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Quem vê teatro em Fortaleza? Pesquisa indica quem é o público dos teatros na Capital
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Quem vê teatro em Fortaleza? Pesquisa indica quem é o público dos teatros na Capital

Pesquisa traçou o perfil dos espectadores de teatro na Capital cearense. Diante disso, se intensifica a discussão: afinal, quem assiste a teatro em Fortaleza?
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Foto: Antonio Filho/Divulgação "Cadela Branca" foi o espetáculo de conclusão da segunda turma do Curso Livre de Práticas Teatrais (2018), curso realizado pelo Cangaias Coletivo Teatral

"O teatro não vive sem o espectador". Essa mensagem revela a importância da relação intrínseca entre público e arte. Ela está no livro "Praticante Cultural: o espectador de teatro na cidade de Fortaleza", que traz pesquisa aplicada entre 2017 e 2018 pelo produtor cultural e ator Caio César Vidal sobre o perfil do consumidor de teatro na Capital cearense.

A pesquisa foi feita a partir da aplicação de questionário com 306 espectadores em 11 teatros de diversos bairros de Fortaleza. O resultado aponta um público majoritariamente entre 24 a 41 anos de idade, com nível superior, que se desloca ao teatro mensalmente das periferias da Cidade e que utilizam como meios de transporte, principalmente, carros e ônibus. Além disso, há a forte presença de professores, estudantes e artistas. Grande parte dos entrevistados possui renda mensal de um a dois salários mínimos.

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Os dados coletados mostram que o canal mais utilizado para que espectadores em Fortaleza saibam de espetáculos teatrais é a indicação feita por amigos (56,21%). Em seguida, surgem as postagens em sites e páginas da web (30,07%).

Para tornar a comunicação mais eficiente e atrair mais pessoas para os teatros, Caio César acredita que um caminho importante é utilizar o "convite direto", ou seja, que grupos teatrais tenham ferramentas e recursos para transmitir mensagens de forma mais direcionada. Ele sugere, como alternativas, o uso de carros de sons anunciando peças, entrega de panfletos e conversas mais próximas com espectadores. O produtor cultural também elenca a necessidade de atualização constante em sites de programação. Durante o período de realização da pesquisa, percebeu que as informações que circulavam sobre teatros ainda eram "muito pulverizadas".

A comunicação é importante para atrair espectadores, mas não é o único fator. Caio César também menciona a necessidade de descentralizar o posicionamento geográfico de equipamentos culturais na Cidade, com a construção de mais espaços na periferia e contemplando mais áreas em Fortaleza.

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Caio César refletiu sobre outros pontos que interferem na ida de pessoas ao teatro, como a qualidade estrutural dos equipamentos culturais. Ele percebeu que muitos deixam de visitar alguns teatros pela falta de conforto, em aspectos que vão desde "espaços mofados" até a baixa qualidade disponível de estacionamentos. "Quando reflito a respeito do que o público quer e espera do teatro, não me refiro apenas à programação de espetáculos. O espectador deseja também conforto. Ele quer encontrar cadeiras confortáveis, ar-condicionado, um estacionamento seguro ao ir de carro. Enfim, ele espera minimamente um conforto", acrescenta Caio.

Um dos resultados da pesquisa indica que a população de Fortaleza, à medida que envelhece, se dirige menos ao teatro e com menor frequência. Assim, Caio César aponta que pessoas que nasceram na geração Milênio (nascidos entre 1980 e 1996), com 23,65% do total de entrevistados, são "o berço para a sobrevivência e o crescimento do teatro" e onde, provavelmente, deverão ser concentrados os esforços de uma comunicação eficiente, pois nessa geração estão os futuros apreciadores de teatro.

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O produtor cultural comenta a importância de se nutrir o contato com o teatro desde a infância, contribuindo, assim, para a formação de novos espectadores. Nesse sentido, entra em destaque também a relevância da presença desse meio durante o período escolar para estimular a cultura de apreciação do teatro. "Se quisermos o teatro conosco no nosso meio social, precisamos mobilizar um programa de educação para a formação de espectadores desde crianças", enfatiza Caio César.

