Ao número 320 da Avenida Rogaciano Leite, em Fortaleza, o portão da casa 14 é obra de arte. O projeto inédito do escultor, gravador, ilustrador e pintor cearense Sérvulo Esmeraldo (1929-2017) foi executado pelo metalúrgico Ari Josino, parceiro do artista de longa data, em 2020. No singular tom de vermelho utilizado nas criações do cratense, o painel dá entrada ao Instituto Sérvulo Esmeraldo — associação civil sem fins lucrativos que reunirá acervo documental para pesquisa e exposição, centro de formação e residência artística em arte contemporânea.
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Presidido pela curadora de artes visuais Dodora Guimarães, esposa de Sérvulo e dinamizadora do legado do artista, o Instituto nasceu em 2013. Sonho construído junto, a instituição cultural se localiza na residência onde o casal viveu e construiu família. "Quando nos mudamos para nossa casa ainda em 2004, Sérvulo disse que gostaria de transformar o espaço no Instituto Sérvulo Esmeraldo", relembra Dodora. Hoje, a pesquisadora dedica-se a reformar e converter a casa num museu vivo para a capital cearense — e seguirá morando no endereço. "Sempre digo que é uma praça com paredes, um museu comigo dentro", ri-se.
"A natureza do Instituto Sérvulo Esmeraldo é não somente preservar e divulgar a obra do Sérvulo, mas trabalhar a memória e o pensamento dele em relação à arte contemporânea", enfatiza Dodora. A arquitetura, explica a curadora, foi desenvolvida em consonância aos desejos do artista ainda em vida. Os galpões que abrigavam a oficina de trabalho do caririense foram demolidos e o quintal recebeu três blocos edificados, formando uma ampla praça interna arborizada.
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O projeto arquitetônico é do escritório Marcus Novais Arquitetura, que assinou também o conceito do Museu da Fotografia de Fortaleza. "Nós temos um ateliê, que é o espaço museológico do Instituto, é a parte que vai apresentar o trabalho do Sérvulo, as condições, as ferramentas, o modus operandi dele como artista. Temos também a reserva técnica, o local que vai guardar as obras que não estão em exposição e funciona também como laboratório de implantação do acervo documental. O terceiro espaço é destinado a trabalhar formação, cursos, palestras, seminários, auditório", enumera Dodora.
"O acervo documental é toda a massa relativa ao trabalho do Sérvulo no Brasil, antes e depois da Europa — o acervo do período europeu está localizado no Instituto de Arte Contemporânea (IAC) em São Paulo. São projetos das obras públicas, projetos de exposições, catálogos, livros, cadernos de anotações, estudos, maquetes, matrizes de gravuras, obra gráfica, ilustrações, fotografias, maquetes de joias, correspondências, clipping de imprensa, biblioteca... Todo o histórico de vida dele", continua Dodora.
Os mais de 10 mil itens que compõem o acervo documental de Sérvulo Esmeraldo encontram-se, agora, em fase de organização por uma equipe técnica. "É muito importante falar sobre a manutenção desse acervo no Ceará. Para a implantação, nós temos um projeto aprovado pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo e nós temos patrocínio da Cagece, do Banco do Nordeste, da Cegás e da EcoFor, o que possibilitou começar o mobiliário. A Cerbras também entrou nos apoios ao Instituto ao desenvolver o mural com obra do Sérvulo exposta na CasaCor em 2019", destaca Dodora.
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"A formação era uma das preocupações do Sérvulo. Ele sempre colocava a necessidade de uma formação artística boa, eficiente. Sérvulo lutava pela profissionalização dos artistas, ressaltava a necessidade da criação de um mercado estruturado de arte capaz de dar condições de os artistas desenvolverem suas pesquisas. Nós temos compromisso com esse pensamento", garante a presidente. Em 2019, o Festival Sérvulo Esmeraldo 90 anos foi uma das atividades educativas realizada pelo Instituto no Crato em parceria com a Universidade Regional do Cariri (URCA). As residências e os cursos também integram a programação que o centro cultural ofertará em Fortaleza.
Neste 2021, o Instituto Sérvulo Esmeraldo pretende realizar o Festival Sérvulo Esmeraldo em setembro se a vacinação no Estado tiver avançado. "É um festival que prioriza muito o intercâmbio entre artistas, estudantes, público. Não podemos prever muito por causa da pandemia, mas o Instituto segue trabalhando", finaliza Dodora.