Nas artes, o debate sobre a construção de imaginários nordestinos atravessa a criação de personagens. Carri Costa e Karla Karenina, grandes nomes da comédia cearense, mantém o sotaque como força em seus trabalhos.
"Não faltava gente tentando imitar meu sotaque de forma estereotipada pra fazer graça — de forma muito natural, como se fosse muito agradável — e perguntar coisas do tipo: 'Como vai a terrinha?'. Essa palavra 'terrinha' e a expressão 'artistas da terra' eu não consigo digerir bem. O contrário não acontece, não se vê um cearense imitar um carioca ou um paulista numa conversa pra fazer graça", pontua Karla, que interpretou a personagem Meirinha na Escolinha do Professor Raimundo.
Ator, diretor, produtor cultural e fundador do Teatro da Praia, Carri Costa resgata a vocação ao humor das brenhas do sertão — em seus amores e dores, para ele, tão universais quanto os experimentados no eixo Rio-São Paulo. "Os personagens que eu construo na minha linha dramatúrgica são desprovidos de qualquer estereótipo pejorativo, mas eles são de conotação regional sim, têm sotaque, têm um jeito de pensar e de agir dentro de uma cultura. Eu não acho que o eixo Rio-São Paulo tem uma linguagem mais universal. Quando a gente fala da alma humana, em perspectiva dramática ou cômica, a gente tá falando da alma universal", defende Carri.
Diretor da Companhia Cearense de Molecagem, Carri destaca não ter que se enquadrar no jeito que o Sul e o Sudeste produzem teatro. "Não, eu tenho que produzir do meu jeito, com as minhas características, com as minhas raízes, com a minha cor, com o meu sabor, com o meu jeito. Somos alguém porque nós temos raízes, nós temos piso, a gente 'vem de'. Existem Fernandas Montenegros em todas as capitais desse Brasil".