Na pandemia, passou a ser frequente a adaptação de espetáculos para o meio virtual. O pesquisador acredita que essa utilização do ambiente on-line continuará ocorrendo mesmo em um cenário pós-pandemia, e isso também contribuirá para a formação de espectadores. "Eu acredito que o teatro físico nunca acabará. Há sempre pessoas precisando de olhares, de calor e de contato. O que nós que compomos a produção teatral precisamos refletir é que a tecnologia e a internet vieram para ficar. Então, se não pensarmos nossas produções com essas novas tecnologias, vamos nos dar mal, porque as pessoas que não iam para o teatro e tiveram contato pela primeira vez a partir da internet vão se sentir motivadas a ir, a ver aquilo acontecer para além de uma tela de celular. Esse momento é crucial para a promoção de novos espectadores futuramente", destaca.

Teatro na pandemia

O Cangaias Coletivo Teatral é um exemplo de coletivo que precisou adaptar espetáculos de seu repertório para o ambiente virtual devido à pandemia. Segundo Gabi Gomes, atriz, produtora e integrante do Cangaias, a mudança afetou também a percepção sobre o público que acompanhava o grupo, mesmo que já houvesse um relacionamento criado anteriormente. "Tudo foi novidade tanto para nós quanto para os espectadores. O lado positivo foi poder contar com pessoas de qualquer lugar do mundo. E isso foi muito bom para criar novas conexões".

Entretanto, ela percebeu uma queda na quantidade de visualizações das apresentações do coletivo nos últimos meses. Com essa oscilação, a produtora reforça que um ponto importante na "manutenção de público" é entender que a formação de plateia é algo constante. "A formação de plateia é algo que sempre é pauta nas nossas conversas enquanto fazedores de teatro de grupo. A ação deve ser uma constante porque os públicos vão mudando, assim como os fluxos da sociedade. Para nós do Cangaias - assim como para tantos outros grupos e artistas do País - a relação com o público é sempre um desafio", destaca Gabi Gomes.

A partir dos espetáculos, cursos, oficinas e pesquisas artísticas realizadas pelo coletivo, o grupo consegue perceber o perfil do seu público-alvo. Segundo Gabi, ele é formado principalmente por alunos, ex-alunos, pessoas interessadas em formação teatral, amigos e um "grupo mais geral" que varia de acordo com as temáticas abordadas pelas suas produções.

De acordo com a atriz, mesmo que não interfiram diretamente nas peças que serão montadas, informações sobre o público são "de suma importância", pois auxiliam o coletivo a manter vínculos, direcionar melhor a divulgação de trabalhos e pensar em que outros produtos, além de espetáculos, interessam aos espectadores. As ferramentas utilizadas pelo Cangaias são postagens em redes sociais e indicação de amigos.

Pesquisa em números

60,14% dos entrevistados pertence à Geração Y, ou seja, tem entre 24 e 41 anos

De 100 bairros distintos os espectadores se deslocaram em direção ao teatro durante o período da pesquisa; o maior número de espectadores saiu do Benfica.

49,67% das pessoas entrevistadas possuem Ensino Superior Completo 

33% dos entrevistados possuem renda mensal de até um salário-mínimo, enquanto 31% têm renda de até dois salários-mínimos.

56,21% é a porcentagem de espectadores que utilizam indicação de amigos como canal de comunicação para saberem de peças de teatro

37,25% dos entrevistados estão dispostos a pagar entre R$ 10 a R$ 20 no preço do ingresso de um espetáculo teatral

24,84% corresponde a porcentagem de entrevistados que são professores; o dado representa a maior parcela de profissões elencadas pelos entrevistados, aparecendo, em seguida, a de estudante, com 17,32%

Livro "Praticante Cultural: o espectador de teatro na cidade de Fortaleza

De Caio César Vidal
72 páginas
Gratuito
Mais informações: @praticantecultural e no site

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