A tradicional aglomeração carnavalesca anual na rua do Cais da Alfândega, em Recife, irá espalhar-se por inúmeros territórios de todo o País em 2021. Isso porque o Festival Rec-Beat deste ano promove uma edição especial e virtual no próximo domingo, 14, que começa a ser transmitida a partir das 15 horas. O evento irá exibir shows de Getúlio Abelha, Céu, Mateus Aleluia, Luiza Lian, MC Troia, da SpokFrevo Orquestra, da banda O Terno e do bloco Ilú Obá De Min. Além das apresentações, o festival - com apresentação do cantor China e da artista Roberta Estrela D'Alva - terá performances compactas de dança, poesia e outras artes.
A edição foi possível por conta da aprovação do Rec-Beat em uma chamada de apoio do Oi Futuro de uma versão do festival em São Paulo. A pandemia naturalmente impossibilitou a realização do evento e a equipe decidiu adaptá-lo ao digital com realização no Carnaval de 2021 - inclusive para não deixar o evento tradicional sem edição no período. A edição é, inclusive, encarada como a 26ª do Rec-Beat pelo diretor e mentor do evento, Antonio Gutierrez, o Gutie.
"O que seria um evento presencial em São Paulo a gente incluiu também Recife, por ser digital. Ficou mais abrangente", explica. "Foi uma solução legal para o festival porque estamos realizando no Carnaval, conseguindo manter conteúdo sem ter que adiar e com um recorte perfeito do que é o Rec-Beat", celebra Gutie. Este "recorte" inclui, em especial, a mistura que o evento traz de tradição e novas tendências.
Uma das vozes em evidência que Gutie destaca é o piauiense radicado no Ceará Getúlio Abelha. "Acredito que o festival me conheceu na minha primeira apresentação de show completo no Maloca (em 2018). No ano seguinte, me convidaram para tocar. Meu show foi muito bem recebido, foi inesquecível", lembra o artista. Agora, em 2021, ele é uma das principais atrações da edição online.
O show de Getúlio foi filmado no centro de São Paulo, na Praça Antônio Prado. "Escolheram uma engraxataria icônica no centro de São Paulo como meu cenário e a possibilidade de explorar os arredores", destaca o cantor. "O repertório foi todo autoral, escolhi as músicas que considero as mais relevantes ao público nesse momento", avança. Getúlio adianta o aspecto visual da apresentação, que teve maquiagem de Koichi Sonoda, cabelo de Shady Jordan e figurino de Douglas Mathias.
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"Todos os locais são surpreendentes. O Getúlio, por exemplo, está na Praça Antônio Prado, que é um antigo centro financeiro de São Paulo, um contraponto com a coisa anárquica de Getúlio", relaciona Gutie. A escolha das locações, ele explica, teve critérios especiais. "Quando a gente transpôs para o digital, pensamos em vários aspectos. O primeiro é que entregamos um produto próximo do cinema. O registro foi para o lado de apuro técnico audiovisual. O segundo foi como transpor a tradição de 25 anos para o digital. Escolhemos locais icônicos de São Paulo e Recife, alguns com links com o Carnaval de rua das cidades, lugares tradicionais, afetivos", divide.
A apresentação da SpokFrevo Orquestra foi gravada no Marco Zero, a de MC Troia, na própria rua do Cais da Alfândega e o bloco Ilú Obá De Min performou no Largo do Paysandu, em São Paulo, onde o grupo geralmente sai no Carnaval. O Terno - cuja primeira apresentação musical desde o começo da pandemia é a do Rec-Beat - apresenta-se no Viaduto Santa Ifigênia e Mateus Aleluia, na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.
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"Cenários diferentes, palcos diferentes. O que a gente tem em um palco fixo no Rec-Beat a gente levou para outros cenários. O impacto está no lugar também", ressalta Gutie. "Foi uma experiência nova e bem instigante. A gente tem o desafio anual de fazer o Rec-Beat, levar pra rua um festival gratuito. No digital, tem esses novos desafios. Me sinto realizado de estar, no carnaval, com o Rec-Beat. Muitos eventos tradicionais não estão conseguindo (realizar). Tivemos essa possibilidade e transformamos nesse conteúdo", celebra o diretor, desejando que, em 2022, os sabores do Rec-Beat possam se dar de forma presencial.
Rec-Beat SP
Quando: domingo, 14, a partir de 15 horas
Onde: youtube.com/recbeatfestival
Mais informações: www.recbeatfestival.com
"Há muitas formas de construir minha narrativa", afirma Getúlio Abelha
Há duas semanas, Getúlio Abelha (em foto de Silla H à esquerda) lançou no YouTube o DVD “Ao vivo no Madruguinha (DVD VOLUME 1)”. A produção reúne trechos não musicais com apresentações de canções já famosas do artista, como "Laricado", "Sinal Fechado" e "Tamanco de Fogo", bem como versões de Calcinha Preta e Brasas Do Forró. Antes, em novembro de 2020, Getúlio foi um dos convidados para o álbum de remixes da cantora Pabllo Vittar. Toda essa movimentação intensa se dá antes mesmo do lançamento do primeiro álbum, "Marmota". Ao Vida&Arte, Getúlio adianta que seu lançamento está "mais perto do que longe" e marcará, para ele, o "fim de uma era".
Piauiense radicado no Ceará, ele encontrou sucesso primeiramente em 2017, com o clipe de "Laricado", gravado no Mercado São Sebastião. De lá para cá, lançou músicas avulsas, participou de eventos de música no Ceará e outros estados e angariou fãs de todo o País. "O disco sempre foi meu maior anseio", assume Getúlio, que segue: "Por diversas razões ele não saiu ainda, mas está mais perto que longe", adianta.
"Por muito tempo eu queria que um disco abrisse as portas da minha trajetória na música pois eu poderia definir uma estética, um conceito e, sobretudo, uma sequência de músicas", estabelece. No decorrer da carreira, porém, Getúlio entendeu outras formas de construir a própria trajetória.
"Sou multiartista. Há muitas formas de construir minha narrativa independente do álbum. Trabalhei em shows, programas de TV, performances on-line, músicas que nunca foram lançadas", lista. É por isso que Getúlio considera que o lançamento do disco será o "fim de uma era".
O desejo é apostar, depois dele, em novas construções. "Esse álbum simbolizará o fim de uma era e o começo da construção de outra. Geralmente artistas pop lançam um álbum e baseiam tudo a partir do conceito dele. No meu caso, já tô explorando esse conceito há um bom tempo e lançá-lo vai ser a oportunidade de começar a investir em novas ideias", explica.
"Sempre sonhei com esse projeto antes mesmo de fazer a primeira música", destaca Getúlio. O DVD teve direção do próprio artista, que descreve os processos de criação como "livres e, às vezes, imprecisos". "Acho que meu trabalho é o que é pela forma que se constrói", aponta. A escolha pelo Espetinho Madruguinha, bar no Benfica, remete às primeiras referências de Getúlio.
"A locação representa a origem do meu interesse por música. Foi em bares como aquele que me criei enquanto músico e performer, ainda criança, e meu trabalho musical surgiu numa tentativa de resgatar essas histórias", explica o artista. O projeto, executado a partir da Lei Aldir Blanc, é um reforço da "importância das políticas públicas para o desenvolvimento da arte no País", ressalta.