Antes da linguagem escrita ser desenvolvida, a comunicação já existia através de códigos retratados por desenhos. As pinturas surgiram como uma forma de comunicar ideias, desejos e necessidades. Mesmo com a manifestação da escrita e da fala, o registro da vida por meio das ilustrações continua potente. Entre aquarela, nanquim, lápis carvão e grafite, as vivências individuais seguem sendo pinceladas no tempo.

A capacidade humana de contar histórias estimula a ilustradora Gabrielle Neara a ser um veículo condutor por meio da arte. Inspirada pelos pequenos detalhes cotidianos que embelezam o ordinário, a artista une o lúdico e o mitológico nos desenhos que a acompanham desde a infância. Dentre os temas abordados nas ilustrações, a artista se dedica aos seres elementais, seres mitológicos e a cultura brasileira, além de sua vivência como mulher e o modo como ela observa outras mulheres. Com experiência em grupos e rodas de mulheres que estudam e ritualizam ciclicidades femininas, Gabrielle busca desenvolver o resgate da ancestralidade nos seus desenhos. "O feminismo interseccional é uma das pautas mais importantes do meu trabalho. É sobre conhecer o seu corpo, empoderar a si mesma, ter autonomia enquanto sociedade", acrescenta.

Profissional no meio artístico desde 2015, Gabrielle pontua que o caminho da arte, apesar de possível, também pode ser difícil. "É sempre bom encontrar o seu caminho e o que você quer fazer ali dentro. É muito fácil você se perder e não conseguir se firmar, já que o mercado é muito amplo", explica. Os planos da ilustradora buscam trazer leveza e autoconhecimento aos clientes através da papelaria, das ilustrações e terapias integrativas.

 

"Considero o desenho, antes de tudo, uma maneira de ver"

A mestre em Sociologia e ilustradora Alice Dote se familiarizou com a ilustração ao realizar duas graduações que trabalham fortemente o desenho: Arquitetura e Urbanismo e Design de Moda. A técnica passou a ser utilizada como uma tática de "leitura e escrita" da própria vida.

Atualmente, Alice foca em temas relacionados à cidade, cotidiano e figura humana. "Considero o desenho, antes de tudo, uma maneira de ver", define. "O desenho me leva a questionar que imagens (de mulher e por mulheres) quero produzir e, para além disso, que corpos femininos enxergo", reflete.

Alice participa de um projeto com a escritora cearense Lorena Portela, autora do livro "Primeiro Eu Tive Que Morrer". Além disso, colabora nos projetos "Lábios Livres" e "Fortaleza Cromática".

 

"Minhas aquarelas falam muito de mim, mas também sobre tantas mulheres que admiro"

"Acho que a vida me levou, mas eu dei uma forcinha", conta a ilustradora, e tatuadora Juliana Lousada, a Ju Choo, ao relembrar sua trajetória com a ilustração. O desenho sempre esteve presente na vida da artista, mas o processo com a arte se intensificou quando ela reencontrou as aquarelas do pai, falecido há 17 anos, e decidiu testar.

"Eu retrato o feminismo em aquarelas de expressões determinadas e confiantes, contrapondo um universo de delicadezas, flores e animais. Se a minha arte faz você se enxergar, ou ver ali uma outra mulher da sua vida, sinto que entreguei minha mensagem. Minhas aquarelas falam muito sobre mim, mas também sobre tantas mulheres que admiro e que caminham ao meu lado", conta.

Na última terça-feira, 2, Juliana lançou a coleção de ilustrações "Livre". "É uma representação de seres que já deviam ser livres em sua essência e nunca privados de sua vida".

 

Ilustradoras cearenses

Alice Dote

Instagram: @alicedote

Gabrielle Neara

Instagram: @gabrineara

Ju Choo

Instagram: @ju.chooo