materiais e técnicas - reafirmando a ressignificação - ou, mais precisamente, o upcycling - como marca identificatória de criação", define.

Pós-graduada em Criação de Imagem e Styling de Moda pelo Senac - São Paulo, Ruth traça um caminho que responde o vestir de duas formas. É professora, além de criadora de moda e figurino. Na sua trajetória, trabalhou, dentre outros artistas e criadores, com a coreógrafa e pesquisadora de dança contemporânea Andréa Bardawil, a diretora e também pesquisadora de teatro Herê Aquino e o cineasta Karim Aïnouz.

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