A Associação Cultural e Educacional Afro Brasileira Maracatu Nação Iracema conquistou o 1º lugar na "categoria maracatu" do sábado de Carnaval de 2020, primeiro dia do tradicional Desfile da Domingos Olímpio. Com o resultado, teria competido no grupo principal, no domingo de Carnaval deste ano. Devido à pandemia da Covid-19, não foi possível.
Para William Augusto, presidente do Nação Iracema, "a situação é dolorosa". "Investimos o que tínhamos e o que não tínhamos", sublinha. Ao mesmo tempo, o grupo tem consciência de que a realidade não permite aglomerações. No segundo semestre de 2020, com a retomada das atividades econômicas, os brincantes de Fortaleza do Nação Iracema chegaram até a ensaiar e realizar oficinas de montagem de roupas.
Nas mídias sociais, a Associação propõe discussões e divulga memórias. O presidente lembra que toda a situação é difícil, pois o grupo não está somente na Capital cearense. Existem brincantes no Crato, no Canindé e em Pindoretama, para citar alguns. De acordo com William, "as atividades são feitas para desembocar no Carnaval. A linguagem do Maracatu é importantíssima e movimenta toda uma estrutura".
"Por trás da máscara negra, pulsam singularidades", sublinha Danielle Maia Cruz, doutora em Sociologia e autora do livro "Maracatus no Ceará: sentidos e significados" (2011). Segundo a pesquisadora, o arsenal cênico dos maracatus reflete sobre uma cidade marcada pela desigualdade social e que, por vezes, nega suas expressões de matriz africana. "Além de rememorar a coroação de reis negros, os maracatus são, para os brincantes, mecanismos de expressar suas subjetividades, emoções e motivações de mundo", afirma.
Em seu livro, publicado pela Editora UFC, Danielle Maia Cruz dedica seu olhar sobre a preparação do maracatu Nação Iracema, por uma vertente sociológica e antropológica. Na obra, apresenta como seus dirigentes entendem a manifestação como representativo do negro no Ceará e da valorização da cultura afrodescendente.
A pesquisa de Danielle teve início em 2006, mas o caminho já estava traçado. "Como nada na vida se faz de imediato, o desenho desse campo já estava configurado no meu inconsciente desde a infância, quando os ventos certamente me traziam as loas de grupos com sede no bairro da Bela Vista, onde residi na primeira década da vida", poetiza.
Apreciador do Maracatu do Ceará, o professor e cineasta Valdo Siqueira indica o curta-metragem "Contramão - História do Maracatu Cearense", disponível no YouTube. A obra tem pesquisa e roteiro de Osiel Neto, Célia Gurgel, Rafael Cunha e Danielle Rotholi. No documentário, relatos de personalidades do movimento.
Para relembrar um tempo recente