Os corações foliões podem estar vivendo uma das piores ressacas carnavalescas em 2021. A falta do batuque das percussões pelas ruas de Fortaleza durante o período que sucederia o Carnaval relembra a dor do que não foi vivido. Para não esquecer da força que une o Ceará ao ritmo frenético da Bahia, um dos principais berços da festividade no Brasil, estabelecimentos gastronômicos trazem um pouco de baianidade à Terra da Luz. Regadas nos temperos e, claro, no dendê, as comidas também alimentam a alma com a força motriz do axé.
Foi do axé que Lena Oxa, proprietária da Casinha do Acarajé, conseguiu esperança para reformular a vida após um período de dificuldade. Personalidade conhecida em Fortaleza, Lena contraiu chikungunya em 2015. No momento de desespero, só havia um pensamento: "faz acarajé". Ela não sabia distinguir se era uma mensagem, mas entendeu que seria a única opção para recomeçar. Voltou, então, a quebrar o feijão com pilão no quintal, assim como aprendeu nos terreiros de candomblé em Salvador, sua cidade natal.
Após quinze dias, conseguiu espaço na garagem de casa para vender os aperitivos e nomeou a Casinha, de onde obtém renda até hoje. "A Casinha nasceu de um recomeço de vida que o axé me deu, que as forças do candomblé me deram, para eu reiniciar minha vida", relembra. Lena deixa claro que quem come o seu acarajé, carro chefe da casa, repete! Para fazer um bom prato, explica a proprietária, não precisa dos melhores ingredientes. É necessário intenção e bom estado de espírito quando for colocar a mão na massa. "O acarajé é uma ciência, uma energia que cresce quando você está de bem. Como tudo na vida, tem que ser com muita alegria, muita animação, muita energia boa. O acarajé é axé, vem de dentro da alma", conta.
Leia também | Tim Burton dirige série da Netflix sobre Wandinha Addams
Além do prato típico baiano, preparado com massa de feijão fradinho, os clientes do estabelecimento podem pedir outros pratos, como a quiabada ou o caruru, o grande sucesso das quartas-feiras, feito com frango, carne-de-sol ou calabresa.
Outro local que propõe a boa energia na comida é o Chamego, localizado na Rua Antônio Augusto, em Fortaleza. As paredes coloridas do restaurante refletem a criatividade e diversidade dos pratos, assinados pela chef Marina Araújo. "A nossa cozinha é baseada em honrar a ancestralidade, o regionalismo, os fazeres tradicionais e os ingredientes da nossa terra", explica. Filha de mãe com descendência amazonense e cearense, e pai com descendência maranhense, Marina une os costumes de casa e as experiências de vida em uma cozinha afetiva.
Às sextas-feiras, o acarajé ganha destaque no Chamego. No dia do preparo da refeição, Marina faz uma oferenda ao seu orixá de cabeça, Xangô, usa alguns elementos para "alimentar o axé" em um alguidar de barro e o posiciona na entrada do restaurante. "É muito especial fazer uma comida com tanta história que carrega tanto significado", explica.
Os clientes podem ter a experiência de comer o bolinho de feijão com vatapá de peixe e camarão ou, para os veganos, com vatapá de legumes. Também entram no prato o caruru, a salada de tomate com coentro, o "camarão sossego" e as castanhas assadas. Nos outros dias da semana, o cardápio do local conta com pratos diversos, além de sobremesas, drinks e menu especial de café-da-manhã. Todos, claro, preparados com muita positividade. "Para uma comida ter axé, é necessário estar carregada de boas intenções para alimentar o corpo e espírito", destaca.
Leia também | Com tema "Poéticas de Travessia" em 2021, Porto Iracema das Artes oferta 165 vagas para cursos gratuitos
Já na rua Barão de Aracati, a baianidade fica por conta do número 2899, espaço ocupado pelo Abaeté Boteco. O local faz uma alusão, segundo a sócia Lucinéia Andrade, a um terreiro, construído a partir das lembranças da Bahia presentes na memória de Lucinéia e do irmão, o sócio fundador Lucelmo Andrade, quando chegaram no Ceará. O espaço aberto carrega afetividade com atrações musicais, drinks refrescantes e um cardápio que fortalece a identidade baiana, tendo o acarajé como estrela.
O Abaeté começou em um espaço menor na Rua Castro Alves. Agora, o cardápio se expande com opções como bobó de camarão e o xinxim de galinha, prato típico baiano. Para a escolha dos pratos, Lucinéia explica que o primeiro fator decisivo é identitário. "A gente tem sempre essa preocupação com a identidade, de fortalecer a identidade baiana", explica. Para criar a mistura perfeita entre a Bahia e o Ceará, pode-se pesar a mão nos temperos e no leite de coco, por exemplo. O que não pode faltar nunca, alerta Lucinéia, é apenas um ingrediente: o dendê!
Serviço
Casinha do Acarajé
Onde: Rua Major Celestino, 1023
Mais informações: @casinhadoacaraje
Telefone: (85) 98774 7497
Chamego
Onde: Rua Antônio Augusto, 770
Mais informações: @ochamego
Abaeté Boteco
Onde: rua Barão de Aracati, 2899
Mais informações: @abaeteboteco
Telefone: (85) 3055 7087