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Filme aborda mitologias e narrativas fantásticas das regiões ribeirinhas
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Filme aborda mitologias e narrativas fantásticas das regiões ribeirinhas

"Coro D'Osun" apresenta o processo de materialização da escultura de sereia, feita por um artista plástico cearense, e conta histórias das regiões ribeirinhas do Ceará
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O projeto 'Coro D'Osun - Quimera Dos Rios Intermitentes', materializa a figura da sereia em seu documentário. (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação O projeto 'Coro D'Osun - Quimera Dos Rios Intermitentes', materializa a figura da sereia em seu documentário.

Com artes visuais, performance, fotografia e audiovisual, o documentário "Coro D'Osun - Quimera Dos Rios Intermitentes" traz o universo fantástico e religioso das regiões ribeirinhas do Ceará. Na obra é materializada uma sereia de 1 metro e 40 centímetros, feita pelo artista plástico cearense, Davi Ângelo. O documentário estará disponível a partir de hoje, 15 de março, no Youtube.

O projeto, com o apoio da Lei Federal nº 14.017, Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural, retrata os mitos, crenças e a herança religiosa incorporada aos acontecimentos nos ciclos de cheias e secas dos rios no norte do Ceará. O documentário foi dividido em dois vídeos, disponíveis a partir do dia 15 de março, no canal do YouTube e demais redes sociais de Davi. Também é possível agendar um horário no ateliê do artista, em Sobral, para conhecer gratuitamente a escultura de sereia.

Além de artista plástico, Davi Ângelo é performer, pesquisador e membro do coletivo artístico Klangopreá. Iniciou a trajetória artística em 2009, a partir de experimentações com argila, retirada do açude Araras e dos rios que desaguam nele, próximos à comunidade onde ele vivia, em Pires Ferreira, Ceará. A obra "Coro D'Osun" foi inspirada pelos seus 10 anos de estudo sobre o folclore brasileiro e com ela, Davi busca resgatar as memórias e tradições da população ribeirinha.

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O artista conta que sempre foi muito encantado pelo rio e ao elaborar a escultura, não fez uma sereia convencional, e sim uma criatura híbrida com outros animais marinhos. "A escultura não retrata uma sereia como é descrito em muitos livros e contações de história, porque eu gosto muito de trabalhar essa forma orgânica do ser enquanto criatura e não do ser enquanto apenas do imaginário. Nas obras, essas criaturas estão mais grotescas, mais animalescas, e essa criatura que provoca essa estranheza é o meu lugar de interesse dentro da produção", diz ele.

No documentário, Davi mostra o processo de confecção, em busca de sanar uma curiosidade que ele mesmo tinha no início da carreira, de saber como as peças eram produzidas. Desde as primeiras obras, ele expõe seu trabalho em blogs para repassar suas técnicas. "O documentário começa pela necessidade de mostrar a misticidade que está por trás do processo de confecção, que é bem interessante e não deixa de ser um processo mágico e que muitas vezes o público desconhece completamente. Então, fazer o público conhecer o processo da confecção e conhecer a obra final, eu acho que isso agrega mais encantamento a escultura", explica ele.

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A sereia demorou quase um mês para ser finalizada e o artista plástico utilizou silicone para produzir a peça, devido ao aspecto macio e maleável do material, que deixa mais semelhante à pele humana. Ele conta que passou por quatro etapas de construção, que incluíram fazer estruturas de isopor, cobrir com massa de modelar, fazer molde de resinas diversas e, por fim, um molde onde ele deu forma à pele final.

A produção também conta com pessoas que tiveram vivências e histórias com o rio. Algumas delas cresceram vendo a mãe lavar roupas nas águas do rio para poder manter a casa e pagar as contas. Para ele, o projeto valoriza as tradições regionais e engrandece as dádivas da natureza. "A beleza da vida está na forma contínua e adaptável da natureza, está presente nos rios e nas formas mais antigas que a humanidade encontrou sobre como explicar tudo que estava a sua volta, ainda que de maneira lúdica. As simbologias e crenças são a admiração pela beleza de tudo que é vivo e transitório", diz ele.

O documentário também permite vivenciar a cultura do rio nesse momento em que as pessoas têm a necessidade de ficar em casa. Para Davi, é uma maneira de celebrar a presença do rio, que trazem fartura e as lendas do folclore em seus ciclos. "O documentário possibilita ver o rio com respeito, de ter essa imagem sagrada do rio pela riqueza que proporciona e celebrar essa vida que está em torno dele. Essas fontes locais de fluxo de água estão sempre atreladas a muitas memórias, tanto de sustento quanto de brincadeiras de infância", comenta o artista.

Coro D'Osun

Data: lançamento hoje, 15
Local: YouTube e demais redes sociais de Davi Ângelo
Exibição gratuita

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