O isolamento social obrigou pessoas de vários lugares do mundo a permanecer em casa. Sem previsão para terminar, a pandemia acarreta incertezas na população e gerou inúmeras consequências no cotidiano. A imposição de uma convivência familiar entre quatro paredes, por exemplo, criou uma sobrecarga emocional que culminou no aumento de casais que buscam o divórcio. O futuro ainda impreciso intensificou os casos de pessoas com sintomas de ansiedade e depressão. A partir de reflexões sobre esses cenários, o diretor Dado Fernandes lançou no Youtube o curta-metragem "Clausura" no último sábado, 30.
No enredo, Waldir (Haroldo Guimarães) e Alice (Cristhal Machado) estão casados há aproximadamente 15 anos. Por motivos diferentes, os dois abandonaram seus sonhos de juventude. Ela - uma mulher branca - desejava ter uma vida tranquila e seguir carreira como dançarina. Ele - um homem negro - precisou abandonar o futebol depois de problemas no joelho, tornando-se alcoólatra e depressivo.
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Com essas frustrações que carregam em si, enfrentam desgastes no relacionamento. Entre discussões e divergências, atravessam temas como racismo estrutural, diferenças de classe social, depressão, alcoolismo e feminismo. "Gosto de fazer coisas que tem a ver com a sociedade. Quando roteirizo, pesquiso sobre o que está acontecendo com o mundo para servir como uma voz de reflexão", explica o diretor Dado Fernandes. E a pandemia trouxe muitas questões que poderiam ser abordadas: "vi que poderia falar de vários assuntos simultâneos em um só. O tema principal é a depressão e, a partir dela, as outras coisas são mudadas".
Filmada em dois dias, a obra contou com tempos recordes, de acordo com o profissional. "Soube da Lei Aldir Blanc e comecei a fazer o que antes eu tinha somente argumentos escritos. O tempo foi ficando curto. O processo de escrita do roteiro, contratação da equipe, filmagem, etc., durou cerca de um mês e meio", afirma.
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Mas o período de produção do curta-metragem não foi o único desafio. Outras situações foram impostas, principalmente, por causa da pandemia. "Eu conheci o lugar de filmagem só por foto. Vi o imóvel um dia antes de começar a gravar. Outra questão é que a equipe não podia se reunir. Então as conversas com os atores, por exemplo, aconteciam on-line", recorda.
Apesar disso, ainda deu continuidade à sua proposta de sempre desafiar o elenco. Com "Clausura", Haroldo Guimarães, conhecido por suas atuações em "Cine Holliúdy" e "Shaolin do Sertão", estreia em seu primeiro trabalho no gênero de drama. Já a atriz Cristhal Machado, que tem carreira consolidada no teatro, realiza sua primeira produção na sétima arte. "Gosto de tirar os atores da zona de conforto, de trabalhar com o que eles não estão acostumados", opina Dado Fernandes.
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A trilha sonora tem música "A dor de uma lágrima", da cantora Mel Mattos. Produzida durante o isolamento social rígido, a canção relata a trajetória de um casal que, durante a quarentena, está à beira de um divórcio. Esta composição surgiu de um processo de trabalho entre a artista e o diretor, que são casados.
O filme, realizado pela Tamassa Filmes, foi contemplado na lei Aldir Blanc, por meio da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor). Também conta com roteiro de Dado Fernandes, além de co-roteirização de Camilo Vidal.