No caminhar da vida, sujeitos elaboram diversas estratégias para entender dinâmicas, conflitos, metamorfoses e tendências sobre si e o entorno. Em tempos tão incertos, o tarô (em francês, "tarot") ganha cada vez mais destaque. Ferramenta das artes divinatórias — que mapeiam acontecimentos, desvendam porquês e revelam caminhos do porvir — este baralho com diversos símbolos acena para uma experiência de reflexão, autoconhecimento e orientação desta jornada.
Nas tiragens de tarô, cartomantes, tarólogos e entusiastas acessam o oráculo — que apresenta questões sobre a vida de quem o consulta. Dependendo do baralho, também é possível ler enigmas de pessoas próximas do consulente. Saber milenar, o jogo do tarô compreende o estudo dos arcanos, os símbolos contidos em cada carta. "A gente vê aspectos da personalidade e vislumbres do futuro. Há, também, fronteiras invisíveis, do campo da sensação", diz a taróloga Emilly Guilherme.
Logo no início da pandemia da Covid-19 no Brasil, Emilly passou a realizar consultas virtuais. Chegou a fazer três tiragens por dia. "Ao se isolarem, houve o olhar para o processo interno. Não só o tarô, mas as pessoas estão se voltando para reiki, astrologia, uso de cristais, para a magia e os conhecimentos esotéricos. Um dos povos que formou o Brasil é um dos povos mais mágicos, os indígenas. As pessoas estão tentando, também, resgatar o poder ancestral", acentua a taróloga.
À época, Emilly via cartas se repetindo em consultas de diferentes pessoas. Dois arcanos se destacavam nas tiragens: Eremita (retiro, solidão e busca espiritual) e Enforcado (sacrifício, dificuldades e limitações). "Na pandemia, se para de fazer o quê, como e com quem quer. Há o sentimento de que, se você fica em casa, é um sacrifício pelo bem coletivo. Isso traz uma iluminação, que é: 'se eu fico em casa, as pessoas se livram do coronavírus'. Nesse processo, o isolamento mostra tesouros escondidos".
Também cineasta, Emilly iniciou sua jornada no tarô quando era estudante. Adquiriu o baralho para criar a narrativa de um roteiro, mas o fascínio despertou algo maior: "o potencial mágico de usar o tarô para ajudar as pessoas, sempre". Seu amigo, o arte-educador, artista e comunicador comunitário Iago Barreto, a ensinou sobre o Tarô de Marselha — clássico baralho e um dos mais conhecidos. Para a prática, há vários outros baralhos e técnicas. As tiragens dependem de cada tarólogo.
"Passou um tempo, deixei o tarô de lado. De vez em quando, tirava para alguém. Quando começou a pandemia, algo me puxou para voltar. Um dia acordei e sabia que ia tirar o tarô do anonimato", diz Emilly. Após tal sentimento, ela criou o perfil no Instagram onde atende e divide estudos. Para a taróloga, "a energia ultrapassa qualquer barreira virtual". Nas tiragens, usa materiais filtradores dos quatro elementos: vela (fogo), folha ou cristais (terra), incenso ou pena (ar) e um copo com água.
Iago Barreto ainda tira tarô, mas agora em menor frequência. Joga com o propósito de montar bibliotecas comunitárias, trocando consultas por livros. "Como trabalho e habito em ocupação e retomada de terra, por onde vou, começo uma biblioteca ou ajudo alguma. Tiro carta em troca de livro, porque todo mundo tem um livro que pode doar", destaca.
Para quem deseja conhecer o tarô, Iago recomenda ter cautela ao tirar: "É energia envolvida, é respeitar seu tempo. Quando você tira para o outro, precisa respeitar demais o processo que a pessoa está passando e entender que são conversas, não previsões".
Tarô, relações e conectividade
A taróloga Isabella Câmara tem percebido a procura por consultas de tarô para relacionamentos afetivos e vida profissional. Para ela, as tiragens estão cada vez mais acessíveis por meio das redes sociais. "Com a pandemia, muitos casais precisaram conviver mais tempo juntos do que estavam acostumados, aumentando o número de conflitos, dúvidas e separações. O fato de muitas pessoas terem ficado desempregadas, com incertezas sobre o futuro profissional, também gerou muita ansiedade", recorda.
De acordo com Isabella, sempre existiram conflitos amorosos, financeiros, familiares, espirituais. Há milhares de anos, os tarólogos ajudam nessas tramas. "Como a propaganda na Internet vem atingindo mais pessoas ao mesmo tempo, cada vez mais tarólogos estão expondo a si e os seus serviços nas mídias sociais. Isso gera conexão com aqueles que já estão abertos a quererem uma consulta e desperta curiosidade naqueles que nunca cogitaram se consultar", aponta a taróloga, que sempre se interessou por assuntos espirituais e esotéricos.
Por consultas virtuais, Isabella auxilia na resolução de conflitos pessoais, principalmente na vida amorosa e espiritual. Além disso, ministra cursos de tarô e baralho cigano, tanto para quem deseja se tornar profissional quanto para quem quer utilizar as cartas para benefício próprio.
"É ciência"
Cacique Climério Anacé, da aldeia Japuara, tira tarô há cerca de cinco anos. Os saberes desta arte o ajudam a tomar decisões. Para saber jogar, "é preciso estudo, pois tarô é ciência. As cartas seguem uma série de posições e somam à interpretação", diz Climério. Também sacerdote da umbanda, Cacique Climério explica que, ao contrário do que muitos pensam, as religiões não interferem nas tiragens. "Não é fé, é ciência e estudo", reforça. Ele também realiza outros tipos de trabalhos, com foco no levante financeiro e na saúde, como banhos de ervas, firmeza e aconselhamento. Em seu perfil no Instagram, compartilha estudos diversos.
O que diz sobre nós
- Auxilia a resolver conflitos;
- Explica por que determinadas situações estão acontecendo;
- Desvenda o passado e mostra tendências futuras;
- Orienta a escolher o melhor caminho a seguir;
- Oportuniza mudanças de atitudes para um futuro melhor;
- Promove autoconhecimento por meio das revelações;
- Mostra uma visão ampla sobre as questões da vida, mesmo aquelas que não se consegue enxergar de imediato.
Fonte: Isabella Câmara, taróloga
Mais tarô!
A grife francesa Dior lançou, em janeiro de 2021, uma coleção inspirada no tarô. A estilista Maria Grazia Chiuri utiliza símbolos do baralho para estampar as peças, com elementos dos arcanos, brilhos e detalhes dourados. O interesse da designer no assunto tem como objetivo evocar a magia do tarô quando se completa quase um ano de pandemia.
Aspectos do conjunto de cartas de Visconti-Sforza, desenhados no século XV, integram a coleção. Com a proposta esotérica, a marca também recorre aos signos do zodíaco nas vestimentas.
O tarô e os conhecimentos esotéricos são rotineiramente ligados às coleções da Dior. Isso porque o fundador Christian Dior (1905-1957) era considerado um grande supersticioso.
O POVO indica livros sobre a arte do tarô. Confira!
Tiragens de tarô
Tarot da Mlinha
Consultas e estudos sobre tarô
Instagram: @mlinha_tarot
Isabella Câmara Tarot e Relacionamentos
Consultas, cursos de tarô e baralho cigano
Instagram: @isabellacamara.tarot
Cacique Climério Anacé
Trabalhos de cura, banhos de ervas, firmeza, aconselhamento e estudos
Instagram: @c.e.u_exutatacaveira
Estrela Guia
Tarôs, búzios e baralho cigano
Onde: rua Antônio Pompeu, 695 - Centro
Contato: (85) 3231-7064