Entre especulações e memes, dois produtos de entretenimento têm capturado olhares e conquistado o topo dos assuntos mais falados nas redes sociais nas últimas semanas. O primeiro deles é o Big Brother Brasil 21, que tem imensa repercussão no País, o que torna até difícil de se escapar dos seus desdobramentos - do dedo em riste da Lumena à dancinha "tchaki, tchaki" do Gilberto. O outro sucesso de audiência é "WandaVision", série da plataforma de streaming Disney+. Ligando as atrações, uma característica: as duas histórias são impulsionadas por uma personagem que movimenta a trama e está presente em quase todas as confusões. Na série de heróis, essa persona é Wanda Maximoff, uma arquiteta de realidades paralelas. No BBB, temos Karol Conká.
Com chances de deixar o programa com alto índice de rejeição no paredão desta terça-feira, 23, a rapper curitibana tem sido, ao mesmo tempo, antagonista, protagonista e roteirista desta edição do reality show. Autoproclamada vilã, a cantora isolou Lucas Penteado (ele até abandonou o BBB), atacou Carla Diaz e perseguiu Juliette Freire. Sem deixar o centro das atenções, Karol brigou nas festas, formou casal, ganhou prova e teve o maior tempo de tela da temporada até aqui. Autora da própria narrativa e metralhadora de "gatilhos" para outros participantes, ela criou ficções e obsessões que tiveram efeito cascata em toda a lógica da edição. E é aqui que Karol encontra Wanda.
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Enquanto a Feiticeira Escarlate ressuscitou o marido, Visão, vítima de Thanos em "Vingadores: Guerra Infinita", Karol construiu (quase sozinha) uma relação com o já eliminado Arcrebiano. É verdade que Bil, em entrevista à Ana Maria Braga, confessou que, a priori, tinha, sim, se interessado pela Mamacita (apelido que Karol deu pra si mesma). A simpatia do crossfiteiro passou longe da paixão que a rapper narrou para os companheiros de jogo. Ela fantasiou investidas do brother e, quando tudo deu errado, desestabilizou Bil a ponto do participante contar ser mais feliz fora dos holofotes - tal qual Visão tentando sair da redoma de Wanda.
Entre uma invencionice e outra, a cantora teve embate, na última semana, com a influencer Camilla de Lucas (que, no BBB, se assumiu uma Monica Rambeau, batendo de frente com a nossa Wanda de Curitiba). Durante o embate, que foi acompanhado por quase toda a casa, Karol usou vários argumentos - a exemplo da pauta racial -, mas depois quis mudar toda a realidade do que foi tido. Tentou convencer Pocah e Fiuk de que não tinha sugerido que Camilla promoveu competição entre "duas mulheres pretas", os dois (mesmo sendo aliados dela) rebateram e desmentiram. Karol se irritou e seguiu com a própria fanfic.
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Seguindo as semelhanças do BBB com a série da Disney (e aqui tem um spoiler, quem não está atualizado, pula este parágrafo), Karol tem até sua própria Agnes. No reality, ela atende pelo nome de Lumena, dando corda e tumultuando ainda mais as ações da protagonista. A psicóloga baiana parece não ter intenção de puxar Karol para o real e investe "grandão" num reforço positivo que só deixa a rapper ainda mais "fenotipicamente" perdida.
Num outro caso recente, numa fofoca sobre combinação de voto que envolvia Gilberto e Arthur, Karol ouviu do economista pernambucano: "Você mudou o contexto, irmã, assuma que você mudou". Karol deu de ombros e seguiu sustentando fatos desencontrados como se ignorasse as câmeras que tudo captam. A edição do programa, inclusive, abraçou essa falta de filtro para vender a personagem como uma vilã caricata e engraçada, o que não funcionou muito bem diante da forma dura com que a participante critica os colegas.
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A realidade é tão controlada por Karol que até a esperada saída parece ser decisão dela. Após perder mais apoios no restante do elenco e intuir uma possível rejeição com a saída do humorista Nego Di (ex-aliado) no último paredão, Karol começou a assumir o discurso de despedida. É capaz de dizer mais tarde: "Eu nem queria ficar aqui mesmo. Cansei. Mamacita pediu, Brasil obedeceu". Conká acredita ser mesmo invencível, uma autêntica super-heroína. Nem Thanos derrotaria.
P.S.: BBB é um jogo. Apesar dos erros reais, é fundamental ponderar que a perseguição fora da casa pode ser mais perigosa do que as atitudes cometidas no programa. Recorro às palavras do também rapper Rico Dalasam, que foi "cancelado" por lutar pela autoria de uma música gravada com Pabllo Vittar: "Se eu, que fui linchado na internet por ir atrás de um direito trabalhista, fiquei anos triste, sem vontade de fazer nada, pensa o que pode acontecer com essa menina. Que seja leve para ela! Depois de terça-feira, eu só desejo muita vontade de viver para Karol".
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Trajetória antes do BBB
Uma das integrantes do grupo "Camarote" na 21ª edição do Big Brother Brasil, Karol Conká é nome conhecido nacionalmente desde 2015, quando despontou com músicas dançantes, mensagens de empoderamento e looks que garantiram espaço para a artista também no mundo da moda.
Ainda na adolescência, a rapper lançou o EP "Karol Conká" (2001). Mas, por causa de uma gravidez inesperada e de problemas com sua saúde mental, pausou a carreira por quase 10 anos.
A cantora retornou à ativa em 2011, com "PROMO". Entre as canções, estão "Melhor Que Se Faz", "Passo a Passo", "Me Garanto" e "Boa Festa". A partir desse momento, a artista passou a ganhar maior visibilidade no cenário da música brasileira.
No ano seguinte, divulgou dois singles que integrariam o primeiro álbum da cantora. Foram eles: "Boa Noite" e "Gandaia". Este último recebeu mais de 6 milhões de visualizações no vídeo do Youtube.
Em 2012, lançou uma composição em parceria com Projota, que também integra o grupo "Camarote" no BBB 21. Quando se viram pela primeira vez no programa, os dois se abraçaram. "Nunca imaginei você aqui", disse a cantora ao rapper. Ele então respondeu: "que bênção, que bênção!".
Mas foi em 2013 que a artista se estabeleceu no mercado artístico. O disco "Batuk Freak" conta com 12 músicas, como "Corre, Corre Erê", "Gueto ao Luxo", "Você Não Vai" e "Sandália".
Uma de suas obras de maior popularidade não está presente em seus álbuns. "Tombei" (2015), lançada em parceria com Tropkillaz, tem mais de 30 milhões de visualizações no canal do Kondzilla. Após isso, ainda divulgou o CD "Ambulante", em 2018.
No Ceará, é conhecida também pela polêmica com a multiartista Karine Alexandrino, a "mulher tombada", que aponta ter sido copiada pela curitibana.
Depois que entrou no programa, Karol perdeu participação em festival de música, teve single engavetado, teve programa na TV cancelado e contratos com marcas não renovados. (Clara Menezes)